Topo

"Fotógrafo fora da lei" conta como tirou 10 mil fotos de grandes shows sem permissão

Prince, Bono e Sting em retratos feitos pelo fotógrafo Julian David Stone - Julian David Stone/Acervo Pessoal
Prince, Bono e Sting em retratos feitos pelo fotógrafo Julian David Stone
Imagem: Julian David Stone/Acervo Pessoal

Osmar Portilho

Do UOL, em São Paulo

19/11/2018 04h00

Assim que uma banda ou cantora sobe ao palco, bastam alguns minutos para termos alguns posts em redes sociais ou até transmissões ao vivo direto do show. Mas nem sempre foi assim. Antes de todos carregarmos celulares com potentes câmeras nos nossos bolsos, os registros de artistas em apresentações ficavam por conta somente de fotógrafos profissionais. E pior: as câmeras eram odiadas pelos seguranças. É nesse ponto que entra o americano Julian David Stone, que se intitula como "fotógrafo fora da lei".

Sem credencial, com equipamentos escondidos e correndo o risco de ser pego por seguranças, o fotógrafo colecionou mais de 10 mil registros em shows de maneira "ilegal". E tudo começou por causa de uma banda.

O fotógrafo Julian David Stone - Divulgação - Divulgação
O fotógrafo Julian David Stone
Imagem: Divulgação

"Os Ramones vieram para a cidade e era minha chance de fotografar um show", contou ele ao UOL, por e-mail. Quando foi entrar no clube, veio a decepção. O segurança reparou que Julian carregava uma bolsa com a câmera e foi enfático: "Câmeras não são permitidas". "Naquele momento, eu decidi que conseguiria minhas fotos dos Ramones de outra maneira".

Ele voltou ao seu carro e, em vez de guardar o equipamento, desmontou os itens e os escondeu pelo corpo. Lente em uma meia, câmera em outra e os rolos de filme na cueca. O truque foi suficiente para burlar a revista do segurança. "Eu tirei as fotos dos Ramones naquela noite e dali em diante eu estava viciado naquilo", completou.

Essa história é o pontapé de inúmeros outros casos que culminaram em seu livro "No Cameras Allowed: My Career as an Outlaw Rock and Roll Photographer" (Câmeras não são permitidas: Minha carreira como um fotógrafo de rock and roll fora da lei, em tradução livre").

Do improviso de colocar câmera e lente em suas meias, Julian partiu para ideias mais ousadas, como prender os itens com fita adesiva no corpo e até um passo mais avançado. "Finalmente eu fiz uma sobretudo customizado para esconder o equipamento dentro do forro e registrei dezenas de grandes nomes dos anos 80, como Prince, U2, The Police, David Bowie, REM, Elvis Costello e muitos outros".

Boa parte destes registros estão no livro, que reúne 250 fotos e relatos de alguns "causos" do fotógrafo como "roadies enormes, seguranças violentos e alguns fãs bêbados".

Joan Jett - Julian David Stone/Acervo Pessoal - Julian David Stone/Acervo Pessoal
A roqueira Joan Jett; roadie furioso perseguiu Julian David Stone
Imagem: Julian David Stone/Acervo Pessoal

Boas lembranças e alguns esculachos

É claro que a tática de Julian é boa -- afinal ele tem um acervo de 10 mil fotos --, mas não era infalível. "A melhor parte era voltar com fotos de alguns concertos históricos, como The Police no Shea Stadium, em 1983, e Prince, em 1985, quando ele estava em seu auge como artista e um sucesso absoluto".

"A pior parte era as vezes que fui pego. Fui expulso de um show do Duran Duran, em 1984, e tive que fugir correndo de um roadie muito, mas muito bravo, da Joan Jett", completou.

Com o livro lançado e uma coleção invejável de fotos de shows, Julian David não parece nem um pouco arrependido do caminho "fora da lei" que escolheu para ficar próximo dos palco e da música.

"Eu entrei na fotografia muito cedo, mas eu gostava mesmo do rock and roll. Quando eu rapidamente percebi que não seria o próximo Eric Clapton ou David Gilmour, eu tive que descobrir um outro caminho para fazer parte disso e aí comecei a fotografar os shows".