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Em desabafo, Ana Cañas diz que sofreu assédio e que morou com prostitutas

A cantora e compositora Ana Cañas - Bruno Santos/Folhapress
A cantora e compositora Ana Cañas Imagem: Bruno Santos/Folhapress

Leonardo Rodrigues

Do UOL, em São Paulo

07/05/2019 16h54

A cantora Ana Cañas fez hoje um longo desabafo no Instagram relembrando o início difícil de carreira, há cerca de 17 anos, quando dividia um pensionato com prostitutas e convivia com ratos, e agradecendo por suas conquistas na música.

Segundo Ana, no começo, sem grana nem perspectiva, ela comia pouco e precisava trabalhar como princesa em festa infantil, onde relata ter sido assediada. A coisa só mudou quando passou no teste para cantar em um hotel e juntou dinheiro para gravar o primeiro disco independente.

"Aí surgiram gravadoras, música em novela e públicos grandes que eu nunca visto", escreveu. "Conheci artistas consagradxs, muitos meus heróis e heroínas da música brasileira. Com alguns gravei, fiz amigxs, bebi muito quando meu pai morreu e também fiz discos ruins."

"Agradeço por poder viver de música num país onde a cultura é profundamente menosprezada. Agradeço por ter uma gente linda que sai de casa pra me ouvir cantar. Eu olho pra trás e só AGRADEÇO", desabou a cantora.

Veja abaixo o texto completo.

eu comecei a cantar com 22 anos. nessa época, eu distrubuía amostra grátis nos supermercados, panfletos nos faróis, servia café no espaço unibanco e ficava vestida de princesa em festa infantil sendo assediada pelos pais das crianças (pense num pesadelo duplo). eu morava num pensionato com mais 10 garotas, muitas faziam programas e eu trocava altas idéias com elas para aprender sobre suas duras realidades. elas eram muito acolhedoras e generosas e me ensinaram muitas coisas. tinha dia que, pra comer, era só uma panelinha de arroz com limão ou miojo gourmetizado com as azeitona véia da geladeira. o quarto em que eu dormia não tinha janela e alguns ratos no telhado me faziam companhia na madrugada. o rolê era esse. por isso, quando alguém me ofereceu uma vaga pra cantar num hotel, eu abracei com força - mesmo sem saber cantar. eu não sabia o que era melodia, harmonia, tom ou compasso. encarei o teste, decorei três músicas da billie holiday e ganhei a vaga. também descobri um caminho pra vida. alguns anos e muitos bares, pé sujos, botecos e baretto depois, consegui juntar dinheiro pra gravar o meu primeiro disco independente. aí surgiram gravadoras, música em novela e públicos grandes que eu nunca visto. conheci artistas consagradxs, muitos meus heróis e heroínas da música brasileira. com alguns gravei, fiz amigxs, bebi muito quando meu pai morreu e também fiz discos ruins. quinze anos depois, mais especificamente hoje, tenho orgulho de ter me tornado o que sou. de ser verdadeira sempre - e isso tem um preço alto. de escolher o lado em que acredito, de defender a democracia e lutar de corpo e alma por ela. toda vez que saio para trabalhar carregando minha mala, microfone, estante, cabos, afinador e o meu parceiro e amado violão (o primeiro que tive comprei na teodoro por 80 conto e compus "esconderijo" nele), eu agradeço. agradeço por poder viver de música num país onde a cultura é profundamente menosprezada. agradeço por ter uma gente linda que sai de casa pra me ouvir cantar. eu olho pra trás e só AGRADEÇO. a estrada da vida tem muitos percalços. mas faça chuva ou faça sol, se você plantar sementes de amor ao longo do caminho, elas brotarão. sempre. ??

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