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Terry Gilliam: EUA "têm grande dívida com Hitler" por imigrantes judeus

O cineasta Terry Gilliam - Neil Hall/Reuters
O cineasta Terry Gilliam Imagem: Neil Hall/Reuters

Do UOL, em São Paulo

24/01/2020 09h52

Resumo da notícia

  • Terry Gilliam disse que os EUA "têm uma dívida com Hitler"
  • Diretor estava falando de imigrantes judeus que fugiram do nazismo para o país
  • "Eles criaram os EUA como conhecemos. Todos os grandes filmes, tudo", definiu

O cineasta Terry Gilliam acha que os EUA, e especialmente Hollywood, "têm uma grande dívida com Hitler" por conta dos imigrantes judeus que foram para lá fugindo do regime nazista do ditador alemão. O diretor deu a declaração em entrevista à NME.

Gilliam, ex-membro do Monty Python e diretor de clássicos como Brazil: O Filme (1985), estava comentando sobre sua oposição à retórica anti-imigração de muitos políticos de direita no Reino Unido, seu país natal.

"Londres se beneficiou muito com a imigração. Idi Amin [ditador de Uganda] costumava ser um 'herói' para mim, e por favor escreva isso entre aspas, porque muitas pessoas do país dele vieram para cá, e agora as lojas ficam abertas até a meia-noite, e temos um restaurante de kebab decente", disse.

"É por isso que sempre digo, também, que os EUA têm uma grande dívida com Hitler, e Hollywood particularmente. Por causa dele, todos os Billy Wilder's [diretor de filmes como Quanto Mais Quente Melhor], todos os judeus, foram para lá e criaram os EUA, basicamente, como o conhecemos hoje. Todos os grandes filmes, tudo isso", refletiu.

"Então, eu acho que [regimes repressores] sempre tem um lado bom em algum lugar do mundo. Não sei onde será o lado bom do que está acontecendo no nosso país hoje em dia. Quem vai se beneficiar?", questionou ainda.

Weinstein e Coringa

Gilliam também opinou sobre um dos assuntos mais falados de Hollywood: o julgamento de Harvey Weinstein por acusações de assédio sexual e estupro. O cineasta trabalhou com o produtor em Os Irmãos Grimm (2005), e os dois famosamente tiveram muitas brigas durante as filmagens.

"O poder corrompeu [Harvey]. Ele podia fazer o que quisesse. De longe, nós observávamos e esperávamos alguém derrubá-lo, perguntando: 'como ele consegue?'. Eu odiava Harvey, mas nós sabíamos que não deveríamos mandar nenhuma garota para uma reunião com ele", comentou.

"Todo mundo sabia disso. Isso é o que me incomoda, a hipocrisia das pessoas em Hollywood que dizem que não sabiam de nada. Me poupem", completou.

O diretor comentou ainda sobre Coringa e a leva de "blockbusters inteligentes", como definiu. Gilliam, no entanto, não achou o longa de Todd Phillips particularmente interessante.

"Eu não tenho certeza do que o filme quis dizer. Eu achei bizarro que alguém estava fazendo um filme social e realista sobre um personagem de desenho", brincou. "Quando um personagem de desenho se torna algo que você pode venerar, algo que gera conversas profundas, é preocupante".