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Como o Stifler de "American Pie" se tornou o novo astro de "Máquina Mortífera"

Seann William Scott e Damon Wayans em imagem promocional da terceira temporada de "Máquina Mortífera" - Divulgação
Seann William Scott e Damon Wayans em imagem promocional da terceira temporada de "Máquina Mortífera"
Imagem: Divulgação

Beatriz Amendola

Do UOL, em Los Angeles*

25/09/2018 04h00

Há alguns meses, a série “Máquina Mortífera” – exibida no Brasil pela Warner e que estreia nesta terça-feira nos EUA sua terceira temporada – se encontrava em uma daquelas situações de arrepiar os cabelos de qualquer executivo de TV: seu protagonista Clayne Crawford, o Riggs, era acusado por colegas de elenco e equipe de ter um comportamento agressivo e criar um “ambiente hostil” nos sets de filmagens. O drama dos bastidores chegou à imprensa e ao público, com o ator recebendo críticas explícitas do outro protagonista da atração, Damon Wayans. Crawford acabou demitido, e Seann William Scott, o Stifler de “American Pie”, foi escalado como o novo ator principal da série, em outro papel.

Entre a demissão e a contratação de Scott, porém, a série correu o risco de ser cancelada – e seus produtores tiveram que se virar em tempo recorde para encontrar uma solução. Matt Miller, showrunner de “Máquina Mortífera” desde sua primeira temporada, contou com exclusividade ao UOL e a um grupo de jornalistas da América Latina como foi essa corrida contra o relógio, e relembrou os percalços enfrentados pela equipe até se chegar ao nome de Scott.

“Foi muito, muito rápido”, lembra Miller, em conversa no set da série, em Los Angeles. O escândalo o pegou de surpresa enquanto ele estava de férias com a família do outro lado do Atlântico, na França. “Eu sabia que a Warner Bros. não ia continuar a série com o Clayne, então havia uma questão: a série vai acabar, ou há outra forma de resolvermos isso?”

Por um momento, ele e a equipe chegaram a acreditar que era o fim da linha para “Máquina Mortífera”. Até que uma ligação da Warner mudou o jogo: Peter Roth, executivo do estúdio, havia se encontrado com Dana Walden, presidente da divisão televisiva da Fox (emissora que exibe a série nos Estados Unidos), e ela havia se mostrado disposta a dar continuidade à produção. A única condição era que a nova escalação fosse “especial”.

Clayne Crawford como Martin Riggs na série "Máquina Mortífera" - Divulgação - Divulgação
Clayne Crawford como Martin Riggs na série "Máquina Mortífera"; ator deixou a série após problemas nos bastidores
Imagem: Divulgação

O tempo era curto, já que em uma semana aconteceriam os Upfronts, as apresentações em que as emissoras norte-americanas anunciam sua programação para a próxima temporada. “Tínhamos uma janela em que iriam nos anunciar como renovada ou não. E com quem nós, criativamente, poderíamos concordar? Quem era o nome certo? Essa pessoa iria aceitar? Teria que fazer o contrato... Tudo isso tinha que acontecer em um período de tempo extremamente acelerado”, explica Miller.

A equipe então fechou uma lista de nomes e começou a discutir com a Fox sobre qual seria o melhor. No meio disso, por um acaso do destino, Seann William Scott foi à emissora para apresentar outro projeto com o qual estava envolvido. “Alguém da Fox me ligou e disse: ‘Seann esteve aqui agora, e ele parece ótimo. O que você acha dele?’ Eu respondi que ele seria fantástico”.

A coincidência não poderia ser mais feliz, já que o ator também estava interessado no projeto. “Seann tinha lido no jornal sobre Riggs deixando a série e pensou em ligar para o agente dele e dizer 'que tal eu para aquilo lá?', então foi perfeito. Estava escrito nas estrelas”, lembra Miller.

O trabalho, claro, não acabou por aí: “Eu tive que ligar para o Seann da França, e um dia antes eu nem tinha pensado nele para a série. Tive que pensar rápido no que eu achava que seria o personagem que ele faria”. O showrunner voou de Paris para Los Angeles e, em seguida, para Nova York, onde encontrou o astro. “Nos demos muito bem. Falei o que estava pensando, ele disse que era fantástico, e desde então esse processo evoluiu bastante, porque eu não havia tido tempo para pensar”.

Após a Fox oficializar a renovação da série e a contratação de Scott, Miller voltou para Los Angeles e, do aeroporto, foi direto à sala de roteiristas, onde começou a trabalhar com sua equipe no roteiro da temporada – que irá fechar o arco de Riggs enquanto apresenta o público ao novo personagem.

“Mesmo que Seann não seja igual a Clayne, os dois são caras bonitos, mais velhos e brancos. Não escalamos uma mulher, nem um personagem diverso – e foram ideias que consideramos. Acabamos escalando Seann, e ele tem que ser bem diferente de Riggs, mas compartilhar algumas características semelhantes. Como ele interage não só com Murtaugh [Wayans], mas com a família dele? Como ele interage com os outros policiais? Todas essas dinâmicas são novas e você precisa de novas ideias”.

Mas afinal, qual o personagem de Seann?

Seann William Scott entrará na série como Wesley Cole, ex-agente da CIA que deixa a Síria para retornar a Los Angeles, onde se torna policial. “Cole é um personagem que fez muitas coisas na vida, ele tem sangue nas mãos”, explica Miller. “Ele tenta se redimir pelas mortes que causou. Ele não está sentado no quarto com uma arma, pensando em se matar; ele está se envolvendo nas situações e tentando desarmá-las. Ele não gosta de usar a arma, ela é o último recurso, e ele não a usa por metade temporada”.

O novo protagonista está sendo, nas palavras de Miller, “absolutamente encantador”. “Desde o começo ele tem sido incrivelmente entusiasmado e solícito”, conta. “Ele está muito animado. Somos muito afortunados por estarmos sempre na mesma página em relação ao personagem”. E os dois têm se preocupado em não tornar o novo personagem muito parecido com os outros já interpretados por Seann: “Não queremos que pensem ‘é Stifler com uma arma, e acho que essa é uma preocupação dele também. Mas ele é o cara mais legal do mundo. E ele está bem malhado agora, então realmente parece que ele pode arrebentar”.

A entrada de Cole, segundo o showrunner, é um recomeço para a série. “É a introdução de um novo protagonista. É um episódio muito grande, caro e extravagante, e a Warner está muito brava com o quão caro ele é [risos], mas é porque tivemos que lançar um novo piloto, e pilotos custam muito mais do que episódios normais”, justifica, afirmando que o capítulo terá “qualidade de cinema”. 

*A repórter viajou a convite do Warner Channel