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Como Claire Foy foi de caixa de supermercado a bola da vez em Hollywood

A atriz britânica Claire Foy, da série "The Crown", que virou "queridinha" em Hollywood - Valerie Macon/AFP
A atriz britânica Claire Foy, da série "The Crown", que virou "queridinha" em Hollywood Imagem: Valerie Macon/AFP

Leonardo Rodrigues

Do UOL, em São Paulo

07/11/2018 04h00

A britânica Claire Foy é a mais perfeita encarnação da rainha Elizabeth II na série "The Crown". Em "First Man", na pele de uma angustiada Janet Armstrong, mulher do astronauta Neil Armstrong, ela brilha intensamente. No suspense "Distúrbio", de Steven Soderbergh, Claire é uma mulher perseguida que acaba em um hospital psiquiátrico. Para variar, ela rouba a cena mais uma vez, assim como em "A Garota na Teia de Aranha", novo filme da saga Millennium, que estreia nesta quinta-feira no Brasil. Sua versão da hacker Lisbeth Salander parece definitiva.

Aos 34 anos, Claire surge como a nova bola da vez de Hollywood, que já a reconhece como um promissor talento, capaz de interpretar qualquer papel e candidata a possíveis indicações ao Oscar. Para alguns críticos, considerando sua carreira ascendente e o aceno de produtores e cineastas, o prêmio de melhor atriz é apenas questão de tempo. Basta ela estar na hora certa, no filme certo. Não se surpreenda se isso acontecer.

Desde que apareceu para o mundo como uma jovem e insegura Elizabeth II nas duas primeiras temporadas de "The Crown" (2016-2017), destaque do catálogo da Netflix, ela já abocanhou um Globo de Ouro, um Emmy e um SAG (Screen Actors Guild), o prêmio do Sindicato dos Atores. Seu trabalho nunca foi tão reconhecido.

Tudo isso, no entanto, não veio sem doses de sofrimento e sacrifícios pessoais. Admirada por milhões e com contratos cada vez mais polpudos, Claire, que não veio de família artística, agora tem uma missão que lhe parece ser a mais natural: manter os pés no chão. "A fama me parece um conceito muito abstrato. Só posso dizer que estou feliz fazendo o que gosto em projetos tão incríveis. Tudo isso é como um grande sonho", afirmou ela durante o último Festival de Veneza.

Entenda a seguir, em cinco pontos, como a atriz se tornou a mais nova queridinha de Hollywood e por que você não deve desgrudar os olhos dela nos próximos anos. Muita coisa boa deve vir por aí.

Claire Foy em "Caça as Bruxas" - Divulgação - Divulgação
Claire Foy em cena de "Caça as Bruxas" (2011), dirigido por Dominic Sena
Imagem: Divulgação

Ralou muito (como qualquer um)

Descendente de irlandeses e filha de pais separados desde os 8 anos, Claire Foy nasceu em Stockport, região metropolitana de Manchester, e não teve berço de ouro. Seu pai era vendedor e sua mãe trabalhava em uma empresa farmacêutica. Para bancar os estudos em artes cênicas estudou na Liverpool John Moores University e na Oxford School of Drama, ela trabalhou como garçonete, operadora de telemarketing, entregadora de comida, segurança do torneio de tênis de Wimbledon e até como caixa de supermercado.

Segundo ela, que não teme soar demagógica, essas experiências foram preponderantes na construção de sua personalidade e a ajudaram a lidar bem com adversidades que passou a enfrentar. Foram quase dez anos de ralação nos palcos e telas antes do sucesso. "O tilintar das registradoras me emociona. É um sonho. O melhor trabalho que tive antes de ser atriz foi o de caixa de supermercado. Adoro vender coisas às pessoas", disse em entrevista, honrando a tradição familiar.

Claire Foy, de "The Crown", chegou a se emocionar ao agradecer por Emmy - Kevin Winter/Getty Images - Kevin Winter/Getty Images
Claire Foy, de "The Crown", se emocionou ao receber Emmy
Imagem: Kevin Winter/Getty Images

Não estourou de primeira

Antes de emplacar em "The Crown", Claire atuou no teatro e em diversas produções da TV britânica, incluindo as minisséries "Little Dorrit" e "Wolf Hall", que lhe renderam reconhecimento. O namoro com o cinema começou com "Caça às Bruxas" (2011), fantasia estrelada por Nicolas Cage, e seu primeiro papel de protagonista veio no drama inglês "Wreckers" (2011), com Benedict Cumberbatch. Ela também atuou em um papel pequeno em "A Senhora da Van" (2015), com Maggie Smith.

Nenhum desses filmes, entretanto, conseguiu emplacar mundialmente bem, nem captar seu alento. Tudo mudou quando ela tomou coragem e decidiu se inscrever nos testes para protagonista de "The Crown". Na época, ela estava grávida da primeira e até agora única filha, Ivy, hoje com três anos. "Assim que a vi em um teste, perguntei a mim mesmo por que não a tinha convocado antes. Foi sensacional. Vi que estava testemunhando o surgimento de uma nova estrela. Foi como ver nascer uma nova Judi Dench. Trabalhei com algumas das grandes atrizes deste ofício, e Claire está lá em cima com elas", afirmou Peter Morgan, criador da série.

Claire Foy interpreta Lisbeth Salander no novo "A Garota na Teia de Aranha" - Reprodução - Reprodução
Claire Foy interpreta Lisbeth Salander no novo "A Garota na Teia de Aranha"
Imagem: Reprodução

Superou tumores

Aos 17 anos, a futura estrela do cinema foi diagnosticada com um tumor no olho, felizmente benigno. Por um ano e meio, tratou-se usando esteroides, o que a fez ganhar peso e rugas no corpo. "Foi horrível e debilitante, mas me fez perceber que tinha de agarrar a vida que queria. Se isto não tivesse acontecido, não sei se teria sido capaz de dizer que queria estudar drama", já disse ela em entrevista.

E 15 anos depois, enquanto rodava a segunda temporada da série "The Crown", Claire Foy se viu em situação parecida, quando o então marido, o também ator Stephen Campbell Moore, pai de Ivy, foi diagnosticado com um tumor, também benigno, na base do cérebro. Ele foi operado no ano passado e não corre mais perigo.

Claire Foy, que nunca escondeu sofrer de transtorno de ansiedade  - Getty Images - Getty Images
Claire Foy, que nunca escondeu sofrer de transtorno de ansiedade
Imagem: Getty Images

Desenvolveu transtorno de ansiedade

Em entrevista à Guardian Weekend, Claire preocupou fãs revelando sofrer desde a separação dos pais com crises de ansiedade, algo que explodiu quando começou a carreira de atriz. Segundo ela, sua mente é uma aliada, mas muitas vezes também uma inimiga, que "trabalha a mil por segundo" e a impede de fazer coisas simples. "O problema é que isso não está relacionado a nada que pareça lógico. Tem a ver com aquele sentimento na boca do seu estômago, e a sensação de que você não pode fazer alguma coisa, porque você é 'isso' ou você é 'aquilo'", afirmou.

A atriz diz recorrer à terapia para manter a vida pessoal e profissional nos trilhos. E, segundo ela, isso tem funcionado muito bem, influenciando positivamente na maneira simples como ela lida com o próprio sucesso. "Chegou a hora em que todos que me conheciam recomendaram que eu fosse à terapia. Eu fiz isso e estou feliz por ter prestado atenção a eles, porque hoje minha ansiedade está muito mais estabilizada."

Elizabeth (Claire Foy) e Phillip (Matt Smith) em cena da segunda temporada de "The Crown" - Robert Viglasky/Netflix - Robert Viglasky/Netflix
Elizabeth (Claire Foy) e Phillip (Matt Smith) em cena da segunda temporada de "The Crown"
Imagem: Robert Viglasky/Netflix

Virou símbolo na campanha por paridade salarial

Apesar de ser protagonista e estrela das primeiras duas temporadas de "The Crown", Claire recebia, segundo a imprensa britânica, cerca 29 mil libras (R$ 143 mil na cotação atual) por episódio, substancialmente menos que seu colega de elenco Matt Smith, que viveu o príncipe Philip, marido de Elizabeth II. A justificativa: o ator era mais famoso por já ter protagonizado quatro temporadas de "Doctor Who". Embora evite o assunto, a atriz se tornou um dos símbolos da campanha pela paridade salarial e pelo fim do assédio no mundo do entretenimento, o que a colocou ainda mais nos holofotes.

Mesmo ela tendo sido a grande responsável pelo êxito da atração, a compensação salarial não foi feita pela Netflix. "Sou um pouco idealista e confio na igualdade, no empoderamento, embora ainda tenhamos muito a fazer. Encontrar coragem para manter esta conversa, para impulsionar aquelas que chegam e nos apoiarmos nas que estiveram antes nesta mesma batalha, conseguir que se pense na mulher e na feminilidade de outra forma. É extraordinária a abertura que estamos desfrutando na hora de falar, mas a mudança levará tempo."