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OPINIÃO

The Morning Show: Jennifer Aniston brilha com drama em série da Apple

Steve Carell e Jennifer Aniston em The Morning Show  - Divulgação
Steve Carell e Jennifer Aniston em The Morning Show Imagem: Divulgação

Beatriz Amendola

Do UOL, em São Paulo

03/11/2019 04h00

The Morning Show, o drama estrelado que a Apple escolheu para conduzir o lançamento de seu streaming, o Apple TV+, patina em vários momentos dos três primeiros episódios disponibilizados com antecedência aos jornalistas. Nenhum deles, porém, é capaz de ofuscar aquela que prova ser sua maior estrela: Jennifer Aniston, em seu retorno triunfal à TV.

A atriz, que após o fim de Friends (1994-2004) investiu em uma carreira cinematográfica baseada principalmente em papéis cômicos, exercita suas habilidades para o drama no papel de Alex Levy, apresentadora de um programa matinal que é pega de surpresa quando seu colega de bancada, Mitch Kessler (Steve Carrell) é demitido após acusações assédio sexual.

Cabe a Alex conduzir o programa em meio ao turbilhão, enquanto renegocia seu contrato com executivos que a consideram uma mercadoria cuja data de validade está prestes a expirar. Exausta, ela resolve retomar o controle da situação — mesmo que não saiba os passos exatos para chegar lá. Aniston entrega uma atuação poderosa, que brilha especialmente nos monólogos dados a ela. Sua Alex passa pela frustração, pelo cinismo, pela raiva, pela tristeza, e a atriz consegue captar bem cada uma dessas emoções, criando uma personagem multifacetada que pode não ser sempre uma boa pessoa, mas é sempre interessante de se ver na tela.

Ela divide o protagonismo (e a função de produtora executiva) com Reese Whiterspoon, que interpreta Bradley Jackson, jornalista de uma emissora local que ganha fama nacional depois que um vídeo em que ela confronta um manifestante se torna viral. Espontânea e desbocada, ela desperta o interesse de Cory Ellison (Billy Crudup, ótimo), um dos chefes da emissora de Levy. Whiterspoon é uma presença forte em cena, mas acaba limitada pelo roteiro, que parece hesitante ao definir a personagem e não se aprofunda nela - pelo menos por enquanto. As (poucas) cenas em que ela e Aniston estão juntas funcionam muito bem, o que é um indicativo positivo para o futuro da série, já renovada para uma segunda temporada.

Em seus primeiros episódios, no entanto, The Morning Show sofre para encontrar um equilíbrio entre as duas, porque há simplesmente muita coisa acontecendo: além do drama de Alex no programa, acompanhamos as maquinações de Cory, os dramas de Alex e Bradley com suas respectivas famílias, e várias subtramas dos bastidores do programa matinal que está no centro de tudo, incluindo a rotina do showrunner Chip (Mark Duplass), oscilante entre as pressões de Alex e Cory, e as expectativas dos outros jornalistas que estão de olho na vaga recém-aberta.

Há, também, as cenas de Mitch Kessler, que incorporam o maior problema de The Morning Show: o aparente desconforto da série com o #MeToo, o movimento de denúncias contra o abuso e o assédio sexual que derrubou magnatas como o produtor Harvey Weinstein. A série parece simpatizar demais com Kessler, inclusive nas reclamações dele de que o #MeToo tenham ido "longe demais" - sensação agravada pelo fato de a produção não fornecer mais informações sobre as acusações contra ele.

Ao fim da primeira leva de episódios, porém, The Morning Show é intrigante e interessante o suficiente para despertar a vontade de continuar assistindo - o que é imprescindível para uma série que terá episódios disponibilizados semanalmente e que precisa pagar um investimento de altos US$ 15 milhões por episódio. Fica a expectativa para que venham muitos bons momentos de Jennifer Aniston e Reese Whiterspoon para que a série consiga cumprir plenamente seu potencial.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL