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OPINIÃO

'Tiger King - A Máfia dos Tigres' parece ficção exagerada, mas é vida real

Mariana Tramontina

Colaboração para o UOL

28/03/2020 04h00

Em tempos em que nada parece muito normal, uma história insana pode até soar natural. E é essa sensação de que a realidade é mais estranha do que a ficção que fica ao assistir o surreal "A Máfia dos Tigres" (ou "Tiger King" em inglês), um documentário dividido em sete partes, de cerca de 40 minutos cada, que estreou na Netflix esta semana.

Ao falar sobre a máfia de tigres e animais selvagens nos Estados Unidos, a série documental se concentra na trama de Joe Exotic, nome artístico de Joseph Maldonado-Passage. Ele é um excêntrico e carismático empresário, dono de um zoológico em Oklahoma, gay, polígamo, cantor country amador, com uma fixação pela fama, dono de uma coleção de armas e um característico mullet platinado.

Joe Exotic - Divulgação - Divulgação
Joe Exotic
Imagem: Divulgação

Em uma fazenda, ele cria mais de 1.200 bichos selvagens, entre tigres, leões, jacarés, ursos e chimpanzés. Eles são domesticados para que possam ter proximidade com o público, que paga pela experiência de acariciar um filhote ou tirar selfies. Um negócio lucrativo. Essa exploração chamou a atenção de Carole Baskin, uma ativista dos direitos dos animais que vive na Flórida e, lá, mantém o Big Cat Rescue, que ela chama de santuário para animais vítimas de abuso.

Enquanto Carole gasta milhões de dólares, herdados de seu ex-marido (desaparecido misteriosamente, em uma trama paralela bem maluca), para acabar com o zoológico de Joe Exotic, ele, por sua vez, entra numa caçada para tentar provar que a ativista age com hipocrisia ao manter seu refúgio com bichos presos e ainda explorar mão de obra de voluntários.

Carole Baskin - Divulgação - Divulgação
Carole Baskin, a ativista dos direitos dos animais
Imagem: Divulgação

Os diretores Eric Goode e Rebecca Chaiklin (sob produção do mesmo estúdio que lançou "Fyre Festival", outro documentário intrigante) começam pelo fim: Joe está preso por, supostamente, ter orquestrado um plano de assassinato por aluguel contra Carole, além de uma série de violações da lei. Revelar mais do que a rivalidade obsessiva entre os dois pode frustrar as demais surpresas que o documentário desenrola.

A história é entrelaçada por uma série de personagens excêntricos que vivem à margem da sociedade. Há o magnata que age como líder de um culto sexual, o produtor de TV que se muda para o zoológico para criar um reality show, o vigarista que aplica um golpe bem covarde. Cada um deles que vai aparecendo traz uma peculiaridade e adiciona ainda mais intriga.

Ninguém ali é mocinho, todos andam em areia movediça o tempo todo. E, por meio dos animais, revelam a imperfeita natureza humana ao lidar com poder, ego, dinheiro, moralidade, ganância, justiça e a falta dela. Quando você acha que a narrativa já está deplorável o bastante, ainda pode piorar. Em um momento você está passando raiva com o que vê; em outro, está rindo dos absurdos que parecem ficção.

"A Máfia dos Tigres" entrega entretenimento e é fascinante tanto por seus personagens quanto por seus casos de mistério. É importante lembrar que ali também está uma história real de crime, envolvendo exploração de bichos em extinção, fraudes e até encomenda de assassinato. Ainda que pareça um esquete de humor exagerado, é só a vida real. E, por isso mesmo, irresistível.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL