Super Bowl LIV: J.Lo, Shakira e Demi erguem "latin power" em ano eleitoral
O intervalo do Super Bowl LIV, que acontece hoje à partir das 20h30, com transmissão na ESPN e cinemas, é um dos mais simbólicos da história do evento. Seu tradicional show musical será feminino, protagonizado por duas cantoras de peso e com origem latina: Jennifer Lopez, filha de porto-riquenhos, e a colombiana Shakira. De "brinde", o hino nacional americano, momento mais solene do acontecimento que é a final da NFL, a Liga Nacional de Futebol Americano, será entoado pela diva teen Demi Lovato, de ascendência mexicana.
Essas escolhas não aconteceram por acaso e significam muito. Estamos em ano de eleições presidenciais nos EUA, e o discurso anti-migração de Donald Trump, tantas vezes acusado de misoginia, vem sendo cada vez mais posto em xeque por setores da sociedade americana e por grande parcela da comunidade internacional. Isso posto, é importante destacar: o Super Bowl é um negócio bilionário, e o evento, que reconheceu seus erros na edição 2019, e está tentando dar a volta por cima.
No ano passado, com uma final morna disputada entre New England Patriots e Los Angeles Rams, os organizadores apostaram em musicais de Maroon 5, Travis Scott, Big Boi —uma banda que já viveu o auge e dois rappers desconhecidos para muita gente—, e o risco assumido resultou em queda de audiência dos Estados Unidos, a menor em 11 anos. Desde 2015, quando registrou recorde de 114,4 milhões de telespectadores, o Super Bowl vê seu público cair ano a ano.
O que fazer? Recorrer a "máquinas de dinheiro"
Nada mais natural, portanto, que este ano o evento tenha escalado artistas pop de apelo massivo, com seguidores de várias gerações. Mesmo sem lançar disco desde 2014, J.Lo, nunca teve problemas em manter-se em evidência nos EUA. No ano passado, ficou noiva do ex-astro do Yankees Alex Rodriguez e esgotou ingressos com turnê mundial It´s My Party, além de ter completado 50 anos como um dos grandes ícones do pop, em várias plataformas. Soma-se a isso a credencial de ter se apresentado na cerimônia de abertura da Copa do Mundo de 2014, no Brasil, que bateu recorde de audiência mundialmente.
Shakira tem apelo semelhante. Casada com o jogador de futebol espanhol Gerard Piqué, ela é um nome global, também ligado ao esporte, e, diferentemente de J.Lo, ainda conta com uma sólida carreira cantando em espanhol, em mais um aceno à gigantesca comunidade latina do país. Com mais de 75 milhões de álbuns vendidos, a colombiana é uma das cantoras que mais lucraram na história, a latina mais ouvida do Spotify e uma das três a ter dois vídeos com mais de 2 bilhões de visualizações no YouTube. Todos querem Shakira, e ela sabe escolher seus projetos com a assertividade das melhores empresárias.
Demi Lovato, 27 anos, que cantará o hino nacional, é o amuleto latino da noite, e o mais ousado. Também é a chance do Super Bowl rejuvenescer e falar diretamente com o público jovem e adolescente, maior consumidor de música e entretenimento na era do streaming. Não bastasse seu êxito comercial na última década, a ex-Disney Channel chega trazendo a narrativa da superação ao evento, já que está voltando aos palcos após sofrer uma overdose em 2018. Quanto maior a personificação do drama, maior a atenção a história desperta, como já indicou a bem-sucedida apresentação de retorno, no Grammy.
Impossível cravar que as mulheres conseguirão "salvar" a audiência do Super Bowl, que, mesmo ainda alta, nunca caiu por tanto tempo. É preciso reconhecer que, nesse caso, contam fatores alheios à música, incluindo os hábitos do público americano, cada vez mais crítico, digital e interessado em outros esportes. Uma grande partida é fundamental para cativar o público. O "buzz" criado pelos trailers e comerciais com astros do cinema exibidos também ajuda, assim como a qualidade dos shows. Mas, no depender deste último quesito, 2020 pode ser o ano da virada para o Super Bowl.
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