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Atriz detalha como seita sexual recrutou mais de 2 mil pessoas

Sarah Edmonson - Ruth Fremson/The New York Times
Sarah Edmonson Imagem: Ruth Fremson/The New York Times

Do UOL, em São Paulo

17/09/2019 13h47

A atriz Sarah Edmondson deu detalhes em entrevista à Refinery29 sobre como participou do Nxivm, culto com escravos sexuais, que fez o líder do grupo, Keith Raniere, ser preso e envolvia outras personalidades como Allison Mack e Kristen Kreuk. Segundo a canadense, ela chegou a ser responsável por recrutar pessoas, que chegaram ser em mais mais de duas mil.

Edmonson escreveu um livro de memórias, Scarred, e o inicia falando da cerimônia de iniciação da Nxivm. "Eu decidi começar por aí porque acho que foi a coisa mais maluca que aconteceu comigo - deitar nua em uma mesa, ter alguém queimando minha pele. O objetivo foi colocar os leitores no lugar correto, e acho que começar explicando que eu entrei para uns seminários de desenvolvimento pessoal seria: 'Mas qual o problema?'. Essa é a natureza de como um culto te pega - começando devagar e prometendo realizar seus objetivos. Se alguém tivesse me falado no começo: 'Ei, Sarah, podemos te marcar com as iniciais dos nossos líderes no seu corpo?', eu teria falado que aquilo era maluquice.

Sarah teve uma relação de mestre/escravo com um dos membros principais do culto, Lauren Salzman, a quem teve de mandar fotos nuas. "Eu sei. Se não tivesse sido comigo, eu estaria dizendo: 'Que idiota? Por que ela não apenas saiu?'. Doutrinação é algo incrivelmente poderoso. Se você olhar o ritual de marcação, eles convencem você de que você está triunfando sobre suas fraquezas. É semelhante a relações abusivas."

A canadense explica que era uma mulher nos seus 20 e tantos anos e que ainda tentava entender o que fazer na vida. Já atuava, mas não se sentia completa, o que a fez vulnerável. Cheia de ideais, foi por aí que começou a ser explorada pelo Nxivm.

Um dos centros do culto em Vancouver foi apelidado de 90210, por ter muitas atrizes. "Os seminários, no começo, tratavam muito do que atores lidam, em termos de confiança e se sentir validado. Eu sentia que estava indo bem para mim, fui a mais audições, deixei minhas pílulas para dormir...".

Sarah explica que tudo começava com conversas básicas. Na entrevista à Refinery29, ela questiona a jornalista sobre o que ela poderia melhorar na carreira para crescer mais. "Eu poderia ser mais organizada, me promover melhor", diz a entrevistadora.

"Ok, ótimo. E se eu disser que você pode ter aulas que vão te ajudar a resolver esses problemas pela raíz e como trabalhar seu passado com eles? Você poderia deixar de ser parte do problema e começar a ser parte da solução, pagando apenas US$ 2.500", diz Sarah. Questionada se não é um valor alto demais, ela admite: "Absolutamente. Eu era uma atriz sem trabalho quando paguei. Eu tinha o dinheiro? Não. Mas vale 1000% a pena?".

keith - Reprodução - Reprodução
Keith Raniere, acusado de liderar a seita Nxivm
Imagem: Reprodução

Sarah continua explicando como recrutava as pessoas. Além desta forma de convencimento, tinha outra tática. Ela dizia: "É, então talvez naõ seja para você. Talvez as coisas estejam funcionando bem assim na sua vida", numa forma de psicologia reversa.

"Tenho muita culpa pelas pessoas que eu trouxe para o culto, mas se tem uma coisa que posso ficar tranquila é que nunca menti."

A atriz diz que Raniere era deificado dentro do culto e, para conhece-lo, era preciso galgar vários degraus dentro do culto. "Algumas pessoas não o conheciam por dois anos, mas estavam o adorando. Eu apenas respeitava suas crenças. Ou o que achava que eram suas crenças. Acho que com o tempo ele ficou mais e mais poderoso, e perdeu o senso de realidade. Não sei se marcar pessoas era uma ideia inicial dele. Gente próxima a ele dizia que ele tinha medo de envelhecer. E hoje sabemos que ele tinha disfunção erétil. Acho que essas coisas amplificaram sua necessidade por poder."

Questionada sobre a cicatriz que tem de seus anos no culto, ela diz que tem sentimentos misturados. Às vezes xinga Keith, mas às vezes pensa: "Sou agradecida por ter acordado, tenho raiva que ele achou que se safaria com isso, tenho nojo de ter feito parte, mas tenho orgulho de ter me levantado."