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Time's Up condena retorno de John Lasseter: "Perpetua um sistema falido"

John Lasseter - Divulgação
John Lasseter Imagem: Divulgação

Rodolfo Vicentini

Do UOL, em São Paulo

09/01/2019 19h29

A contratação de John Lasseter, o polêmico chefão da Pixar que saiu da empresa após acusações de assédio e de má conduta no trabalho, pela Skydance Animation repercutiu em Hollywood.

O movimento Time's Up condenou a volta de Lasseter, afirmando que a situação "perpetua um sistema falido".

"A decisão da Skydance Media de contratar John Lasseter como diretor de animação endossa e perpetua um sistema falido que permite homens poderosos a agir sem consequências", escreveu a organização em um comunicado.

No momento em que deveríamos levantar as muitas vozes talentosas que são constantemente sub-representadas, a Skydance está permitindo outra posição de poder e privilégio para um homem que repetidamente foi acusado de assédio sexual em seu ambiente de trabalho", acrescentou o Time's Up.

"As pessoas normalemente questionam quando que um homem que abusou de seu poder pode voltar. Não há resposta simples. Mas aqui vão alguns passos: 1) demonstra remorso verdadeiro; 2) se empenha em mudar seu comportamento; 3) compensa aqueles que machucou. Isso para falar no mínimo".

"Contratações têm consequências. E oferecer um alto cargo para um abusador que ainda pode fazer tudo de novo é perdoar o abuso", completou o movimento.

Acusado de assédio e conduta imprópria no ambiente de trabalho, John Lasseter, ex-diretor e mente criativa por trás das animações da Pixar, Walt Disney Animation Studios e DisneyToon Studios, recebeu uma nova chance na indústria cinematográfica.

Lasseter foi nomeado nesta quarta-feira (9) diretor da Skydance Animation pelo CEO David Ellison. O setor de animação da Skydance Media existe desde 2017, e o primeiro projeto confirmado é "Luck", previsto para chegar aos cinemas em 2021 com direção de Alessandro Carloni ("Kung Fu Panda 3").

"John é um talento criativo singular, cujo impacto na indústria de animação não pode ser medido", disse Ellison. "Ele foi responsável por liderar animações dentro da era digital ao contar histórias incomparáveis que continuam a inspirar e entreter pessoas ao redor do mundo".

Em novembro de 2017, um empregado antigo da Pixar afirmou que Lasseter era conhecido por "agarrar, beijar e fazer comentários sobre os atributos físicos das pessoas".

Outros funcionários da Disney/Pixar explicaram situações semelhantes, em que que se sentiam constantemente "desrespeitados e desconfortáveis" com a postura do chefão, homem mais poderoso e influente da animação americana.

Após as primeiras acusações públicas, Lasseter tirou um período sabático de seis meses e pediu desculpas por "qualquer um que já recebeu um abraço não desejado ou qualquer gesto que tenha ultrapassado o limite de qualquer forma". Após o afastamento, ele anunciou que se desligaria da Disney no final de 2018.

Revolucionário Vencedor de dois Oscars

Lasseter é um dos fundadores da Pixar, que começou como braço da Lucasfilm. Ao lado de Ed Catmull, ele revolucionou a história da animação no cinema, iniciando um novo paradigma com a popularização da técnica 3D.

Em 2006, após a Disney comprar a Pixar, Lasseter foi promovido a diretor criativo da Pixar e da Walt Disney Animation Studios. Ele participou e todas as animações da Disney desde então, supervisionando filmes de sucesso como "Frozen" e "Moana".

Diretor de "Toy Story" e "Toy Story 2", John Lasseter ajudou a Pixar a vencer oito vezes o Oscar de melhor animação, obtendo outras três estatuetas com filmes da Disney e ajudando os estúdios a faturar alto em bilheteria.

Atualmente, a empresa trabalha no quarto capítulo da saga "Toy Story", que seria dirigido por John Lasseter.