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Há 70 anos sem solução, assassinato da Dália Negra inspira "I Am the Night"

India Eisley e Chris Pine em cena de "I Am The Night" - Divulgação/IMDb
India Eisley e Chris Pine em cena de "I Am The Night" Imagem: Divulgação/IMDb

Caio Coletti

Colaboração para o UOL

24/02/2019 04h00

A minissérie "I Am the Night" tem uma daquelas histórias que, se não fossem baseadas em fatos reais, ninguém acreditaria. A produção, que estreou recentemente na TNT norte-americana e ainda não tem previsão de lançamento por aqui, conta a jornada de Fauna Hodel (India Eisley), que tem a vida virada de cabeça para baixo quando descobre que é adotada.

Fauna foi criada por Jimmy Lee (Golden Brooks) em um bairro predominantemente negro do interior dos EUA. Para explicar sua pele clara, a mãe adotiva disse a Fauna que ela era filha de um homem branco, que abandonou a família quando ela era bebê. Na verdade, Jimmy Lee aceitou criar Fauna a pedido de uma cliente do clube onde ela trabalhava, Tamar Hodel.

Ao descobrir tudo, nos anos 1960, Fauna entra em contato com o seu avô, o Dr. George Hodel (Jefferson Mays), e vai até Los Angeles para encontrá-lo, sem saber que, uma vez lá, vai se envolver em uma complexa teia de mentiras e mistérios que pode se conectar a um dos assassinatos mais famosos da história.

Trailer da minissérie "I Am the Night" (em inglês)

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A Dália Negra

A história é real: o corpo de Elizabeth Short, apelidada da Dália Negra pela imprensa por seus cabelos e roupas escuras, foi encontrado em um terreno baldio de Los Angeles no dia 15 de janeiro de 1947, e desde então o mistério em torno de seu assassinato tem se provado difícil de resolver.

Short, que tentava emplacar como atriz em Hollywood, tinha 22 anos e um passado conturbado de problemas familiares (seu pai biológico forjou a própria morte e foi viver longe da família, se revelando apenas anos depois), relacionamentos amorosos abusivos e problemas com a polícia (anos antes de morrer, a Dália foi presa por consumir álcool antes da idade permitida, que nos EUA é 21 anos).

O corpo de Short foi achado em um estado perturbador: estava cortado ao meio na altura da cintura, um procedimento conhecido como hemicorporectomia na época, com precisão cirúrgica que levou a polícia a crer que o assassino tinha conhecimento ou treinamento médico; em seu rosto, dois grandes cortes partiam dos cantos da boca até as orelhas, formando o infame "sorriso de Glasgow" (como o do Coringa, no filme "Batman: O Cavaleiro das Trevas").

Elizabeth Short, a Dália Negra - Reprodução - Reprodução
Elizabeth Short, a Dália Negra
Imagem: Reprodução

O terrível Dr. Hodel

A polícia de Los Angeles, sob pressão da imprensa, entrevistou mais de 150 suspeitos na investigação. Cartas enviadas pelo suposto assassino de Short foram recebidas por jornais locais, mas eventualmente o caso esfriou (e o interesse dos repórteres também), deixando o assassinato da Dália Negra vivo apenas no imaginário popular.

O Dr. George Hill Hodel segue sendo um dos principais suspeitos. Não só graças ao seu treinamento médico, mas também porque a polícia já o tinha em seu radar como suspeito do assassinato de outra jovem, Ruth Spaulding, que na época trabalhava como sua secretária. Além disso, uma das filhas do Dr. Hodel, Tamar (a mãe de Fauna), o acusou de abuso sexual, levando a um julgamento polêmico em que ele foi inocentado.

Segundo investigações mais recentes, Hodel provia serviços ilegais em sua clínica (inclusive de aborto) e cobrava pacientes por procedimentos que nunca existiram. Em 2004, gravações foram descobertas nos arquivos da polícia, confirmando que a casa de Hodel em Los Angeles foi grampeada -- em um trecho, o doutor diz: "Se eu matei a Dália Negra, eles não podem mais provar".

India Eisley e Jefferson Mays em cena de "I Am the Night" - Divulgação/IMDb - Divulgação/IMDb
India Eisley e Jefferson Mays em cena de "I Am the Night"
Imagem: Divulgação/IMDb

O intrépido repórter

Além de Fauna, "I Am the Night" cria outro ponto de entrada para esta história misteriosa ao introduzir Jay Singletary (Chris Pine), veterano de guerra traumatizado e repórter habilidoso, que teve a carreira arruinada quando tentou investigar Hodel, sua clínica e as acusações de Tamar.

Anos depois, ele encontra uma forma de reabrir o caso e recuperar sua reputação ao se deparar com Fauna. Embora seja uma criação totalmente ficcional, Singletary se encaixa bem no mundo que o showrunner Sam Sheridan e a diretora/produtora Patty Jenkins (diretora de "Mulher-Maravilha") criaram.

Carismático, Pine expressa o desespero de Singletary, sua depressão e seu voraz apetite pela verdade do caso. "I Am the Night" é uma minissérie paciente, que revela a conexão do Dr. Hodel com o assassinato da Dália Negra aos poucos, confiando que o espectador se envolva no clima de mistério que homenageia os filmes noir da Hollywood clássica.

Com uma bela fotografia, um elenco afiado e uma história real que é mais estranha do que a ficção, ela é uma boa pedida para os fãs de suspense.