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William Zabka sobre Cobra Kai: "Karatê Kid não pertence mais a nós, é dos fãs"

William Zabka em cena de Cobra Kai - Reprodução
William Zabka em cena de Cobra Kai Imagem: Reprodução

Leonardo Rodrigues

Do UOL, em São Paulo

09/09/2019 04h00

Trinta e quatro anos se passaram e um fracassado Johnny Lawrence decide reabrir a escola Cobra Kai para ser mentor de um adolescente que quer apenas ser aceito entre seus pares. Agora dono de uma concessionária, Daniel Larusso se sente ofendido com uma história que parece repetir a sua, e a antiga rivalidade entre os antigos adversários renasce nas cinzas ainda mais intensa.

A reviravolta na história de Karatê Kid, um dos filmes mais emblemáticos dos anos 1980 —lixe o primeiro assoalho quem nunca tentou reproduzir o lendário "crane kick" após assisti-lo— é o argumento de Cobra Kai, série que resgata a história original e coloca o ex-vilão Johnny (William Zabka) no centro do protagonismo. Êxito de crítica e público, a história, que retoma mais leve, auto-referente e irônica, é uma das maiores audiências do YouTube Premium.

"Está sendo incrível. Estou percebendo como as pessoas estão torcendo pelo Johnny. O quanto elas estão se identificam com ele. Elas estão sentindo como se o conhecessem, como se fossem ele", diz ao UOL um jubilante Zabka por telefone. "Sempre vivi personagens que as pessoas não gostam. Interpretar alguém que as pessoas gostam é novo para mim. Confesso que é bem melhor do que ter pessoas dizendo que eu sou o maior babaca (risos)."

Para o ator que por décadas viveu à sombra de Ralph Macchio (Daniel) e de seu primeiro e único grande sucesso no cinema, retornar a Karatê Kid surge como a chance de uma vida. E a culpa é dos milhões de fãs do filme no mundo, que jamais abandonaram a saga e inspiraram o projeto. "Estamos fazendo isso por eles. Não é mais nossa história. Estamos preocupados em servi-los bem."

Onde assistir Cobra Kai: A série já tem duas temporadas no YouTube Premium --lançadas em maio de 2018 e abril de 2019---, e a primeira também está disponível, gratuitamente, no YouTube. Os episódios da segunda temporada serão disponibilizados aos poucos a partir de 11 de setembro, por tempo limitado. A terceira temporada já foi confirmada pelos produtores.

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UOL - Como surgiu a ideia de voltar com a história do Karatê Kid original?

William Zabka - Com Josh Heald, Jon Hurwitz, Hayden Schlossberg, os produtores da série. Eu trabalhei com o Josh em A Ressaca [comédia de 2010 estrelada por John Cusack]. Eles me convidaram para almoçar e vieram com essa ideia de retomar a franquia e trazer de volta os personagens. Foi um choque tremendo. Jamais imaginei que interpretaria o Johnny de novo. Foi surpreendente. Eles me explicaram a proposta e achei muito inteligente. Topei e assinei na hora para ver o que daria.

A série tem um toque de humor e ironia que não havia no original. Por quê?

Foi um jeito interessante de continuar. Mas não é uma comédia explícita. Está mais para uma comédia circunstancial. É engraçado e tem muitas auto-referências. A ideia de trazer esses personagens de volta em 2019 já é engraçada em si. Engraçada por acidente. Adorei o humor que os roteiristas imprimiram. Equilibraram muito bem ação, drama e a essência do filme.

William Zabka e Ralph Macchio - Reprodução - Reprodução
William Zabka e Ralph Macchio
Imagem: Reprodução

Karatê Kid é uma história que se recusa a morrer. O que ela tem de tão especial?

Karatê Kid é um daqueles raros filmes que são passados de geração em geração. O que ficou não foi exatamente o karatê, mas a história que está sendo contata. O garoto que necessita de uma mentoria e todas as outras coisas que agora estão de volta em Cobra Kai. É uma história atemporal, que transcende o cinema. Muitas pessoas que assistiram se inspiraram a vencer seus próprios obstáculos, em conquistar suas próprias vitórias.

É um dos raros filmes que traz a satisfação de ter um clímax de epifania no final, que te faz ter vontade de pular, como o Rocky fez. Isso está no DNA do filme.

A origem do Senhor Miyagi (Pat Morita) será contada na terceira temporada. Acha que o Morita estaria gostando da série? Acha que ele estaria nela?

Cobra Kai não existiria sem o trabalho de Pat Morita em Karatê Kid. Acho que o senhor Miyagi, em espírito e personalidade, está em cada cena de Cobra Kai. Acho que ele ficaria mais que emocionado. Estaria de coração e corpo inteiro nesse projeto. Pessoas importantes ligadas ao filme morreram. O produtor Jerry Weintraub, o diretor John Avildsen. Jimmy Crabe, diretor de fotografia. Às vezes sentimos que é como se eles estivessem nos olhando lá de cima no céu, nos dando uma piscada e um aceno. De certa forma, todos eles têm algo a ver com a série.

Você passou quase a vida inteira sendo lembrado como um personagem, e um personagem vilão. O quanto isso foi ruim?

No início, eu fiquei feliz simplesmente por estar trabalhando. As portas se abriram para outros personagens com essa pegada. Mas eu nunca lidei com o fato de interpretar vilões. Sempre busquei dar uma dimensão humana aos personagens. Alguém que as pessoas pudessem escolher odiar ou também apoiar. Estou percebendo como as pessoas agora estão torcendo pelo Johnny em Cobra Kai. O quanto elas se identificam com ele. Elas estão sentindo como se o conhecessem, como se fossem ele. Sempre vivi personagens que as pessoas não gostam. Interpretar alguém que gostam é novo para mim. Confesso que é bem melhor do que ter pessoas dizendo que eu sou o maior babaca. (risos) É muito legal ter pessoas do seu lado torcendo por você.

Como foi rodar a cena do crane kick? É uma das clássicas cenas do cinema. Como foram os ensaios?

Ensaiamos a técnica provavelmente 20 ou 30 vezes, de formas diferentes. A que acabou sendo usada foi a tomada final de longe, com a câmera posicionada abaixo, com cada um de um lado da tela. Foi uma tomada de mestre. Filmamos várias vezes com close no meu rosto, indo para trás. Ralph em um ponto subiu em uma escada e ficou me acertando várias vezes. É uma cena dramática e de clímax. É o momento que conduz ao fim do filme. Eles queriam que ficasse perfeito, e ficou brilhante.

Achei legal que filmamos a cena da luta inteira. No início, ela não foi filmada em pedaços. Foi filmada do início ao fim, com público atrás, como um teatro ao vivo. Como uma dança, um balé. Tivemos que saber onde as mãos deveriam estar o tempo todo. Foi muito real e orgânico. Não foi como aquelas lutas coreografadas demais. Ensaiamos por três meses. Para mim, o resultado é uma grande obra de arte. E é incrível assisti-la agora.