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Youtuber mostra que, com fone e notebook, qualquer um pode fazer música pop

O youtuber e músico Rodrigo Souza, o Rô - Reprodução
O youtuber e músico Rodrigo Souza, o Rô Imagem: Reprodução

Leonardo Rodrigues

Do UOL, em São Paulo

07/04/2020 04h00

O youtuber gaúcho Rodrigo Souza, 22 anos, conhecido como Rô, tinha —e ainda tem— o sonho de ser reconhecido por sua música autoral, mas até o ano passado seu canal estava estacionado em número de inscritos. Foi então que ele teve a ideia: por que não tentar recriar o mais perfeitamente possível, no intervalo de uma hora, os sucessos que estão bombando no pop?

A série de vídeos, batizada de "Desafio Sonora", deu mais do que certo. Desde maio do ano passado, seu canal só cresce na onda de Alok ("Hear me Now"), Imagine Dragons ("Radioactive"), Billie Eilish ("Bad Guy"), Justin Bieber ("Yummy") e Post Malone ("Better Now" e "Sunflower"). O vídeo mais assistido, "Lalala", do rapper bbno$ com o produtor bbno$m, já teve mais de 490 mil visualizações.

Mas o que ele faz exatamente?

Rô, que é formado em publicidade e propaganda, inspirou-se no youtuber holandês Simon de Wit, do canal Music by Blanks. A ideia é refazer um hit de forma didática, usando apenas um computador e os equipamentos que ele tem à mão em casa, incluindo uma "guitarra de R$ 700". Ele conta que praticamente todo seu conhecimento foi adquirido "na raça", assistindo a tutoriais e vídeos de graça espalhados no YouTube —a maioria em inglês.

'Bedroom pop'

"Fiquei bons seis anos aprendendo sozinho na internet, estudando algumas horas por dia, até me sentir seguro para criar a série. No ano passado, comprei um ou outro curso sobre algum tópico específico de produção, mas foi isso. Qualquer um pode fazer", diz ao UOL Rô, que se especializou em versões do chamado "bedroom pop", o pop de produção mais enxuta e "caseira", mas que nem por isso deixa de ser complexo.

O que é preciso

Você está com mais tempo livre em casa e quer tentar fazer parecido? Segundo Rô, você vai precisar de:

  • o mínimo de conhecimento musical
  • notebook ("não precisa ser Apple") e um bom fone de ouvido
  • instrumentos como violão, guitarra e microfone, além de um controlador midi --basicamente o "tecladinho que te permite ter mais controle dos sons no computador"
  • uma interface de áudio, que permita plugar microfones e instrumentos em linha
  • um bom software de gravação e edição (Rô usa o Ableton Live)
  • boa noção de inglês
  • bom ouvido
  • paciência para estudar sonoridades, timbres e texturas

É possível, mas não é fácil

Em sua série, que já conta com 19 episódios, Rô penou várias vezes, como na hora acertar as notas de "Hear me Now" no violão, na hora de encontrar no computador o som acústico da bateria de "Sweater Weather" (do The Neighbourhood) e, pelo menos no início, de fazer as músicas ficarem parecidas com as originais. "A do Tiago Iorc, por exemplo, 'Nessa Paz Eu Vou', não ficou muito igual. Mas fiz às pressas. Foi um aprendizado."

O maior orgulho

Segundo o youtuber, sua versão favorita é a de "Fireflies", do projeto Owl City. Não por ter ficado mais fiel ou por ter dado mais trabalho, mas porque era uma de suas músicas favoritas na infância. "Se o Rô de dez anos atrás pudesse olhar o de hoje e perceber que ele consegue recriar de maneira mais ou menos fiel a música que eu amava, ele ficaria muito orgulhoso."

'O que aprendi com a experiência'

O pop internacional ficou fácil e simples demais a ponto de ser reproduzido em casa? Rô discorda dessa teoria. Para ele, foi o estúdio que se aproximou de pessoas comuns com o avanço tecnológico. Há anos, o ambiente da produção musical vem deixando de ser um bicho de sete cabeças, exclusivo a músicos, pessoas superespecializadas ou apenas muito ricas. Afinal, como assevera Lucas Silveira em seu curso, "todo mundo é especialista na música que gosta."

'O que aprendi com a experiência', parte 2

Além de ter aprendido muito sobre estrutura da canção pop, que é praticamente fixa, Rô ainda cristalizou convicções dos tempos em que tocava na noite em Santa Maria (RS), algo que desistiu de fazer devido à alta demanda por covers por parte de contratantes. Por exemplo: utilizar autotune —ferramenta de programas de edição que corrige a afinação de cantores, largamente empregada no pop— não é demérito para ninguém.

Praticamente não existe artista que canta 100% no tom. Autotune é bem necessário no pop. E é uma questão de sentir que a ferramente se encaixa à estética do artista. Não acho que atrapalhe a música contemporânea. Só auxilia.

E daqui para a frente?

Apesar do sucesso do "Desafio Sonora", Rô planeja focar em sua carreira musical. Ele já tem um EP em inglês e diversos singles lançados na internet. "O canal é uma forma que encontrei de chegar rápido ao público. Espero não ter de fazê-lo para sempre, porque quero muito um dia viver de música autoral. Mas, por enquanto, ele é meu ganha-pão", releva o youtuber, que tem 136 mil seguidores (a maioria deles vindos após o lançamento do desafio) e que, recentemente, participou de um festival online.

Antes do fim, um segredinho

Você deve estar se perguntando como é possível reproduzir tão bem uma música tendo apenas uma hora para entendê-la e encontrar os recursos digitais necessários para isso. A verdade é que não é bem isso. "Eu termino o vídeo em uma hora e depois fico mexendo nas músicas, em aspectos técnicos que às vezes não são muito interessantes para mostrar no vídeo e gerar entretenimento. No fim, dá um pouco mais de uma hora."