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O que sabemos sobre o álbum do Tool que virou um "novo Chinese Democracy"

A banda Tool influenciou Jason Momoa a compor o personagem Aquaman - Divulgação
A banda Tool influenciou Jason Momoa a compor o personagem Aquaman Imagem: Divulgação

Maurício Dehò

Do UOL, em São Paulo

17/02/2019 04h00

Axl Rose demorou 11 anos para conseguir lançar "Chinese Democracy" com o Guns N' Roses. Parece muito, mas o Tool está batendo o "recorde" de seus colegas. Já são 13 anos de espera pelo sucessor de "10,000 Days", mas 2019 chegou trazendo indícios os fãs do grupo terão enfim o novo álbum do grupo.

Mas o que aconteceu para o Tool enrolar tanto? A resposta passa pela Justiça norte-americana, pelo método de composição da banda e pelo fato de eles não se cansarem de fazer promessas que não conseguem cumprir.

O Tool é uma banda de metal progressivo que, mesmo tocando em um gênero que sofre um bocado de preconceito por suas músicas longas e composições fora do comum, caiu no gosto de um público mais amplo, com suas levadas intrincadas e as melodias grudentas do vocalista Maynard James Keenan.

Prova do sucesso está no fato de que Ænima (1996) foi segundo colocado nas paradas dos EUA e seus sucessores, Lateralus (2001) e "10,000 Days" (2006) lideraram os rankings e conquistaram disco de platina.

Cadê o Tool?

O problema do Tool começou com os integrantes se contradizendo em 2007, quando terminavam uma turnê de "10,000 Days". O baixista Justin Chancellor declarou que a banda faria uma pausa na carreira. A coisa até esfriou, mas não chegou a haver um hiato, de fato. Se em 2007 foram 104 shows, de acordo com o site Loudwire, no ano seguinte foram zero. De 2009 a 2013 não passaram de 20 apresentações por ano, mas se mantiveram em atividade, ainda que em marcha lenta.

Uma das razões para o Tool ter entrado em uma quase hibernação foi que seu líder, Keenan, estava produzindo - e muito - para outros projetos. Ele lançou diversos discos - entre álbuns, compilações e ao vivos - com o Puscifer e também se dedicou a um trabalho mais distante da música, com sua vinícola. 

Os outros integrantes estiveram menos ativos, mas sempre houve rumores de que eles se encontrariam para escrever o disco. Isso foi pelos ares quando o baterista Danny Carey sofreu um acidente de trânsito em 20013, machucou costelas e o ombro, o que deixou oficialmente a composição para o quinto álbum da banda em suspenso.

Falatório e o problema na Justiça

A expectativa poderia ter se mantido baixa, não fosse os integrantes do Tool falarem mais do que deviam. Depois que se recuperou, Carey prometeu que o trabalho estaria pronto no fim de 2013 ou começo de 2014. Os fãs acreditaram. O vocalista Maynard James Keenan, não. 

O quinto álbum do Tool passou a ter uma grande mística. Passou a se falar de uma canção épica que eles trabalhavam há anos para concluir. Mas, ao lado desta mística, os próprios integrantes, como Adam Jones diziam sentir a raiva dos fãs pela demora. 

Ele explicou que um dos motivos para tanto atraso foram longos e arrastados processos judiciais, iniciados por um antigo amigo que reclamava crédito e compensação financeira por ter criado o logo do Tool. O problema é que a banda contratou uma empresa para ajudar em sua defesa. No entanto, o próprio escritório acabou abrindo um processo contra o grupo em função de detalhes técnicos do julgamento.

"Foi bem feio e vergonhoso. E conviver com algo assim é algo que nos distraiu, estava nos comendo por dentro e não conseguíamos escrever", disse Jones ao site Yahoo. No fim, o Tool ganhou os processos, mas levou 7 anos para deixar a burocracia de lado, em 2015. 

Hora de compor e gravar? Não foi bem assim...

"Pareço uma pessoa preguiçosa?"

O ano de 2015 marcou mais um período em que o Tool permaneceu nas sombras. As notícias minguaram e Keenan se irritou com as constantes perguntas da imprensa. "Eu pareço uma pessoa preguiçosa para vocês? Eu trabalho do meu jeito e eles trabalham do deles. E não tenho nada a passar para vocês", afirmou o vocalista, à Rolling Stone. 

Foi no fim de 2015 que veio um aperitivo - mas daqueles que não engana muito o estômago e até dá mais fome. Eles tocaram ao vivo uma canção inédita após quase dez anos, mas tratava-se apenas de uma instrumental, "Descending", sem grandes informações se a veríamos em um álbum. 

O fato de o novo disco parecer um reality show de não-notícias, com promessas vazias e desabafos como o de Keenan, que em 2016 disse que a banda parecia "não conseguir avançar" na composição álbum, virou também piada, com as comparações ao Guns N' Roses - mas sem as somas vultuosas de "Chinese Democracy", que estima-se ter custado mais de US$ 13 milhões para ser produzido.

O vocalista ainda explicou que o método de composição dos instrumentistas do grupo foi uma das causas para tanto atraso. Cheios de idas e vindas, o trabalho de escrever o novo álbum ficou tão longo, que a pressão estava se tornando um medo entre eles. "Eu não posso criar as melodias até tudo estar em seu lugar", explicou ele, citando que teve muitas ideias jogadas no lixo depois de composições mudarem demais. Mas, garantiu: "Isso é uma coisa boa, o que eles estão fazendo é maravilhoso."

Para completar, Keenan ainda se ocupou de lançar "Eat the Elephant", o elogiado quarto trabalho de estúdio de sua outra banda, A Perfect Circle.

Agora vai! Agora vai?

Vamos às notícias boas. 2018 marcou a volta da banda ao estúdio para gravar - e não só escrever. As baterias de Danny Carey foram registradas entre março e maio, ainda que eles mantivessem tudo sob os panos, para diminuir as expectativas. Novas notícias surgiram só no comecinho de janeiro de 2019: sim, Keenan havia completado as gravações de suas vozes - o que é feito depois de todos os outros instrumentos.

"Atualização: Vozes finais gravadas. Longo processo de mixagem agora", tuitou o vocalista, voltando a empolgar os fãs. No fim do mês, foi postado também um teaser, indicando que os trabalhos estão evoluindo.

O baterista Danny Carey chegou a dizer que o disco seria lançado no meio de abril, mas foi desmentido. Agora, a previsão dada por Keenan é de alguma data entre maio e julho. "Atualizações: no meio das mixagens [do álbum]. Deve haver alguns 'recalls'. Em seguida, algumas discussões, Depois: masterização, artes, vídeos, pacotes especiais etc. Melhor palpite: lançamento entre o meio de maio e o meio de julho. Mais atualizações focadas assim que tivermos progresso", prometeu ele, no Twitter. Será?

O problema do Tool após tanto tempo é que, como no caso de "Chinese Democracy", fica difícil de a realidade do produto lançado chegue perto das expectativas que foram criadas por tantos anos de ansiedade de quem curte a banda. Fica para o Tool a missão de provar que consegue vencer essa barreira e para quem segue a banda a missão de exercitar a paciência por pelo menos mais alguns meses.