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Dez anos após estreia, White Lies lança "Five" e diz por que é difícil vir ao Brasil

Harry McVeigh, Jack Brown e Charles Cave, do White Lies - Tony Woolliscroft/WireImage
Harry McVeigh, Jack Brown e Charles Cave, do White Lies Imagem: Tony Woolliscroft/WireImage

Osmar Portilho

Do UOL, em São Paulo

31/01/2019 04h00

Quando surgiu em 2009 com o elogiado disco "To Lose My Life?", o White Lies atraiu para si boa parte dos holofotes da mídia especializada. O impacto só não foi maior porque a sonoridade soturna, exaustivamente comparada com o Joy Division, acabou dividindo atenção com outros grupos que despontaram na mesma época, como Interpol e Editors. Agora, em 2019, a banda lança "Five", seu quinto álbum, muito mais maduro e "musicalmente confiante", como explicou Harry McVeigh ao UOL, por telefone.

"Five", que será lançado nesta sexta-feira (1º), tem nove músicas e algumas faixas já lançadas como single, como "Tokyo", "Finish Line", "Believe It" e "Time to Give". De 2009 até aqui, Harry deixa bem clara a mudança de sonoridade do trio, mas sem perder a essência que cativou seus primeiros fãs.

"Começamos a escrever essas músicas no fim do verão de 2017. Para ser honesto, quando começamos a compor não temos nenhuma ideia de onde ele vai parar. Tentamos sempre sair escrevendo sobre tudo o que nos dá inspiração. Geralmente é nesse começo que saem coisas estranhas e maravilhosas", explicou o vocalista e guitarrista do grupo. 

O que mudou em dez anos?

"Muita coisa mudou. Muita", diz Harry McVeigh ao emendar uma pausa de alguns segundos ao telefone. "Todos nós temos refletido sobre o primeiro disco agora que ele completa dez anos. Ele é muito importante para nossa vida. Foi uma grande virada na nossa carreira. Ainda acho incrível que, dez anos depois, estejamos fazendo a mesma coisa, sabe? Eu amo o primeiro disco e ainda o ouço ocasionalmente".

Embora comemore a maturidade atingida como compositor, o britânico ainda sente que seu álbum de estreia tem um fator impossível de ser repetido em qualquer outro trabalho que façam.

"A espontaneidade na hora de fazer música não tem como reproduzir. Não há planos e nem fórmulas. Éramos só nós três em um quarto tentando escrever uma música. É claro que cometemos erros, mas no final acabamos chegando em conclusões maravilhosas. No fim acaba saindo algo mais puro", explicou. "Acho que hoje escrevemos melhor hoje, mas aquele disco é o que dita o seu futuro. O que você ouve lá imediatamente ele já deixava claro o que seria o White Lies".

Harry McVeigh do White Lies - Carla Speight/Getty Images - Carla Speight/Getty Images
Harry McVeigh, líder do White Lies
Imagem: Carla Speight/Getty Images

A música quase descartada

"Time to Give", faixa que abre o disco "Five", por pouco não foi parar na lixeira. Primeira a ser lançada nas plataformas digitais, em setembro, a música caiu nas graças dos fãs e já soma 500 mil views no YouTube. 

"Ela foi escrita quase no final das sessões de gravação. Estávamos prontos para descartá-la. Não estávamos pensando muito sobre ela. Ela era só um verso e refrão. Quando tocamos ela no estúdio surgiram vários planos e melodias para seus arranjos de uma maneira que ela poderia progredir", disse Harry. 

Quando "Five" estava literalmente no último de gravação foi que uma solução nasceu para "Time to Give". "Foi às 22h que Charles sugeriu que a gente gravasse alguns vocais e foi isso que criou uma unidade para ela. É assim que funciona. Algumas canções dão sinais e você se apega. Tem outras que você deixa de lado e se dá conta de que ela é legal como um todo".

"Tem algumas músicas, como 'Tokyo', que já sabemos que com um grande refrão pode se tornar uma boa canção pop. Já sabíamos ali que teríamos uma boa canção, mas às vezes não sabemos como preencher as lacunas. Isso pode tornar o processo um pouco mais difícil até encontrar algo que funcione. Tem algumas canções que demoram muito para chegar em uma solução."

Veia pop de "Tokyo"

"Tokyo" foi lançada como single há duas semanas e mostrou um White Lies ainda próximo de seu álbum de estreia, mas com uma levada mais solar que flerta com o pop. "É um single muito forte. Essa canção nasceu a partir do seu refrão. Durante muito tempo nós só tínhamos isso. Uma melodia excêntrica. Demorou muito tempo para escrevermos o verso e depois para juntar tudo em uma coisa só. Eu amo a letra, a melodia do verso que tem uma certa coisa obscura. Acho que é uma das coisas mais legais que fizemos nos últimos tempos".

Dirigido por David Pablos, o clipe foi gravado em Tijuana, no México, e está com 377 mil visualizações no YouTube. 

Influência de James Brown em um som "grande"

Não. Não é do rei do soul que estamos falando. Há outro James Brown na indústria musical. Vencedor do Grammy, o engenheiro de som com mesmo nome que o famoso cantor trabalhou em diversos álbuns de rock icônicos, como o ambicioso "Sonic Highways", do Foo Fighters, gravado em oito cidades diferentes. Para Harry, o papel do técnico em estúdio foi vital para buscar o tipo de som que o White Lies procurava.

"Ele fez ótimos discos de rock. Focamos neste aspecto do som para soar grande. São músicas muito diferentes entre si, mas que fluem bem no álbum. Nós nos empenhamos mais neste disco do que em qualquer outro anterior".

"Assim que o disco começou a tomar formas nós sentimos que o som era algo mais direto. Acho que ele tem mais o espírito dos álbuns do começo, com um pouco mais das guitarras envolvidas e com grandes momentos. Essa era uma direção que nos agradou e também gostamos do som".

Capa do álbum "Five", do White Lies - Reprodução - Reprodução
Capa do álbum "Five", do White Lies
Imagem: Reprodução

A arte do álbum em Braille

Criado para auxiliar as pessoas cegas ou com a visão limitada, o Braille é um sistema de escrita tátil que se utiliza do relevo em superfícies. A configuração minimalista dos pontos chamou atenção do trio, que usou este conceito não só para a capa do disco e dos singles, mas também lançou um livro com todas as letras das músicas reproduzidas em Braille.

"Nós não tínhamos muito tempo para trabalhar na arte do disco. Bem no início já havíamos decidido que iríamos fazer algo bem simples e gráfico em vez de usar uma pintura ou uma foto. Foi Charles [Cave] que trouxe essa sugestão e achamos aquilo muito cativante. É uma imagem muito intrigante. Muitas pessoas nem notaram o que é Braille", explicou.

Livro em Braille do White Lies - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação

O passo seguinte foi fazer o livro, cuja edição limitada a 500 cópias é vendida no site da banda. "Nós não queríamos simplesmente nos apropriar do Braille sabendo o que ele significa para as pessoas que o usam. A gente precisava usar a linguagem de uma maneira efetiva para as pessoas usarem. Fiquei feliz que fizemos isso. Inicialmente amamos o visual e sabíamos que era algo que seria usado em toda nossa divulgação em pôsteres e capas."

Planos para uma turnê no Brasil

O White Lies veio ao Brasil logo que estourou no exterior e passou por aqui em 2010 e 2011. Desde então, os fãs só puderam acompanhar de longe a evolução de Harry McVeigh e seu grupo. O líder da banda é direto ao explicar a dificuldade de vir até a América do Sul.

"Não temos planos de América do Sul e nem Brasil. Acho que a última vez que estivemos aí foi em 2011. Faz muito tempo e temos muita vontade. Sabemos que temos muitos fãs, mas precisamos de um bom festival para ir. Para nós é muito caro viajar para a América do Sul com nossa equipe e estrutura. Espero que isso não demore muito".