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Carolina Larriera fala de filme 'Sergio' e faz críticas à conduta da ONU

Sergio Vieira de Mello ao lado de Wagner Moura o representando no filme "Sergio" - Reuters e Divulgação/Netflix
Sergio Vieira de Mello ao lado de Wagner Moura o representando no filme 'Sergio' Imagem: Reuters e Divulgação/Netflix

Do UOL, em São Paulo

30/04/2020 16h40

Carolina Larriera, economista e ativista pelos Direitos Humanos, fez um desabafo em seu Twitter e criticou a Organização das Nações Unidas (ONU). Com a repercussão do filme "Sergio", que retrata a biografia do diplomata Sérgio Vieira de Mello, ela relatou a conduta da instituição após o ataque a sua sede em Bagdá, em 2003, no qual seu ex-marido foi uma das vítimas fatais.

Em abril, o filme estrelado por Wagner Moura foi lançado pela Netflix com direção do americano Greg Baker.

"Após o impacto positivo da estreia do filme "Sergio", queria compartilhar um pouco sobre quem realmente era Sérgio Vieira de Mello, mas acima de tudo narrar o que realmente aconteceu depois do ataque de Bagdá 2003. Estávamos juntos havia mais de 3 anos quando a bomba explodiu", escreveu Carolina antes de iniciar uma sequência de tweets com seus relatos.

Ela contou um pouco de suas histórias até o dia do atentado que culminou na morte de Sérgio.

"Em 19 de agosto de 2003, ocorreu o primeiro e pior ataque à ONU em toda a sua história: uma bomba, 200 feridos, 22 mortos. Sergio ficou preso: tentei libertá-lo, mas sem qualquer equipamento, ele padeceu após 4 horas. Uma parte de mim também permaneceria sob os escombros daquele edifício".

Na sequência, ela relatou a conduta da ONU, que teria privado seus direitos como funcionária e viúva.

"Até hoje não consigo lembrar daquele dia e suas consequências sem tremer e sentir calafrios. Em um piscar de olhos, a vergonha por ter sido alvo de aquele ataque revelou a cara mais feia das #NacoesUnidas #ACNUDH".

"Com a desculpa de não ser formalmente 'casados' e dentro 'política invisibilidade' do fracasso-ONU me privou de direitos como funcionária e família. O mais interessante é que, mesmo depois que nossa união civil foi reconhecida por lei, nada mudou. Por quê? O que eles estão protegendo?", questionou.

"Ainda sob choque do atentado ao qual sobrevivi, de repente me vi inexplicavelmente removida das listas de sobreviventes. Além do estresse pós-traumático da explosão e da morte de Sergio e amigos, tive que lidar com o desumano abandono absoluto da mesma ONU que nos havia enviado".

Carolina também contou como foi o processo de reconstrução de sua vida.

"Compreensivelmente, o filme Sergio não iria lidar com esses problemas. Mas estes anos foram muito difíceis: voltei ao Brasil (pátria de Sergio que me reconhece como sua viúva) e à Argentina e comecei a reconstruir minha vida. Gilda, mãe de Sergio, cuidou de mim em sua casa no Rio".

Ela seguiu com as críticas à instituição. "Poderia pensar que, como jovem viúva e vítima do terror, encontraria alguma simpatia. Pelo contrário, a ONU me negou ajuda quando eu mais precisava, encaminhando-me em um emaranhado burocrático onde eles são ambos juiz e parte interessada".

Ao finalizar seu relato, ela escreveu: "Uma vez ele me disse: 'Vamos com confiança. O resto chega por conta própria'. Então aqui estou. Eu precisava escrever essas linhas para lembrá-lo, mas também para transmitir mensagens nestes tempos difíceis de covid-19 que estão nos desafiando, e compartilhar sua força e amor para continuar".

O relato completo está no perfil no Twitter da economista.