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Como a gay band Funtastic tenta abrir um novo mercado para a cena LGBT

Lucas Oliveira, Edson Damazzo, Jhury Nascimento e Thiago Basseto  - André Rodrigues/Universa
Lucas Oliveira, Edson Damazzo, Jhury Nascimento e Thiago Basseto Imagem: André Rodrigues/Universa

Maurício Dehò

Do UOL, em São Paulo

20/03/2019 04h00

Em um cenário musical que vem bombando para a cena LGBT com nomes como Pabllo Vittar, Gloria Groove e Aretuza Lovi, a Funtastic, auto-intitulada "primeira gay band do Brasil", vem conquistando seu espaço. Com Ludmilla como madrinha, o quarteto de dançarinos e agora cantores passou da marca de 1 milhão de views com os clipes de "Não Vou Parar" e "Taku Fogo" buscando se mostrar como um novo mercado dentro desta cena, menos focado em drag queens e com mais espaço para gays com um perfil diferente.

A Funtastic foi criada por dançarinos de Ludmilla, Anitta, Valesca Popozuda e Pabllo Vittar. O que começou com um canal no YouTube focado em dança acabou se tornando um projeto que crescia a cada vez que seus integrantes o apresentavam para os amigos, a ponto de eles se tornarem um grupo em que, pela primeira vez, seriam cantores também.

O perfil dos integrantes acabou montando a identidade da Funtastic, formada por Lucas Oliveira, Edson Damazzo (o Bibiu), Thiago Basseto e Jhury Nascimento. "Esse lema de sermos uma gay band é porque somos quatro meninos, cada um com um jeito diferente, e levantamos essa bandeira de que não precisamos nos montar e botar salto para mostrar a nossa arte. A gente levanta essa bandeira, como meninos afeminados, e muita gente tem se identificado", conta Lucas, de 24 anos, ex-dançarino de Anitta.

Lucas destaca que não faz uma crítica às drags, mas que vê como enriquecedor abrir uma nova porta na cena. "A Pabllo, a Glória e outras são drags importantíssimas. A Pabllo abriu portas imensas. Mas alguns meninos se sentiam perdidos, achando que teriam que se montar para poder fazer música, e tem quem não goste. A gente criou essa proposta e hoje muita gente manda mensagem, fala que se vestem ou se maquiam como a gente", explica ele.

Como numa boy band, cada integrante tem um perfil bem definido. Lucas é um ex-jogador de handball que integrou o balé de Anitta. Jhury é quem se diz o mais afeminado do grupo e trabalhou com Valesca. Bibiu, que vem do teatro, tem estilo mais masculinizado e integrou o grupo de Ludmilla. E Thiago fez trabalhos com Pabllo e é o mais jovem do quarteto, com 21 anos.

Como assim cantar?

Lucas conta que até para ele foi uma surpresa quando seu canal no YouTube virou um projeto em que dividiria os microfones com outras três pessoas. Eles se conheciam por se cruzarem em turnês e, quando a Funtastic tomou forma e acabou virando um grupo contratado pela Sony, precisaram provar que estavam no lugar certo.

Dançar, todos sabiam. Foi preciso provar que poderiam - ou que pelo menos tinham potencial para aprender a - cantar. "Foi um susto grande, algo totalmente diferente, saindo da zona de conforto. Foi chamada até uma preparadora vocal para dar aval e ver se era possível trabalhar o nosso canto", diz Lucas.

A sonoridade da Funtastic recai no pop funk, mas busca inspiração fora. "É uma mistura louca de influências das artistas com quem a gente trabalhava, mas também com o pop de fora, como Beyoncé, Rihanna. A dança pede isso, o público pede pra gente coreografias boas de dançar".

A gay band Funtastic, formada por (da esq. para dir.) Jhury Nascimento, Lucas Oliveira, Edson Damazzo e Thiago Basseto  - Netto Jordão/Divulgação - Netto Jordão/Divulgação
Imagem: Netto Jordão/Divulgação

BFF de Anitta

A Funtastic contou com a sorte de ter apoio das artistas com quem os quatro dançarinos trabalharam, sendo principalmente Ludmilla uma parceira marcante. Ela está em um dos hits do grupo, "Não Vou Parar", tanto em participação nos vocais quanto no clipe.

Lucas Oliveira diz ainda que sempre que precisa de dicas e conselhos pega o celular em busca de Anitta. O dançarino esteve com a carioca desde os primórdios e só deixou de dançar com ela por conta da Funtastic.

"Ela falou para eu cair de cabeça, que podia contar com ela para o que precisasse. Eu estava com ela desde antes do 'Show das Poderosas'. Naquela época tinha pouco meninos que gostavam do estilo que ela precisava e eu acabei sendo chamado", conta Lucas.

Para o dançarino, a primeira turnê de Anitta no exterior já deu indícios de que ela iria deslanchar. "Dancei com ela em cima de mesa de boate e depois me vi num teatro em Londres. Aprendi muito e tento levar comigo tudo o que passei com ela. A Anitta é 100% honesta, é uma ótima pessoa para conversar, e sempre peço opinião dela. Ela sabe muita coisa, por ter vivido tudo o que viveu. Eu só tenho a agradecer", conclui ele.