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"Amigo de cachaça" apelidou Reinaldo de Príncipe do Pagode

Reinaldo, o Príncipe do Pagode - Alexandre Macieira/Riotur/Divulgação
Reinaldo, o Príncipe do Pagode Imagem: Alexandre Macieira/Riotur/Divulgação

Marcela Ribeiro

Do UOL, no Rio

18/11/2019 15h22

Resumo da notícia

  • Segundo Reinaldo, um amigo locutor de rádio foi o responsável pelo batismo
  • O cantor morreu vítima de uma parada cardiorrespiratória em SP
  • Reinaldo lutava havia quatro anos contra um câncer no pulmão

O cantor Reinaldo, morto na madrugada de hoje aos 65 anos após sofrer uma parada cardiorrespiratória, explicou a origem do apelido Príncipe do Pagode que o acompanhou ao longo da maior parte dos mais de 35 anos de carreira. Há um ano, em entrevista ao Conversa com Bial, ele revelou que um locutor de rádio, que era seu amigo, foi o responsável pelo batismo.

"Na rádio Manchete tinha o programa Sambalanço, que São Paulo parava para ouvir. O cara [locutor] era meu amigo de cachaça. Ele falava: 'Preciso arrumar um título para você'. Eu disse: 'Fala só Reinaldo, mas toca a minha música'. Um dia estou em casa, ele fala: 'Agora vamos ouvir na voz do Príncipe do Pagode, Retrato Cantado de um Amor'. Liguei pra ele e falei: 'Os caras vão ficar chateados'. Ele disse: 'Você é mesmo, devia ser o rei'. Eu falei: "Não, está bom!'", explicou aos risos.

Reinaldo lançou seu primeiro disco após ser descoberto, em 1986, por Neoci, fundador do Fundo de Quintal, que foi a uma roda de samba dele em São Paulo, acompanhado de Beth Carvalho e ficou encantando com a sua voz.

"Quando ele me viu cantando, ficou louco, me perguntou se eu queria gravar um disco. Em menos de um mês, a gente já estava com o disco pronto. Gravei logo Retrato Cantado de um Amor e foi um sucesso", contou em entrevista ao canal do YouTube de Leandro Brito, em maio deste ano.

O artista gravou mais de 15 discos e, apesar de ser natural do Rio de Janeiro, dizia que era mais paulista do que carioca, já que vivia havia 37 anos em São Paulo.

Música ajudou Reinaldo durante luta contra câncer

Reinaldo, que lutava havia quatro anos contra um câncer de pulmão com metástase (quando a doença se espalha para outros órgãos), mostrou seu amor à vida até o último momento. Por recomendação médica, precisou reduzir a agenda de shows mensais de 25, para 15 apresentações, mas não abriu mão de cantar.

Às vezes estava caído na cama e levantava para ir para o show. Chegava de begala, andando mal, subia no palco, começava a cantar, ia tudo para casa do caramba. A música foi muito importante no meu tratamento.

Ele estava esperançoso desde que iniciou um tratamento alternativo com imunoterapia e foi cobaia de uma pesquisa nova dos Estados Unidos. "Você acha que foi decretada a sua morte. Quando o médico fala, parece que ali é o fim da linha e de repente você vê um remédio mudar sua vida."

Mesmo debilitado, ele estava otimista e confiante na sua recuperação. "Imagina o que vai ser minha vida quando eu chegar e falar: 'Gente, estou curado'. Vou ter que ir 15 vezes a Aparecida do Norte a pé, vou ter que ir em um monte de terreiro, uma porrada de igreja de crente, mas com satisfação".

Reinaldo recebeu a visita do seu cachorro Samba no hospital - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Reinaldo recebeu a visita do seu cachorro Samba no hospital
Imagem: Reprodução/Instagram

Flamenguista, humilde e despojado, Reinaldo sempre preferiu manter a vida com discrição e diz que não se importava em ser o último a se apresentar em um show.

"Muitos acham até que sou besta. Não sou, sou humilde. Tenho noção do tamanho do meu nome, da minha humildade. Mas eu cresci assim, venci assim. Se o samba inteiro quiser ficar tirando foto, vou ficar ali até 6h da manhã. Se as pessoas foram lá, é porque elas gostam."

Reinaldo admitiu que abusou do consumo de cigarro e álcool ao longo da vida. "Hoje não bebo por causa dos remédios, eu bebia muito, fumava demais, cantava fumando, bebia uma garrafa de uísque. As pessoas falavam: 'Para de fumar, sua voz é tão bonita'. Chegou a doença, não pude nem ficar com raiva de Deus", contou.

Em setembro ele ficou internado por conta de complicações da doença, entre visitas de amigos e familiares, uma especial alegrou o artista: o cachorro Samba. "Recebendo uma visita muito importante, meu melhor amigo", escreveu o cantor.

Reinaldo não interrompeu shows durante tratamento

Band Entretenimento