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"Marighella" é empolgante, maniqueísta e Seu Jorge brilha, diz mídia estrangeira

Seu Jorge e Adriana Esteves em cena de "Marighella" - Divulgação
Seu Jorge e Adriana Esteves em cena de "Marighella" Imagem: Divulgação

Leonardo Rodrigues

Do UOL, em São Paulo

15/02/2019 16h09

As primeiras críticas internacionais de "Marighella", estreia de Wagner Moura na direção exibida ontem no Festival de Berlim, apontam para um filme com teor de suspense e intenso, abrilhantado por uma bela atuação do elenco, especialmente Seu Jorge, que interpreta o guerrilheiro protagonista.

No entanto, na visão de jornais e revistas estrangeiras, existem problemas no longa, e um deles é o maniqueísmo da trama, que assume seu viés militante e se dá pouco à contradição, mas ainda assim trata-se de história bem contada e, em certos momentos, empolgante.

Para a revista americana The Hollywood Reporter, o filme possui uma visão de "nós contra eles", mas funciona como entretenimento, principalmente se a inexperiência de Moura como diretor. "Empolgante", "altamente seguro" e com "elenco fantástico", escreve o crítico Stephen Dalton.

"Seu Jorge é magnético na tela, transmitindo sem palavras a aceitação do destino trágico de Marighella". Outro ator a ganhar elogios é Bruno Gagliasso, na pele de um torturador. "É o vilão puro com uma reminiscência agradavelmente barroca de Gary Oldman."

Para a revista britânica "Screen Daily", "Marighella" se parece mais com uma cinebiografia de ação do que um longa de teor político. Ainda assim, tanto por suas qualidades quanto pela conjuntura internacional, a história deve ganhar proeminência à medida que for exibida em festivais do mundo.

"Em uma época de revolta, 'Marighella' deve estimular o debate sobre a natureza e o efeito da militância política, enquanto sua intensidade de suspense e uma atuação convincente de Seu Jorge fornecerão influência internacional sobre a arte", publicou o jornalista Jonathan Romney.

Já o jornal alemão "Die Tageszeitung", de esquerda, adotou um tom mais crítico afirmando que o filme é raso e exagera em querer transformar Marighella em herói. As cenas de tortura são pesadas e a trama ignora, por exemplo, o impacto do governo norte-americano nos eventos ocorridos na América Latina na época. 

"Este filme não conhece contradições", escreveu Andreas Fanizadeh. "O roteiro não conta que o golpe militar no Brasil primeiramente teve forte apoio da população. Porém, não dá pistas de por que isso aconteceu e por qual motivo a resistência e as forças democráticas eram tão fracas."

Inspirado no livro "Marighella o Guerrilheiro que Incendiou o Mundo", do jornalista e escritor Mario Magalhães, "Marighella" narra a história do ativista baiano que recorreu à luta armada para enfrentar a ditadura militar e terminou morto em uma emboscada em 1969.

O elenco conta com Seu Jorge, Adriana Esteves, Bruno Gagliasso, Charles Paraventi, Humberto Carrão, Bella Camero e Luiz Carlos Vasconcelos, entre outros. Ainda não há previsão de lançamento nas salas de cinema do país.