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De galã teen a rei do rap: Como Drake virou o músico mais popular do mundo

O rapper canadense Drake - Divulgação
O rapper canadense Drake
Imagem: Divulgação

Leonardo Rodrigues

Do UOL, em São Paulo

19/07/2018 04h00

Ele é rapper, cantor, ator e também responde pelo título de músico mais popular do mundo desde 2016. Não é exagero. O canadense Drake pulveriza recordes de streaming com seu novo álbum, "Scorpion", que bateu a marca de 1 bilhão de reproduções. Nos EUA, ele obteve o feito histórico de colocar sete músicas simultaneamente entre as dez mais ouvidas do país.

Drake, 31, não está de brincadeira, e suas façanhas se multiplicam: alavancado por dois trabalhos mais recentes de estúdio, ele já empilha 31 entradas no Top 10 americano, contra 30 da lenda Michael Jackson —que, por sinal, participa da recente "Don't Matter to Me", e sempre é citado pelo rapper como influência.

No Brasil, Drake é a galinha de ouro cortejada por empresários e produtoras, ávidos pela chance de promover sua histórica primeira apresentação no país. Só um grande estádio ou um festival do porte de um Rock in Rio ou Lollapalooza parecem aptos a recebê-lo, com a certeza de ingressos esgotados.

Mas como explicar a ascensão vertiginosa do ex-galã teen da série "Degrassi: The Next Generation", que saiu do nada e abraçou as paradas, em tempos de mercado diluído, cada vez menos propício a grandes estouros?

Uma combinação de fatos e características artísticas ajuda a explicar o fenômeno, que ainda deve durar por mais um bom tempo.

O rapper Drake no início de carreira - Getty Images - Getty Images
O rapper Drake no início de carreira
Imagem: Getty Images

Começou na hora e da forma certas

Filho de músico, Drake resolveu investir na carreira em meados dos anos 2000, momento em que as mixtapes, disponibilizadas gratuitamente na internet, começavam a despontar como melhor formato de divulgação no rap. O "buzz" criado em cima dos primeiros trabalhos de Drake, na época visto apenas como um muso teen da TV canadense, logo despertou a atenção de gravadoras. O sucesso foi instantâneo.

Os rappers Lil Wayne e Drake - Getty Images - Getty Images
Os rappers Lil Wayne e Drake
Imagem: Getty Images

Arranjou os melhores mentores

Após ser contratado pela gravadora Young Money, do rapper Lil Wayne, Drake recebeu um empurrãozinho de Weezy, Young Jeezy, Kanye West, Jamie xx e outros midas do hip-hop, o que facilitou as colaborações e serviu de catapulta para o topo das paradas. A aproximação com o cantor Trey Songz, que deu ao canadense exposição no mainstream e credibilidade na cena do rap, também foi fundamental. Drake nunca esteve sozinho.

Drake - Instagram - Instagram
Imagem: Instagram

Virou o primeiro "cantor de rap"

Recheadas por temas prosaicos e pessoais, as músicas de Drake têm verve eclética, ora passeando pelo rap tradicional, ora virando pop com algum elemento experimental. Esperto, ele sabe o poder das melodias, usadas e abusadas em seu trabalho. Drake já ultrajou puristas do gênero ao se autoproclamar "o primeiro rapper que canta", com forte influência do R&B dos anos 1990. "Hotline Bling", "One Dance" e "God's Plan", por exemplo, dão sentido à teoria.

Drake durante o NBA Awards Live - Getty Images/TNT - Getty Images/TNT
Imagem: Getty Images/TNT

Apostou na vulnerabilidade e minimizou a marra

Drake já foi considerado um dos rappers mais "sensíveis" da cena, distante de estereótipos que ligam o gênero ao universo das ruas e/ou criminalidade, muito comuns no milionário gangsta rap. Seu estilo até passa por certas polêmicas e extravagâncias, mas Drake, inteligentemente, tenta se vender como um homem comum, bem-humorado, que "amacia" a cultura do hip-hop e se assume um sujeito sentimental, fã de Marvin Gaye.

Rihanna e Drake - Getty Images - Getty Images
Imagem: Getty Images

Fez parcerias com quem importa

Parcerias são receitas de sucesso das mais infalíveis no pop do século 20. Não é de admirar que Drake e sua equipe investem tanto e tão bem nelas, pinçando o que há de mais relevante no rap, pop e R&B de sua época. Lil Wayne, Kanye West, Eminem, Nicki Minaj, Rihanna, The Weeknd, Jay-Z e Michael Jackson assinam alguns dos "feats" do canadense, que costuma intercalá-los a cada single individual.

O famoso meme do rapper Drake - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução

Capitalizou em cima da internet

Muito popular entre os jovens, Drake nada de braçada no mar viral da internet. O meme "Não quero/Curto", retirado do clipe de "Hotline Bling", é o correspondente mundial do "Feliz/Triste" do brasileiro Chico Buarque. Na era da informação ligeira (e da zoeira), não há campanha de marketing mais efetiva do que ter seu rosto estampado em um arquivo .JPG. Outro exemplo: o desafio da coreografia de "In My Feelings", lançado pelo comediante The Shiggy Show, nova onda da internet abraçada por celebridades como Will Smith e que o próprio Drake fez questão de reproduzir em show. Convenhamos, ele sabe viralizar em cima de si mesmo.

O rapper Drake - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação

Aproveitou a hegemonia do rap

Se no Brasil a queda do rock é fava contada há anos, nos Estados Unidos o gênero foi destronado apenas em 2017, e com uma "ajudinha" do rap. Segundo relatório da empresa Nielsen, que compila vendas de discos físicos, downloads e reproduções de streaming, a combinação rap/R&B já corresponde a 24,5% do mercado americano. Na proa dessa ascensão histórica estão os capitães Kanye West, Jay-Z e, principalmente, Drake, que puxa a fila nas paradas. Enquanto os flows e as rimas estiverem em alta, acredite, ele estará por aí.