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Sobre traumas e empatia: "Boneca Russa" já é uma das melhores séries de 2019

Beatriz Amendola

Do UOL, em São Paulo

06/02/2019 04h00

Uma coisa tem que ser dita: o ano mal começou, mas "Boneca Russa" é uma das melhores séries que você verá em 2019. Criada e estrelada por Natasha Lyonne (a Nicky Nichols de "Orange Is the New Black"), a produção da Netflix usa um texto delicado, sensível e ao mesmo tempo ácido para construir uma trama densa que é, sobretudo, sobre traumas e empatia.

Natasha, que divide a criação da série com Amy Poehler ("Parks and Recreation") e Leslye Headland ("Dormindo com Outras Pessoas"), dá vida a Nadia, uma mulher que se vê presa na noite de sua festa de aniversário. Em um loop infindável, ela morre de várias maneiras, só para reaparecer no banheiro do apartamento de sua amiga Maxine (Greta Lee) e iniciar o ciclo novamente.

Quanto menos você souber da história, melhor, mas dá para contar que, ao longo de sua jornada, Nadia encontra uma série de figuras essenciais para que ela possa entender o que está acontecendo com sua vida, incluindo Alan (Charlie Bennett), um homem com seus próprios demônios para enfrentar; um ex-namorado (Yul Vazquez) que ainda é apaixonado por ela; e a tia que a criou, Ruth (Elizabeth Ashley).

O mote é o mesmo por trás de "Feitiço do Tempo" (1993), o filme estrelado por Bill Murray que inevitavelmente vem norteando as comparações com a série. A história da Netflix, entretanto, ganha novas camadas ao longo de seus oito episódios de pouco mais de 20 minutos cada, funcionando como a "boneca russa" do título (também conhecida como matriosca).

Cada novo capítulo mergulha mais fundo no drama e nas divagações existenciais, montando um quadro brilhante que caminha pelo horror e pela tragédia sem abrir mão do humor ácido e mordaz. O encerramento vem em uma catarse promovida pelos dois últimos episódios, que deixam uma mensagem forte, mas não pessimista, sobre o poder exercido pelos traumas que carregamos sem perceber.

O roteiro é, por si, fantástico, mas "Boneca Russa" também tem um grande trunfo em Natasha Lyonne, que ainda dirige o último episódio da temporada. Sua Nadia é desbocada, imprevisível e egoísta, mas carrega uma tristeza que a atriz consegue captar com perfeição em uma performance cativante.

Seus coadjuvantes também são de alto nível, com destaque para Charlie Bennett e Elizabeth Ashley. Fique atento, também, para a ótima participação especial de Chloë Sevigny como Lenora Vulvokov (a mãe de Nadia).

Apesar de ter sido divulgada sem grande alarde, "Boneca Russa" é o pacote completo: divertida, profunda e irresistível.