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"Dumbo": A história da briga que quase afundou o clássico da Disney em 1941

O "Dumbo" clássico da Disney, de 1941 - Divulgação/IMDb
O "Dumbo" clássico da Disney, de 1941 Imagem: Divulgação/IMDb

Caio Coletti

Colaboração para o UOL

30/03/2019 04h00

A Disney apostou em "Dumbo" para o seu novo remake live-action. Com direção de Tim Burton, que já havia feito a versão com atores de "Alice no País das Maravilhas" para o estúdio, o filme chegou aos cinemas na quinta-feira. Assim como o original, de 1941, esta nova versão aborda a história de um filhote de elefante que nasce com orelhas desproporcionalmente grandes. Dumbo vira piada no circo e é separado de sua mãe por causa da "deficiência" -- até descobrir que é capaz de voar abanando suas orelhas.

A ideia do "Dumbo" de Tim Burton é usar esta trama simples apenas como ponto de partida. O filme expande a história, com a ajuda de novos personagens interpretados por atores renomados, como Michael Keaton, Danny DeVito, Eva Green e Colin Farrell.

Com o tempo, o "Dumbo" original se tornou um dos longas-metragens animados mais reconhecíveis da Disney. Durante sua concepção, no entanto, pouca gente apostava no sucesso da produção, que foi uma das mais atribuladas do estúdio.

Assista ao trailer de "Dumbo"

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Tempo de vacas magras

A Disney estava em apuros financeiros na época do lançamento de "Dumbo". Em 1941, afinal, a 2ª Guerra Mundial ainda assolava a Europa e todo tipo de indústria ao redor do mundo estava sofrendo com o conflito.

"Pinóquio" e "Fantasia", os dois filmes lançados pela Disney em 1940, foram produções grandiosas e caras que não deram retorno de bilheteria. Por isso, a palavra de ordem quando "Dumbo" foi aprovado como o próximo filme do estúdio era economia.

Além de forçar o uso de técnicas de animação mais simples (como pinturas em aquarela ao invés de guache) e diminuir a duração do filme (com 64 minutos, "Dumbo" ainda é o mais curto dos filmes lançados pela Disney nos cinemas), os cortes de orçamento realçaram conflitos internos no estúdio.

"Agitação comunista"

Os animadores da Disney há muito tempo estavam insatisfeitos com as condições de trabalho na empresa. Enquanto alguns funcionários viviam com mordomias e ganhavam até US$ 300 por semana, a grande maioria da força de trabalho da Disney recebia algo em torno de US$ 12 pelo mesmo tempo de trabalho.

Como foi só com o sucesso de "Branca de Neve e os Sete Anões", em 1937, que a indústria de animação ganhou legitimidade em Hollywood, os animadores ainda estavam nos estágios iniciais do processo de se organizar em um sindicato e devidamente regulamentar a profissão.

Destes esforços nasceu a SCG (Screen Cartoonists Guild), e logo os animadores da Disney notificaram a chefia que iriam se juntar ao sindicato. Walt Disney, o fundador e manda-chuva do estúdio, no entanto, não estava disposto a apoiar essa iniciativa.

Walt Disney - Divulgação - Divulgação
Walt Disney
Imagem: Divulgação

Em um infame discurso aos funcionários em fevereiro de 1941, Disney provocou: "Vocês nunca conseguirão nada se ficarem sentados esperando alguém lhes dar privilégios. Se vocês não estão progredindo no estúdio, parem de reclamar e façam algo a respeito".

Pouco depois deste pronunciamento, centenas de animadores decidiram "fazer algo a respeito" e organizaram uma greve. Em resposta, Disney colocou um comunicado nos jornais de Los Angeles, dando a entender que "agitações comunistas", e não reivindicações trabalhistas justas, estavam por trás da crise no estúdio.

O impasse foi resolvido cinco semanas depois, com Disney dando o braço a torcer e assinando um acordo com o sindicato dos animadores. A greve, no entanto, não ficou sem punição: mais de 200 trabalhadores que participaram da ação foram demitidos poucos dias depois -- o que seria ilegal se Disney não tivesse justificado as demissões como parte do corte de custos do estúdio.

No fim das contas, "Dumbo" foi o filme que ajudou a Disney a se reerguer. Com um orçamento baixo e uma história simples, que agradou aos norte-americanos preocupados com a guerra, o longa rendeu pelo menos US$ 10 milhões para os cofres do estúdio em sua primeira (de cinco) passagens pelo cinema.