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"Não tenho tido inspiração para compor, não" diz Milton Nascimento

Show de Milton Nascimento no Rio - Roberto Filho/Brazil News
Show de Milton Nascimento no Rio Imagem: Roberto Filho/Brazil News

Do UOL, em São Paulo

22/09/2019 18h23Atualizada em 23/09/2019 12h21

O músico e compositor Milton Nascimento anda "triste com a vida". "Não com a minha vida, mas com o geral. Quero acreditar, mas não acredito muito no mundo. Principalmente na burrice, na política", disse ele em entrevista à Folha de S. Paulo publicada hoje. "Para compor não tenho tido inspiração, não", afirmou Milton.

Bituca, apelido que adquiriu ainda criança por conta da sua expressão facial quando era contrariado, afirmou entretanto que cantar ainda lhe anima. "Eu não consigo compor, mas gosto de cantar. Isso eu não quero parar nunca."

O músico revelou que teve como inspiração inicial para suas composições uma sessão do filme Jules e Jim, do cineasta francês François Truffaut. "Quando acabou [o filme], falei: 'Marcinho [Márcio Borges, letrista], vamos para a casa dos seus pais que hoje vamos começar a compor'. Comecei por causa desse filme."

Entre as muitas histórias que acumula, o músico pontuou algumas ao jornal, incluindo um encontro com o ex-presidente do Uruguai, José Pepe Mujica.

"Fomos tocar no Uruguai. A gente estava louco para conhecer o Mujica. Chegamos lá e soubemos que ele estava louco para conhecer a gente. Fomos à casa dele. É uma coisa incrível porque você não acredita que um presidente possa morar em uma casa tão simples", diz.

O cenário político brasileiro foi um dos assuntos trocados entre eles. "Uma hora ele perguntou para mim: 'Como está a política no Brasil?' Eu falei: 'Tá uma merda. Dá vontade até de parar de tocar'. Ele respondeu: 'Não. Nunca pare de cantar. Porque a música é a coisa que pode salvar o mundo'."

Na conversa, Milton teceu críticas à atual conjuntura musical do Brasil. "A música brasileira tá uma merda (...) As letras, então. Meu Deus do céu. Uma porcaria (...) Não sei se o pessoal ficou mais burro, se não tem vontade [de cantar] sobre amizade ou algo que seja. Só sabem falar de bebida e a namorada que traiu. Ou do namorado que traiu. Sempre traição.", diz Bituca.

O músico, todavia, citou nomes como Maria Gadú e Tiago Iorc como exemplos positivos da geração contemporânea do país. "Tem o Criolo também, mas ele não é tão novo.", completa Milton.