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Ozzy: "Não estou me aposentando e quero continuar indo ao Brasil"

Ozzy Osbourne, que em abril dará início à sua "farewell tour":"mas eu não estou me aposentando!" - Frazer Harrison/Getty Images
Ozzy Osbourne, que em abril dará início à sua "farewell tour":"mas eu não estou me aposentando!" Imagem: Frazer Harrison/Getty Images

Leonardo Rodrigues

Do UOL, em São Paulo

06/03/2018 04h00

Entrevistar Ozzy Osbourne por telefone é um desafio comparável ao de reproduzir rigorosamente o dificílimo solo de "Bark at the Moon" e fazer isso de primeira, sendo um mero jornalista. Aos 69 anos, os deles últimos agravados pela perda auditiva, a lenda do metal trabalha como uma espécie de assessor de imprensa de si mesmo. Responde apenas às perguntas que deseja —ou às que consegue compreender.

“Oh, cara, não entendi isso aí que você disse. O quê você falou?”, repetiu ele quase como um mantra durante toda a entrevista ao UOL. Coincidência ou não, principalmente nas indagações mais polêmicas. Perguntas sobre a volta da série "The Osbournes" via podcast, por exemplo, ficaram no vácuo.

Resumo do papo verbete 1: após uma recaída há cinco anos, fruto da crise no casamento, Ozzy não está usando mais nenhum tipo de droga. Nem lícitas. Verbete 2: apesar do nome, sua nova turnê de despedida, que passa pelo Brasil em maio e vai até 2020, não significa fim de carreira.

Com o Black Sabbath no túmulo, Ozzy, quer fazer mais shows por aqui no futuro, ainda que pontualmente. “Eu tenho que dizer que eu adoraria voltar ao Brasil e o Rio. A diferença é que agora não será mais em turnês mundiais”, diz ele, que vem preparando um novo álbum de estúdio.

25.abr.2015 - O cantor Ozzy Esburni foi o último a se apresentar no primeiro dia do Monsters of Rock, em São Paulo. Ele abriu o show com a música "Bark at the Moon" - Junior Lago/UOL - Junior Lago/UOL
Tradição: Ozzy joga água no público em show no Monsters of Rock, em São Paulo, em 2015
Imagem: Junior Lago/UOL

UOL - Por que decidiu se “despedir dos palcos”?

Ozzy Osbourne - Eu terminei o Black Sabbath e vou continuar com a minha carreira solo. Eu tenho uma família, cara. Eu não vi meus filhos crescendo por estar sempre na estrada. O que eu mais quero agora é conseguir ter mais tempo para passar com minha família.

Então por que anunciar uma “Farewell Tour”?

É que vou desacelerar um pouco, sabe? Vou continuar me apresentando. Só não vou mais sair de casa em janeiro e voltar só em dezembro. Eu tenho um estúdio caseiro em casa. Vou continuar fazendo música.

O que gosta de fazer no conforto do lar? Netflix?

Faço de tudo. Gosto de pintar, de ver TV, de ler livros. No dia três de dezembro, completo 70 anos. Passei 50 anos viajando demais. Não consigo mais acompanhar esse ritmo. Chegou a hora de mudar. O problema é que as pessoas estão falando que estou aposentando. Eu não estou!

Com 50 anos de estrada, dá para dizer o que foi importante para a sua vida, o Black Sabbath ou a carreira solo?

Não consigo comparar. Tocar com o Sabbath é completamente diferente do que faço no meu show.  Nosso som tinha muito de jazz e blues. Minha carreira solo é outra coisa, muito voltada para tocar ao vivo. Eu amo os caras [do Black Sabbath]. Não o vi mais o Toni [Iommi, guitarrista da banda] desde que finalizamos a turnê. Nossa relação é boa. O Toni está bem agora [após tratar um câncer].

Qual é sua relação com as drogas hoje em dia?

Parei. Não fumo tabaco, não uso drogas. Não faço nada mais disso. Isso estava me matando, cara. Por que eu gostaria de morrer desse jeito?

Hoje minha vida está muito, muito melhor. Eu consigo agora ser uma pessoa mais confiável. Posso corresponder bem melhor ao que as pessoas esperam de mim. É muito melhor não beber e ficar sóbrio. Se alguém que tivesse me contado isso antes, eu poderia ter feito algo a respeito. Não bebo e não quero mais usar drogas.
O abstêmio Ozzy Osbourne

Lendas de sua geração nos deixaram recentemente: Lemmy Kilmister, David Bowie. Como você lida com a ideia de morrer?

Não penso na morte. Isso não passa pela minha cabeça. Todos morreremos um dia, de qualquer forma, e eu também morrerei. Eu faço 70 anos em dezembro e quero ficar bem até o fim.

Quais são suas melhores lembranças do Brasil?

A música do Brasil é adorável. Você são muito legais e muito ligados nela. É como se fosse uma religião. A forma como vocês nos recebem é sempre imbatível. É fantástico estar no Rio. Muita coisa mudou lá desde que comecei a ir. Da última vez, consegui sair para passear na orla. Foi muito legal.

Não vai sentir falta de fazer shows aqui?

Claro que vou! Mas o que eu estou fazendo não é me aposentar. Eu adoraria voltar ao Brasil e ao Rio para fazer alguns shows, mas com certeza não será mais em turnês mundiais.

Como vai indo a produção de seu novo disco solo?

Estamos trabalhando nisso. Quero gravar. Minha gravadora quer que a gente faça novos álbuns, porque eles acham que os jovens estão “roubando” nossas músicas pela internet, e todas as gravadoras estão morrendo. Vamos ver.

Ozzy, existe banda americana dos anos 1960, anterior ao Sabbath, chamada Coven. Eles exploravam ocultismo nas letras, tinham um baixista chamado Oz Osborne e uma música intitulada "Black Sabbath". Não é muita coincidência?

Qual é o nome? Coven? Eu nunca ouvi falar disso.