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Nem tempo para email: a vida de Krysten Ritter em um ano como Jessica Jones

Krysten Ritter em cena da segunda temporada de "Jessica Jones" - David Giesbrecht/Netflix
Krysten Ritter em cena da segunda temporada de "Jessica Jones"
Imagem: David Giesbrecht/Netflix

Beatriz Amendola

Do UOL, em São Paulo

13/03/2018 11h30

Entre a segunda temporada de “Jessica Jones”, que estreou no último dia 8, e a minissérie “Os Defensores”, que reuniu os quatro heróis das séries Marvel-Netflix, Krysten Ritter ficou cerca de um ano imersa na super-heroína relutante que defende Nova York enquanto enfrenta seus dramas pessoais e seus traumas. Uma experiência, para a atriz de 36 anos, comparável a uma maratona -- mas que cai bem para sua personalidade.

“Tive que encarar isso como se fosse uma atleta”, conta uma bem-humorada Krysten em entrevista ao UOL. “Não só porque fazemos as cenas de ação na série, mas porque você tem que lidar com o tempo de produção. São séries com episódios de uma hora, com assuntos pesados. Eu sou uma pessoa hardcore, então combina com a minha personalidade. Se alguém consegue lidar com isso, sou eu [risos]”.

Jessica tomou conta da vida da atriz de tal forma que ela mal conseguia checar seus emails: “Tive que colocar uma resposta automática, porque não conseguia fazer outras coisas”. Mas se engana quem acha que ela reclama das 70 horas semanais que passava no set. “Eu sinto que me ajuda a ser melhor. Ficar tanto tempo assim no set não é tão comum. A equipe é a mesma, e eles são sempre muito generosos comigo. Estou sempre interessada em aprender todos os aspectos de se fazer televisão, não só a atuação, então os câmeras foram muito generosos, explicando as coisas, assim como os diretores. Tento aprender tudo o que posso”.

“Os Defensores” até trouxe um certo alívio dramático para a atriz. A segunda temporada de “Jessica Jones”, por outro lado, se aprofunda ainda mais nas dores e nos traumas da detetive particular. Jessica é obrigada a lidar com o luto de ter perdido sua família, as cicatrizes deixadas pelo vilão Kilgrave (David Tennant), e a culpa por tê-lo matado – ainda que ele, indiscutivelmente, merecesse.

“Ela está se pondo pra baixo, está confusa e se questionando: ela é uma assassina de sangue frio ou fez a coisa certa?”, explica Krysten. “Às vezes, o luto é um grande evento que não tem um ponto final tão rápido quanto as outras pessoas gostariam. Por exemplo, quando acontece algo na sua vida, você perde alguém ou tem uma grande mudança, em certo ponto você ouve dos seus amigos: ‘você tem que superar, você já deveria estar bem’. E isso não se aplica a ninguém. Jessica não está bem só porque matou seu algoz”.

Apesar de não estar em sua melhor forma, a super-heroína é obrigada a voltar à ação e a buscar suas origens por conta de uma série de assassinatos e da aparição de uma mulher misteriosa interpretada pela indicada ao Oscar Janet McTeer (“Livre Para Amar”). A partir da segunda metade da temporada, a trama se torna dolorosamente pessoal (mas não se preocupe, não vamos revelar spoilers aqui). “Jessica está muito isolada e solitária, quase paralisada pela sua dor, mas quando outras pessoas estão em perigo, ela tem a habilidade de ajudá-las, então ela o faz. O que acontece leva a algo muito pessoal para ela e ela não tem escolha a não ser se envolver.”

Kilgrave atormenta Jessica em cena da segunda temporada da série - David Giesbrecht/Netflix - David Giesbrecht/Netflix
Kilgrave atormenta Jessica em cena da segunda temporada da série
Imagem: David Giesbrecht/Netflix

Kilgrave, abuso e mulheres no comando

Um dos melhores vilões do Universo Cinematográfico da Marvel, Kilgrave trouxe uma presença magnética para “Jessica Jones” como uma metáfora para um namorado abusivo. E as marcas deixadas por ele ainda reverberam na vida (e no psicológico) de Jessica  -- o que a série optou por deixar explícito em um episódio em que o ator David Tennant retorna para uma breve, mas poderosa, participação.

“Ter David de volta foi incrível para nós no set, porque nós o amamos. Fizemos uma volta da vitória, era uma grande celebração ter ele de volta”, lembra Krysten. “Eu amo ele, amo trabalhar com um ator tão incrível. Para Jessica, isso não é uma coisa tão boa, porque ele representa uma escuridão real para ela. Ele retorna de uma forma que considero muito empolgante para a narrativa, em um momento em que Jessica está no fundo do poço”.

Um dos grandes chamarizes da série, o relacionamento abusivo entre Jessica e Kilgrave trouxe à luz um tema poucas vezes abordado com tanta franqueza na TV. E ele se conectou, de certa forma, com a onda de denúncias de abuso sexual e assédio que dominaram Hollywood a partir de outubro de 2017, quando o magnata Harvey Weinstein foi exposto por uma reportagem do jornal “The New York Times”. 

Como coincidência nunca é demais, a nova temporada trouxe acidentalmente uma trama que dialoga diretamente com o momento vivido pela indústria cinematográfica: um caso de um diretor com uma atriz menor de idade. “É de uma coincidência assombrosa que a nossa série trouxe essas mensagens e coisas que saíram com o movimento #MeToo”, afirma a protagonista. “Terminamos de filmar no começo de outubro, e tudo começou a acontecer pouco depois disso.  Eu me lembro de mandar uma mensagem para Carrie-Anne [Moss, a Jeri]: ‘Não dá pra acreditar que nós temos exatamente essa história na série. É muito louco!”

Jessica confronta homem em cena da segunda temporada de "Jessica Jones" - Divulgação/Netflix - Divulgação/Netflix
Jessica confronta homem em cena da segunda temporada de "Jessica Jones"
Imagem: Divulgação/Netflix

Para Krysten, a showrunner Melissa Rosenberg e os roteiristas da série conseguiram colocar na história um sentimento presente em muitas mulheres. “Eles estavam captando essa raiva que podia ou não já estar lá em estado dormente, mas que se acendeu durante as eleições [de 2016, que levaram Donald Trump ao poder]. Isso foi colocado em Jessica e na trama. Acho interessante e muito legal que nós tenhamos uma série e uma personagem que é meio que uma porta-voz para a raiva que muitas pessoas estão sentindo”.

Além de trazer temas atuais, “Jessica Jones” conquistou outra marca importante: foi a primeira produção própria de uma super-heroína da Marvel. Na época em que a série saiu, em 2015, o filme da Capitã Marvel, agora previsto para 2019, ainda estava engatinhando – e nem se falava oficialmente de um longa dedicado à Viúva Negra. Mas o sucesso de “Jessica” e de outros sucessos protagonizados por mulheres, como “Mulher-Maravilha” (da concorrente DC), provou que vale a pena investir nessas narrativas, opina a atriz.

“Isso é muito animador, porque mostra que histórias de mulheres são lucrativas. Como elas são tão celebradas, acho que isso prova que havia um vácuo. É um território novo e empolgante. Então eu digo: traga mais disso. Estou feliz de ser parte disso”.

Veja o trailer da segunda temporada de "Jessica Jones"

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