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Youtuber cria clipes "piratas" misturando cinema e música —e você vai se apaixonar

Leonardo Rodrigues

Do UOL, em São Paulo

11/11/2018 04h00

É um desafio não apaixonar pelo casal de “Crush”, clipe insinuante do Cigarettes After Sex. Ao som do grupo americano, os dois flertam, passeiam por uma Europa idílica e vivem de forma plena o amor dos anos 1960. O detalhe: ele, na verdade, é um ator com tara sadomasoquista e ela, uma prostituta, personagens do filme “Trans-Europ-Express”, do francês Alain Robbe-Grillet.

O vídeo, que você vê acima, é um dos mais acessados do canal brasileiro “i'm cyborg but that's ok”, página não oficial que vem publicando videoclipes alternativos de artistas indies. A sonoridade é quase sempre romântica e as músicas, editadas com cenas de longas variados, de dramas da Nouvelle Vague, de Jean-Luc Godard, a filmes mais contemporâneos como “Her”. Também há destaque especial para o cinema produzido na Ásia.

“Eu sempre gostei de criar coisas bobas, mas eu colocava no privado. Um dia resolvi fazer esse canal e colocar como público, mas sem qualquer pretensão que alguém fosse ver. Aliás, um fato interessante é que eu nunca divulguei meu canal”, diz ao UOL a criadora do canal, autointitulada “Cyborg”, prefere não revelar a identidade. O apelido e o nome da página foram tirados do filme sul-coreano “Eu Sou um Cyborg, e Daí?” (2006).

A jovem misteriosa, que sonha em ser cineasta, diz já ter trabalhado com criação de jogos, jardinagem, fotografia e, mais recentemente, redes sociais. Atualmente, dedica-se a projetos de arte na internet. Segundo ela, a ideia de suas edições é exacerbar os sentimentos dos internautas e, em geral, isso funciona.

Diversos clipes adicionam profundidade e carga dramática inexistentes nos originais, quando existem. É o caso, por exemplo, de “I Miss You”, do Blink-182, inteiramente ressignificada com as cenas vintage do documentário italiano “Un'ora Sola ti Vorre” (2002), em que a italiana Alina Marazzi investiga as origens da mãe, morta em 1972.

“Não sei se meus vídeos são melhores que os clipes originais, mas eu acho que filmes bons carregam uma bagagem emocional que, ligada a boas músicas, acabam se tornando algo muito especial”, entende Cyborg.

Criado em 2015, o canal foi crescendo aos poucos e, hoje, conta com quase expressivos 400 mil inscritos. Faça o teste: é fácil encontrar os vídeos nos mecanismos de busca lado a lado com as versões originais. As postagens são feitas toda semana e há vídeos com mais 1 milhão de visualizações. O mais acessado, com 7,3 milhões de views, é o de “My Kind of Woman”, do cantor canadense Mac DeMarco, que pega emprestado o clima não linear de “Masculino, Feminino”, de Gordard.

Conforme indicam as caixas de comentários dos vídeos, a maioria dos assinantes do canal está em outros países, eles fazem sugestões de edições com frequência. Todos unidos pela arte (e pela fossa). O critério de seleção de músicas e filmes, no entanto, é estritamente pessoal. “Acho que todo mundo no fundo é um pouco sentimental”, diz Cyborg. “Acredito que meu canal seja algo com que as pessoas se identificam e se sentem felizes e triste assistindo. Dói, mas é gostosinho ter essas sensações, né?”

Direitos autorais

A grande porém da proposta de “i'm cyborg but that's ok” está nas diretrizes de direitos autorais seguidas pelo YouTube, que preconiza conteúdos 100% originais. Em alguns casos, vídeos acabam sendo barrados pela plataforma, parando na fanpage do canal no Facebook. A criadora afirma que, por questão ética, nunca optou por tentar monetizar nenhum vídeo. Seu trabalho é inteiramente voluntário.

“Sempre tenho problema com direito autoral. Já deu strike [quando o YouTube bloqueia a página para o administrador] duas vezes, muito tempo atrás. Uma por nudez leve e outra por causa das músicas da Lana del Rey. O YouTube sempre bloqueia alguns vídeos, mas é tranquilo. Eu fico chateada, mas simplesmente deleto ou tento dar um jeito de arrumar.”

Veja abaixo os quatro melhores vídeos selecionados pela criadora do canal