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Como o k-pop tem amenizado as tensões diplomáticas entre Japão e Coreia

Nao Niitsu, de 19 anos, que deixou o Japão em busca de carreira no k-pop - Kim Kyung-Hoon/Reuters
Nao Niitsu, de 19 anos, que deixou o Japão em busca de carreira no k-pop Imagem: Kim Kyung-Hoon/Reuters

Osmar Portilho

Do UOL, em São Paulo

05/05/2019 04h00

As relações diplomáticas entre Japão e Coreia do Sul nunca foram muito amenas. Após muitos anos de disputas territoriais, regimes de colonização e atritos diplomáticos, um fator inusitado tem estreitado a relação entre os países: o k-pop.

A Reuters explorou em um recente artigo como o gênero musical, que já é febre mundial, fez a cabeça dos jovens japoneses, que agora também tentam a sorte como estrelas da música.

A tensão entre os dois países, que tem seu ápice entre 1910 e 1945, justamente o período da presença japonesa em território coreano, pouco abala os jovens que fazem esse intercâmbio musical.

"Eu posso até receber críticas por ser japonesa, mas eu quero subir no palco e mostrar para os sul-coreanos que nós podemos ser legais", afirmou Rikuya Kawasaki, de 16 anos. A garota é uma das candidatas que se tentou entrar na Acopia School, um centro especializado em treinar talentos do k-pop. Ela foi reprovada.

As japonesas Yuuka Hasumi, 17, e Ibuki Ito, 17, querem ser estrelas do k-pop - Kim Hong-Ji/Reuters - Kim Hong-Ji/Reuters
As japonesas Yuuka Hasumi, 17, e Ibuki Ito, 17, querem ser estrelas do k-pop
Imagem: Kim Hong-Ji/Reuters

Para essas escolas e agências que trabalham diretamente com o gênero coreano, o Japão é crucial: o país é dono do segundo maior mercado consumidor de música, ficando atrás apenas dos Estados Unidos, segundo números de 2018 do instituto IFPI.

"Seria muito bom que Japão e Coreia se dessem bem e isso acontecesse por meio da música", disse a japonesa Yuuka Hasumi, 17 anos, uma das alunas da Acopia.

Agências especializadas em k-pop fazem testes no Japão para recrutar novos talentos - Kim Kyung-hoon/Reuters - Kim Kyung-hoon/Reuters
Agências especializadas em k-pop fazem testes no Japão para recrutar novos talentos
Imagem: Kim Kyung-hoon/Reuters

Busca, rotina e treinamento

Hasumi é uma das 500 jovens do Japão que entra na Acopia todos os anos em busca de aulas e treinamentos para se tornar uma estrela do k-pop. Em alguns planos oferecidos pela escola estão aulas de dança, coreano, canto que chegam em um valor total de até US$ 3 mil por mês.

"É duro. Passar por esse treinamento e elevar minhas habilidades no palco é algo que será bom para minha estreia", completou.

E o intercâmbio tem se provado benéfico para os dois lados. O grupo Twice, por exemplo, tem nove cantoras, sendo três japonesas, e se tornou o segundo grupo mais popular no Japão, atrás somente do gigante BTS.

Talentos japoneses

Embora essa diplomacia que envolve mercado e música esteja em paz, não existe um desejo do setor em verbalizar isso, segundo aponta o artigo da Reuters, que procurou o escritório JYP Entertainment, que cuida da carreira do Twice.

"Agências ficam relutantes em discutir o sucesso no Japão e a entrada de talentos japoneses para não inflar nenhum tipo de crise política", diz o texto, que cita fontes dentro da indústria musical.

A japonesa Yuho Wakamatsu, de 15 anos de idade, ajusta maquiagem em escola onde treina para se estrela do k-pop - Kim Hong-Ji/Reuters - Kim Hong-Ji/Reuters
A japonesa Yuho Wakamatsu, de 15 anos de idade, ajusta maquiagem em escola onde treina para se estrela do k-pop
Imagem: Kim Hong-Ji/Reuters

Aos 19 anos, Nao Niitsu deixou Tóquio e foi para Seoul para fazer testes em agências. De 10 escritórios onde realizou avaliações, foi aprovada em cinco.

Ouvi muitas histórias de cantores que não têm tempo livre e não podem fazer o que querem, mas acho que todas as estrelas do k-pop passaram por isso

Nao Niitsu, 19 anos

Miyu Takeuchi, por exemplo, é prova disso. A japonesa deixou o grupo já consolidado AKB48 para assinar com uma agência de k-pop em busca de uma carreira na Coreia. Mesmo experiente, ela tem sete horas diárias de aulas de canto e duas aulas por semana de dança que duram duas horas. Isso sem falar nas aulas de coreano.

"Não sei por quanto tempo meu treinamento vai durar, mas chegará um momento em que meus treinadores e empresários dirão 'Miyu, você é uma profissional".