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Fome, sexo e humilhação: como era a seita liderada por atriz de Smallville

Allison Mack deixa tribunal no Brooklyn, em Nova York - Drew Angerer/Getty Image
Allison Mack deixa tribunal no Brooklyn, em Nova York
Imagem: Drew Angerer/Getty Image

Do UOL, em São Paulo

27/04/2018 04h00

Na série "Smallville", Allison Mack interpretou por dez temporadas a independente e ética jornalista Chloe Sullivan. Nos bastidores, a atriz era considerada por seus colegas como "doce, inteligente e gentil", segundo uma reportagem publicada pela Variety. Acusada de liderar uma seita sexual ao lado do guru Keith Raniere, Allison tem revelado uma imagem bem diferente da personagem que a consagrou e do conhecido por pessoas próximas.

A atriz foi presa no último dia 19, em Nova York, apontada como recrutadora de uma seita sexual acusada por tráfico sexual, conspiração e trabalhos forçados. As acusações podem render penas entre 15 anos e prisão perpétua para Allison, que tem 35 anos.

Keith Raniere - Site oficial/Divulgação - Site oficial/Divulgação
Acusado de tráfico humano, Keith Raniere foi preso após fugir para o México
Imagem: Site oficial/Divulgação

A NXIVM e o DOS

A seita é conhecida por NXIVM (pronuncia-se nexium) e funciona sob uma filosofia que prometia sucesso pleno. Seu idealizador, Keith Raniere, de 57 anos, também foi preso no mês passado. Além de cursos e workshops, a seita tinha um braço mais exclusivo, o DOS. A principal teoria é de que a sigla queria dizer "dominus obsequious sororium", que em latim quer dizer "mestre das mulheres escravas".

Era justamente neste setor mais obscuro que Allison foi convidada a participar como recrutadora.

Cerimônia de iniciação

De acordo com a Variety, as mulheres selecionadas passavam por um ritual de passagem. Elas eram marcadas na região pélvica com uma caneta de cauterização. As marcas eram as iniciais KR (Keith Raniere) ou AM (Allison Mack). Durante o procedimento, as pessoas da seita geralmente colocavam suas mãos sobre seu peito e diziam frases como: "sinta a dor" e "pense no seu mestre".

Nuas, elas faziam um voto de lealdade ao seu guru. Sua submissão era reforçada com fotos nuas que eram guardadas pelo grupo.

"Eu chorei o tempo todo. Estava sendo ferida e humilhada. Eu fui queimada e tudo foi filmado", disse a atriz Sarah Edmondson, que deu depoimento em Nova York contra o culto.

Ela ainda disse que foi forçada a dizer "mestre, por favor me marque, será uma honra", além de testemunhar outras mulheres sendo torturadas. "Ela estava gritando como um porco, como um animal sendo marcado com ferro quente", afirmou.

A atriz William Mack em "Smallville" - Reprodução - Reprodução
Allison Mack viveu a jornalista Chloe Sullivan durante 10 temporadas em "Smallville"
Imagem: Reprodução

Fome e mais humilhação

A tortura física e psicológica ia muito além do ritual de iniciação. "As escravas de Mack e Raniere eram mantidas por muito tempo sem dormir, magras e sem alimentação que chegavam a parar de menstruar", dizem documentos da justiça norte-americana.

As preferências sexuais de Raniere faziam com que as mulheres tivessem sua alimentação reduzida - ele gostava delas extremamente magras - e as proibia de depilar os pelos pubianos.

Para manter o peso, as escravas possuíam uma dieta de no máximo 800 calorias por dia - a média é de 2000 - e faziam uma intensa rotina de exercícios.

A atriz Allison Mack, de "Smalville", é flagrada com tornozeleira eletrônica - Reprodução/TMZ - Reprodução/TMZ
A atriz Allison Mack, de "Smalville", é flagrada com tornozeleira eletrônica
Imagem: Reprodução/TMZ

Sem dormir

"As escravas do DOS participavam de 'treinamentos' onde deveriam responder para seus mestres durante o dia e a noite", continua o documento.

Há pelo menos dois relatos de parceiras sexuais de Raniere que o acusam de agressão física. "Ele também fundou um movimento chamado 'Sociedade dos Protetores', que acreditava que humilhar as mulheres ajudaria a erradicar suas fraquezas", diz outra parte do processo.

Entre os itens exemplificados, Raniere fez com que uma de suas escravas bebesse água de uma poça do chão e outra que corresse em direção até uma árvore para bater a cabeça.

Para Raniere, estas "lições" faziam as mulheres superar suas fraquezas, que o culto listava como "incapacidade de manter promessas" e ter uma "natureza superemotiva".

Quem banca isso?

O depoimento de Sarah, primeiro publicado no The New York Times em outubro, mostrou as recrutadoras eram estimuladas a buscar mulheres ricas e famosas para participar do culto. Além disso, seus cultos e palestras que prometiam mostrar o caminho para a felicidade plena tiveram mais de 16 mil participantes nos últimos anos. Tudo isso ajudou a manter o culto sexual funcionando secretamente.

Entre as pessoas que se aproximavam dos "ensinamentos" de Raniere, uma ou outra com mais potencial era escolhida para conhecer os segmentos mais profundos da NXIVM, como foi o caso de Allison Mack.

Allison Mack deixa tribunal no Brooklyn, em Nova York - Frank Franklin II/AP Photo - Frank Franklin II/AP Photo
Allison Mack deixa tribunal no Brooklyn, em Nova York
Imagem: Frank Franklin II/AP Photo

E Keith Raniere?

Assim que o caso estampou o New York Times, ele fugiu para o México, onde se escondeu na abastada cidade de Puerto Vallarta, juntamente de algumas integrantes de sua seita. Em março, ele foi preso e levado de volta aos Estados Unidos. Por ter diversas as acusações, incluindo de agressão física, ele continua em custódia da polícia até seu julgamento.

Allison Mack e a fiança de US$ 5 milhões

A atriz de "Smallville" pagou o valor milionário e foi liberada para aguardar seu julgamento em liberdade, usando uma tornozeleira eletrônica. Durante o período, Allison, que alegou inocência, só poderá viajar com autorização da justiça, está proibida de de usar o telefone celular, internet e se comunicar com membros da NXIVM.

O site da revista People diz que os advogados de Allison estariam trabalhando em um acordo de delação com a promotoria. A atriz estaria interessada em cooperar com a justiça para provar as acusações contra Raniere para tentar diminuir sua pena, que pode variar de 15 anos a perpétua. Seu julgamento será em 3 de maio.