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Sem receber há 2 meses, artistas do Theatro Municipal do Rio fazem protesto

Ana Botafogo e Carlinhos de Jesus dançaram juntos "Fascinação" na manifestação dos servidores do Theatro Municipal contra os salários atrasados e o não repasse da verba de manutenção do local - Ana Cora Lima/UOL
Ana Botafogo e Carlinhos de Jesus dançaram juntos "Fascinação" na manifestação dos servidores do Theatro Municipal contra os salários atrasados e o não repasse da verba de manutenção do local Imagem: Ana Cora Lima/UOL

Ana Cora Lima

Do UOL, no Rio

18/12/2017 21h01

Ao som de “Apesar de Você”, os funcionários do Theatro Municipal do Rio de Janeiro deram um abraço simbólico no espaço cultural em mais um protesto contra os salários atrasados. De acordo com os manifestantes, eles já estão sem receber os salários de outubro, novembro e o décimo terceiro deste ano e do passado.

Há um ano meio, os servidores do teatro sofrem com a crise financeira do Estado, mas nos últimos meses a situação piorou. Além das folhas de salários atrasadas, não há repasse para a manutenção do local.

"Estamos sendo despejados de nossas casas. Antes dizer que era artista do Theatro Municipal representava prestígio, dava orgulho. Hoje, não. Não podemos ficar de braços cruzados. Temos que lutar", protestou Ciro D'Araujo, um dos representantes da comissão de artistas que negocia com o governo estadual.

O presidente do Sindicato dos Trabalhadores de Entidade Publica de Ação Cultural do Estado do Rio de Janeiro, Pedro Olivera, informou que são 550 funcionários passando por grandes dificuldades financeiras e que essa manifestação - a quarta neste ano – “É para chamar a atenção dos governantes e sensibilizar a população carioca para o drama dos servidores”.

Antonella Pareschi já até vendeu quentinhas para pagar contas atrasadas - Ana Cora Lima/ UOL - Ana Cora Lima/ UOL
Antonella Pareschi já até vendeu quentinhas para pagar contas atrasadas
Imagem: Ana Cora Lima/ UOL
Integrantes do Coro, da Orquestra e do Balé participaram do ato que começou nas escadarias do teatro. Alguns trechos de peças musicais intercalados com apresentações de bailarinos fizeram parte da manifestação, que ainda teve a leitura de uma carta aberta sobre a falência do Estado. O público participou do protesto.

Uma das principais bailarinas, Ana Maria Botafogo foi saudada aos gritos de "Aceita, aceita!", em referência ao convite que recebeu, do atual secretário estadual de Cultura e presidente do Municipal, Leandro Sampaio Monteiro, para que ela assuma a Presidência da Fundação Theatro Municipal.

“O aceita ou não aceita vai ser depois. Ainda nesta semana, mas hoje é o dia da nossa manifestação porque a gente precisa se manifestar. Está muito difícil viver assim. Estou emocionada com essa demonstração de carinho e apoio, mas preciso tomar pé das coisas, entender um pouco de tudo. Isso aqui é um mundo”, explicou Ana, que dançou em um dos números com Carlinhos de Jesus, “Fascinação”. 

“Ana não é só uma referência artística e cultural, ela é uma referência política. O caminho é difícil, e é isso que deixa ela em dúvida. Porque é um caminho de pedras em que ela vai ter que brilhar. Mas ela vai brilhar, ela tem toda a comunidade da dança ao seu lado. Acho que ela vai aceitar e eu sou aqui mais para tentar convencê-la”, disse o dançarino.

Funcionários na luta

Violinista com mestrado em Roma, Antonella Pareschi tem 42 anos e há 25 anos faz parte da Orquestra do Theatro Municipal e diz que nunca passou por tantas dificuldades. Sem salário, ela conta que tem se virado para pagar as contas atrasadas fazendo bicos e com aulas particulares, que também sofreram uma queda de 50% no número de alunos.

"Já fiz quentinhas para vender, mas me desanimei porque faltou dinheiro para comprar os alimentos. Também vinha tocando em casamentos. Como dezembro, janeiro e fevereiro são meses que as pessoas não costumam se casar não sei o que vou fazer. Estou preocupada”, contou.

Integrante do coro há 20 anos, Paulo Mello, 56, é outro que anda preocupado com que vai ser da sua vida nos próximos meses caso não receba os atrasados. "Tive que deixar o meu apartamento no Catete para ir morar com os meus pais em Santa Cruz. Eles são aposentados, ganham pouco e eu não estou podendo contribuir com nada. É triste chegar a esse ponto, mas tive que fazer isso para não acumular dívidas. É um momento de grandes dificuldades, mas quem trabalha com cultura convive com isso há anos só que chegou ao fundo".

A reportagem do UOL procurou a secretaria de Cultura do Estado para falar sobre os atrasos, mas ainda não obteve resposta.

Na sexta-feira (15), o governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) admitiu que não irá conseguir pagar todos os salários atrasados ainda neste ano. O empréstimo de R$ 2,9 bilhões, parte do plano de recuperação fiscal firmado entre a União e o Estado fluminense, foi assinado na semana passada pelo presidente Michel Temer (PMDB), o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e Pezão.