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Em "Animais Fantásticos 2", Johnny Depp apaga imagem de Jack Sparrow

Johnny Depp em cena de "Animais Fantásticos 2: Os Crimes de Grindelwald" - Reprodução
Johnny Depp em cena de "Animais Fantásticos 2: Os Crimes de Grindelwald"
Imagem: Reprodução

Rodolfo Vicentini

Do UOL, em São Paulo

17/11/2018 04h00

Se no primeiro filme da franquia "Animais Fantásticos" Johnny Depp tinha uma participação pequena, na sequência que estreou nesta quinta-feira (15) nos cinemas, "Os Crimes de Grindelwald", é ele quem faz o show. Sua atuação brilhante como o poderoso bruxo apaga a imagem cansativa de Jack Sparrow que Depp carrega, direta ou indiretamente, desde 2003, quando saiu "Piratas do Caribe: A Maldição do Pérola Negra".

O ator de 55 anos vive Gellert Grindelwald, o antagonista que dá nome ao segundo capítulo da franquia. O objetivo do vilão é que bruxos de puro-sangue dominem não apenas o mundo bruxo, mas toda a sociedade em que vivem os "trouxas" --como são chamados aqueles que não têm poderes. Para conseguir isso, ele tem que ir atrás de Credence Barebone (Ezra Miller), um jovem com forças extraordinárias que quer entender o próprio passado.

Brincando com a ideia maquiavélica do bem contra o mal, o filme apresenta uma versão jovial de Alvo Dumbledore (Jude Law), que faz mistério ao revelar que não pode enfrentar Grindelwald. Sabendo da importância de Credence, Newt Scamander (Eddie Redmayne) acaba, por força do destino, viajando a Paris para encontrar o garoto e garantir que Grindelwald não fique ainda mais poderoso.

Zoë Kravitz e Johnny Depp em cena de "Animais Fantásticos 2: Os Crimes de Grindelwald" - Reprodução - Reprodução
Zoë Kravitz e Johnny Depp em cena de "Animais Fantásticos 2: Os Crimes de Grindelwald"
Imagem: Reprodução

O malvado bruxo toma a responsabilidade de dar o tom do enredo, deixando para trás o trio principal formado por Newt, Tina Goldstein (Katherine Waterston) e Jacob Kowalski (Dan Fogler), muito menos interessante em comparação ao antagonista. A imagem andrógena do personagem, que descaracteriza Depp, foi feita com exatidão para virar um personagem pop e tentar rivalizar o interesse dos fãs por Lord Voldemort.

Já que a produção acerta na maquiagem e na caracterização, é responsabilidade de Depp encarnar o vilão. Não há exageros, não há sorrisos irônicos ou risadas forçadas. O papel do ator é polido e singular em relação a muitos personagens que ele fez no cinema, dando uma lufada de frescor para o futuro da franquia e a própria atuação de Depp.

Revitalizando seus personagens

Desde "Piratas do Caribe", franquia que começou há 15 anos e arrecadou mais de US$ 4,5 bilhões nos cinemas mundiais, o ator carrega o fardo de ter Jack Sparrow em sua cola. O pirata bêbado e atrapalhado já apareceu em cinco filmes, e indiretamente marcou presença em outras produções.

Jack Sparrow (Johnny Depp) na franquia "Piratas do Caribe" - Reprodução - Reprodução
Jack Sparrow (Johnny Depp) na franquia "Piratas do Caribe"
Imagem: Reprodução

Depp usou cacoetes, trejeitos e expressões faciais do pirata em personagens de outros filmes, caso de "A Fantástica Fábrica de Chocolate" (2005), "Alice no País das Maravilhas" (2010), "Sombras da Noite" (2012) e "O Cavaleiro Solitário" (2013). Estão lá o olhar atrapalhado, o jeito desengonçado, as caretas e o humor. O curioso é que a culpa não é toda de Depp, mas sim dos próprios papéis, alocados a ele após sua performance como Sparrow fazer tanto sucesso com o público.

O caso do astro é semelhante ao de Robert Downey Jr., que abraçou com toda a força a personalidade de Tony Stark. Desde "Homem de Ferro" (2008), ele --que já foi indicado ao Oscar por "Chaplin" (1992)-- não expandiu seus personagens para além dos seus traços já conhecidos, arriscando até uma versão de Sherlock Holmes com os moldes do herói da Marvel.

Quando tentou se distanciar da versão caricata de Jack Sparrow em filmes mais dramáticos, Johnny Depp não conseguiu emplacar um blockbuster. A premissa interessante de "Transcendence: A Revolução" (2014) foi um fiasco de crítica e bilheteria; a adaptação de "Assassinato no Expresso do Oriente" (2017) não cativou os ansiosos fãs de Agatha Cristie; e o sensacional "Sweeney Todd, o Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet" (2007), que rendeu sua terceira indicação ao Oscar, não teve força para atingir outro público além dos admiradores de Tim Burton.

Nos últimos anos, Depp acertou em dois personagens com muito em comum: John Dillinger, em "Inimigos Públicos" (2009), e Whitey Bulger, em "Aliança do Crime" (2015). Na pele de dois criminosos, o ator conquistou pelo charme, carisma e maldade. As performances podem ter sido um teste de confiança para Depp viver mais um um grande vilão no cinema.

"Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald" vem com grande expectativa para fazer uma boa bilheteria e poderá ser fundamental para Depp revitalizar e expandir suas atuações. É inevitável prever: o vilão será um dos nomes mais importantes dentro do universo mágico criado por J.K. Rowling.