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Com cautela, 3ª temporada de "13 Reasons Why" pode ser chance de recomeço para a série

Hannah (Katherine Langford) em cena da segunda temporada de "13 Reasons Why" - Beth Dubber/Netflix
Hannah (Katherine Langford) em cena da segunda temporada de "13 Reasons Why"
Imagem: Beth Dubber/Netflix

Beatriz Amendola

Do UOL, em São Paulo

10/06/2018 04h00

Alerta de Spoiler: O texto a seguir contém revelações sobre a série. Não continue lendo se não quiser saber detalhes da 2ª temporada

Em uma decisão pouco surpreendente, a Netflix renovou “13 Reasons Why” para uma terceira temporada. Pouco surpreendente por dois motivos: o segundo ano da série terminou com várias pontas soltas, o que já indicava uma predisposição prévia para sua renovação, e ele conquistou também uma boa audiência – só nos Estados Unidos, 6 milhões viram o primeiro episódio da segunda temporada no curto período de três dias após seu lançamento. Mas a questão que ronda redes sociais e veículos especializados desde a estreia da temporada não é se “13 Reasons Why” seria renovada, e sim se ela deveria ser.

A série não está na mais favorável das posições: após ser acusada de glamourizar o suicídio da protagonista Hannah Baker (Katherine Langford) na primeira temporada e ser criticada por trazer cenas que podem afetar pessoas que lidam com depressão, a produção tentou corrigir os rumos reforçando os alertas direcionados ao público, mas acabou novamente no centro de uma controvérsia por conta de uma cena de estupro. Espectadores e grupos como o Parents Television Council, que monitora os conteúdos transmitidos na TV americana, voltaram a criticar a Netflix e chegaram inclusive a pedir o cancelamento da série, descrevendo-a como “uma bomba relógio”.

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Não vou aqui entrar na questão da responsabilidade (ou não) por parte Netflix ao continuar trabalhando com temas delicados, pois há especialistas que podem opinar com mais propriedade. Irei me concentrar em outro aspecto: em termos de história, uma nova temporada de “13 Reasons Why” é sustentável?

Adaptação do livro “Os 13 Porquês”, de Jay Asher, a produção havia sido originalmente concebida como uma minissérie, com começo, meio e fim. A história de Hannah e as razões que a levaram ao suicídio foram contadas ao longo de 13 episódios que formaram um conjunto emocionante e cativante. Ainda que a temporada tivesse problemas pontuais de ritmo, a trama mobilizou os espectadores a assistirem até o fim e foi capaz de mobilizar campanhas nas redes sociais como a “não seja um porquê”, que visava a conscientização sobre os efeitos do bullying.

O final deixava pontas soltas, mas poderia bem ter servido de conclusão, já que a história de Hannah havia se encerrado. E a segunda temporada claramente sofreu com isso: ao estender a trama e trocar as fitas pelo tribunal, explorando o julgamento da escola Liberty High por sua responsabilidade na morte da garota, a série perdeu o charme e o impacto de seu estilo narrativo único para adentrar em um gênero já explorado à exaustão na TV.

A série perdeu, também, em foco. Sem querer abrir mão da presença forte de Katherine Langford, “13 Reasons Why” trouxe Hannah de volta como uma “assombração” a perturbar Clay (Dylan Minnette), em uma das escorregadas do roteiro. Ela dividiu espaço com múltiplas tramas que não conseguiram ser igualmente atraentes. Enquanto algumas, como a de Jessica (Alisha Boe) se recuperando do estupro que sofreu, foram construídas de forma interessante, outras nunca chegaram a revelar todo seu potencial, como a de Zach (Ross Butler).

Tyler (Devin Druid) em cena de "13 Reasons Why" - Beth Dubber/Netflix - Beth Dubber/Netflix
História de Tyler deve conduzir nova temporada da série
Imagem: Beth Dubber/Netflix

O desfecho do segundo ano trouxe uma conclusão definitiva à história de Hannah, com o fim do julgamento – e Langford já confirmou que não retornará à série. Mas o fim estabeleceu um terreno claro para uma nova temporada com a tentativa de Tyler (Kevin Duid) de promover um massacre durante um baile para ser vingar daqueles que o violentaram.

A trama do fotógrafo será, claramente, o fio condutor da próxima temporada. Há ainda outras questões pendentes, como o futuro de Bryce (Justin Prentice) e Chloe (Anne Winters), que descobriu estar grávida do atleta, a recuperação de Alex (Miles Heizer) e o vício em drogas de Justin (Brandon Flynn).

Livre da necessidade de retornar à história de Hannah, “13 Reasons Why” pode encontrar um caminho para desenvolver melhor a história de seus outros personagens. Deu certo, por exemplo, com “Narcos”, que trouxe uma boa terceira temporada apesar de não contar mais com o Pablo Escobar de Wagner Moura, maior estrela da série.

A criação de Brian Yorkey, produzida pela cantora Selena Gomez, entretanto, tem de encontrar um equilíbrio entre as histórias dos personagens, escolhendo melhor os dramas a serem desenvolvidos. É preciso também corrigir os problemas de ritmo, se livrando das barrigas que afetaram tanto a primeira quanto a segunda temporada. Episódios um pouco mais curtos, por volta dos 45 minutos, ou uma quantidade menor deles talvez já conseguissem ajudar nesse quesito.

De pouca utilidade serão esses esforços, porém, se a Netflix não usar de cautela ao tratar do delicado tema dos massacres em escolas.  Só neste ano, já aconteceram 16 tiroteios em colégios dos Estados Unidos. O mais letal deles deixou 17 mortos em Parkland, na Flórida, e provocou uma onda de mobilizações pelo país, levantando debates importantes sobre o acesso de crianças e adolescentes a armas. Retratar o assunto de forma leviana, além de ser um desserviço, pode ofuscar os outros esforços da série e arrastá-la para o complicado cenário político americano, que se encontra fortemente polarizado.