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13 Reasons Why: Por que o "quem matou Bryce?" pode ser a melhor solução para a série

O funeral de Bryce em 13 Reasons Why - Reprodução/Twitter
O funeral de Bryce em 13 Reasons Why
Imagem: Reprodução/Twitter

Beatriz Amendola

Do UOL, em São Paulo

23/08/2019 04h00

13 Reasons Why foi controversa desde que chegou à Netflix, em abril de 2017. A série foi acusada de glamourizar o suicídio da protagonista Hannah (Katherine Langford), retratado em uma cena explícita, e pouco fez para demover as críticas - que retornaram afiadas na segunda temporada por conta de uma forte cena de estupro e de um plot que a ligava, de forma problemática, a um possível tiroteio dentro da Liberty High, a escola onde os protagonistas estudam.

Por isso, não deixa de ser um alívio saber que o terceiro ano da produção, que estreia hoje, vai seguir um caminho muito menos polêmico e, a essa altura, bem mais interessante: o do "quem matou?". A vítima, no caso, é Bryce Walker (Justin Prentice), o valentão do colégio que estuprou Hannah e Jessica (Alisha Boe).

Vale notar: ao contrário do que fez nos últimos dois anos, desta vez a Netflix não disponibilizou antecipadamente à imprensa episódios da nova temporada de 13 Reasons Why para críticas, então este texto tem por base os materiais promocionais divulgados nas últimas semanas - todos girando em torno do assassinato de Bryce.

A julgar pelo trailer, o mistério será o tema central dos novos capítulos, o que em tese já é um grande avanço em relação ao segundo ano, que atirou para todos lados sem nunca conseguir de fato acertar o alvo. Entre o julgamento pela morte de Hannah, os dramas de Clay (Dylan Minette), a recuperação de Jessica, o vício de Justin (Brandon Flynn), e o mistério em torno da casa usada pelos jogadores da escola para abusar sexualmente de colegas, a trama de 13 Reasons Why se tornou confusa e arrastada, sem conseguir repetir o efeito de seu primeiro ano, em que as fitas de Hannah funcionavam como um fio condutor interessante e certeiro para a história.

Trailer final da terceira temporada de 13 Reasons Why

UOL Entretenimento

Tendo a investigação como mote, há grandes chances de que a história da série volte a ganhar ritmo e prender a nossa atenção. O "quem matou?", afinal, é uma fórmula que funciona há décadas na TV e, quando bem usada, é capaz de fazer o público se engajar de forma certeira. O recurso foi bem usado recentemente na primeira temporada da espanhola Elite -- também da Netflix e também voltada ao público adolescente --, que escondeu as identidades do assassino e da vítima até o último episódio.

E se uma terceira temporada de 13 Reasons Why era inevitável, ainda que desnecessária (assim como a segunda), o recurso deve ajudar a série a se tornar uma experiência menos penosa, já que, convenhamos, vinha ficando cada vez mais difícil - emocionalmente falando - acompanhar o desfile interminável de desgraças que afligem os protagonistas. Ao fim do segundo ano, a sensação era de que o showrunner Brian Yorkey estava mais interessado em chocar o público com o sofrimento de Clay e companhia do que em de fato levantar discussões sobre bullying e os tiroteios nas escolas americanas.

Isso não significa, claro, que os dramas paralelos deixarão de existir na trama; agora, porém, eles podem ser trabalhados de forma sutil, menos espetaculosa e, espera-se, mais responsável.

O assassinato de Bryce dá, por fim, um gostinho que 13 Reasons nunca deu ao espectador: o de justiça. Ele era inegavelmente o vilão da série, um predador sexual que usava de sua posição como o garoto mais rico, popular e privilegiado da escola para cometer abusos. Ele violentou Jessica enquanto ela estava desacordada, mesmo ela sendo namorada de Justin, seu melhor amigo, e depois, estuprou Hannah na banheira de sua casa, no que foi descrito pela personagem como o grande impulso para que ela cometesse suicídio. Na segunda temporada, ele ainda aparece forçando sua namorada, Chloe, claramente desconfortável.

Apesar desse histórico, Bryce sempre esteve inatingível. Denunciado por Jessica, ele escapou com uma pena de apenas três meses em condicional, um desfecho semelhante a muitos casos da vida real -- particularmente, ao de Brock Turner, que nos Estados Unidos recebeu uma sentença branda por ter estuprado uma mulher inconsciente. O magistrado responsável pelo caso alegou que a condenação teria "grave impacto" no futuro do rapaz, pelo que foi severamente criticado.

Obviamente, a morte não é a solução para punir criminosos no nosso mundo; na dramaturgia, no entanto, ela faz o público se sentir vingado depois de acompanhar tantas maldades. No Twitter, inclusive, muitos fãs de 13 Reasons Why prometeram voltar a assistir à série justamente porque Bryce, agora, está morto.

Se o "quem matou" realmente vai ser a salvação de 13 Reasons, só assistindo para saber. Mas não que importe muito: a produção já está confirmada para voltar em uma quarta e última temporada.