Topo

Stephen King odeia "Cemitério Maldito", mas livro é um de seus maiores sucessos

Cena do remake de "Cemitério Maldito" - Divulgação
Cena do remake de "Cemitério Maldito" Imagem: Divulgação

Caio Coletti

Colaboração para o UOL

07/05/2019 04h00

Uma das histórias mais sinistras de Stephen King, o mestre do terror, está chegando aos cinemas. A nova adaptação de "Cemitério Maldito" estreia na próxima quinta-feira pelo Brasil, mas a verdade é que o clássico adorado pelo público quase foi parar na lata de lixo do autor.

King não esconde que odeia "Cemitério Maldito". "Eu me diverti muito escrevendo o livro, mas daí acabei. Quando reli, disse para mim mesmo: 'Isso aqui é horrível. É realmente terrível para c***. Não estou dizendo que é mal escrito, necessariamente. Mas o livro está cheio de morte de crianças. Era próximo demais de mim, porque meus filhos viviam naquela casa, ao lado daquela estrada", contou em entrevista recente à "Entertainment Weekly".

No livro, o médico Louis Creed se muda com a família para uma casa antiga, à beira de uma estrada onde caminhões e carros passam a toda velocidade. Logo, os Creed perdem um gato por atropelamento, e descobrem um "cemitério de animais de estimação" na floresta que cerca a sua residência.

King conta que, tirando os elementos sobrenaturais que surgem na história em certo ponto, tudo em "Cemitério Maldito" foi baseado na realidade. O escritor se mudou para uma cidade chamada Orrington, no interior dos EUA, após conseguir um trabalho em uma universidade próxima. A estrada era mesmo perigosa, a família King perdeu mesmo um gato (chamado Smucky, e não Church, como no livro), e havia mesmo um pequeno cemitério improvisado na floresta.

Stephen King - Reprodução - Reprodução
Stephen King
Imagem: Reprodução

Da gaveta para as livrarias

"O Cemitério Maldito" estaria "mofando até hoje em uma gaveta da minha escrivaninha", segundo o próprio King, se ele não tivesse assinado um contrato nada vantajoso com a editora Doubleday. Foi para escapar do acordo que o autor permitiu que o livro fosse publicado.

King explica que a Doubleday lhe ofereceu um "salário" de US$ 50 mil por ano para escrever um número fixo de livros que seriam publicados pela editora. "Para quem nunca teve nenhum dinheiro, era uma fortuna", comentou o autor. Conforme os seus títulos começaram a se tornar best-sellers, este acordo começou a parecer uma armadilha: afinal, a Doubleday estava lucrando muito mais do que King estava recebendo.

Por isso, o escritor passou a adiar a entrega dos livros restantes de seu contrato com a editora e publicar suas obras por outra empresa, a Viking. Isso até seu advogado, Arthur B. Green, advertir que, caso King morresse sem cumprir o contrato, a Receita Federal poderia cobrar da família do escritor impostos sobre o dinheiro que a Doubleday recebeu com a venda de seus livros (dinheiro este que, como King lembra, nunca foi parar no seu bolso).

Assim, o autor decidiu tirar "O Cemitério Maldito" da "gaveta na escrivaninha" em que ele estava guardado, e levá-lo até sua antiga editora. Lançado em 1983, o livro se tornou um dos maiores sucessos de King, com 657 mil cópias vendidas só nos EUA em um ano -- desde então, este número explodiu para a casa dos milhões, e várias reedições do clássico foram colocadas nas prateleiras ao redor do mundo.

Cena de "Cemitério Maldito" -  Paramount Pictures/Divulgação -  Paramount Pictures/Divulgação
Cena de "Cemitério Maldito"
Imagem: Paramount Pictures/Divulgação

"Há luto demais nesse livro"

Na entrevista à "Entertainment Weekly", King disse que revisitou o seu livro recentemente, durante uma temporada de férias com a família. "Eu ouvi a versão em áudio livro, narrada por Michael C. Hall [astro de 'Dexter']. Fazia 20 ou 25 anos que eu não passava perto de 'O Cemitério Maldito'. Novamente, eu acabei pensando: 'Meu Deus, isso aqui é simplesmente horrível, mais sombrio do que qualquer outra coisa que eu fiz'", comentou.

Para o autor, o livro tem um significado mais profundo, que o torna ainda mais difícil de engolir. "Aquele bordão do livro, 'às vezes estar morto é melhor' não é sobre suicídio ou algo assim. É sobre quem já teve que lidar com uma doença insistente, ou um parente que se agarra à vida. Às vezes, o desejo de viver é algo biológico, e é melhor deixar tudo acabar", comentou.

"Todo mundo já teve que lidar com isso, com seus avós, com seus pais", disse ainda. "Tem um ponto em que é melhor simplesmente deixá-los ir embora. Esse é o negócio com 'O Cemitério Maldito'. Quando eu li depois de finalizar o livro, pensei: 'Há luto demais aqui'".

King entende a fascinação de seus fãs pelo título, no entanto: "Sabe, a pior pessoa para criticar um livro é o escritor, porque é algo próximo demais a ele. Mas eu acho que as pessoas se sentem atraídas pelo proibido. Há a ideia por aí que este livro é o mais assustador, e você quer saber se consegue aguentar. Você quer ir na montanha-russa mais radical do parque de diversões".