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Com indefinição e demora, foliões temem "pior Carnaval da história" do Rio

Carlão Limeira/UOL
Imagem: Carlão Limeira/UOL

Anderson Baltar

Colaboração para o UOL, no Rio

17/11/2017 04h00

Daqui a pouco mais de dois meses, as ruas do Rio de Janeiro serão mais uma vez invadidas pelo baticum de centenas de blocos de rua que ocuparão todas as regiões da cidade para mais um Carnaval. Cada vez mais arrastando multidões, os blocos de rua se transformaram em uma das principais atrações do folia carioca. Porém, em tempos de cortes de verbas e de polêmicas envolvendo o uso das ruas da cidade para eventos, os foliões encontram-se em estágio de espera.

Segundo Rita Fernandes, presidente da Sebastiana (liga que congrega os principais blocos de rua do Rio de Janeiro), os foliões ainda não têm nenhuma definição do que acontecerá no próximo Carnaval. “Meu sentimento é de incerteza total. Tivemos uma reunião com o presidente da Riotur (empresa de turismo do Rio de Janeiro) e ele garantiu que terá o dinheiro e a infraestrutura para o Carnaval e que seriam divulgados em breve. Só que até agora não temos nada palpável. Nos anos anteriores, a prefeitura já tinha definido tudo entre agosto e setembro. As coisas ficavam mais claras e estávamos mais tranquilos”, afirma Rita.

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A postura do governo de Marcelo Crivella, que tem criado empecilhos para rodas de samba e ensaios de bloco, também preocupa Rita Fernandes. “Estamos vendo iniciativas pontuais de proibição. O decreto que centraliza a autorização de eventos no gabinete do prefeito já nos preocupou. Agora, estamos vendo rodas de samba sendo dissolvidas na Praça Tiradentes, o caso do bloco Tambores de Olokum, que teve ensaio proibido no Aterro do Flamengo. Isso nos mostra uma perspectiva preocupante. Não sabemos se eles farão o mesmo no Carnaval”, explica.

O músico Henrique Barbosa, integrante de blocos como a Orquestra Voadora e Céu Na Terra e também folião de agremiações de menor vulto, também vê o momento com bastante preocupação. “Estamos caminhando para o pior Carnaval da história ou o melhor Carnaval clandestino do Rio de Janeiro. Há um clima de indefinição imensa, especialmente para quem desfila em blocos menores e que não possuem tanta estrutura e olhar do poder público”, afirma Barbosa.

Com mais de 500 blocos inscritos e outros tantos desfilando ao largo do poder público, a organização do Carnaval de rua é bastante complexa e deve levar em conta, além da estrutura para os desfiles dos blocos, o impacto que os mesmos farão no trânsito e serviços da cidade. Por este motivo, Rita Fernandes acredita que é fundamental um diálogo. “Nós tivemos uma reunião com a Riotur e fizemos várias sugestões. Mas nada foi aproveitado. Depois eles nos chamaram para falar e trouxeram tudo já planejado, do jeito deles”. 

Henrique Barbosa faz coro e aproveita para defender os blocos clandestinos. “Basta planejar, mapear, saber quem costuma desfilar onde e tentar encontrar uma forma que todo mundo possa brincar o Carnaval. Todos temos o direito à rua. Mas, é muito mais fácil punir do que planejar”, afirma. 

De acordo com Marcelo Alves, presidente da Riotur, o planejamento do Carnaval de rua vai bem, obrigado. “Estamos muito tranquilos. É claro que foi um ano difícil para todos, mas entendemos que estamos indo bem. Posso garantir que será o melhor Carnaval em logística e organização, com muito ordenamento. O Carnaval de rua cresceu demais. Temos que atender os foliões com segurança e logística, mas não podemos fazer a cidade parar”.

Para justificar o otimismo, o presidente da Riotur sinaliza com uma gestão em que metade dos investimentos normalmente destinados pela prefeitura serão captados com a iniciativa privada. Dos R$ 70 milhões de investimento previstos, pelo menos metade serão obtidos por meio de patrocinadores. “Já conseguimos um patrocínio com a Ambev nos mesmos valores do ano passado (R$ 8,1 milhão) e com a Uber com R$ 10 milhões. Abrimos a terceira parte do caderno de encargos de R$ 25 milhões e estamos otimistas que conseguiremos todos os recursos para viabilizar o Carnaval de rua”.

Nos próximos dias, a Riotur divulgará a lista de blocos aptos a desfilar no próximo Carnaval. “Seremos muito rigorosos com os blocos não-registrados. Quando um bloco se inscreve, nós preparamos toda a estrutura de acordo com a demanda de público. Quando um bloco desfila sem autorização, não temos como garantir a estrutura”, pondera Marcelo Alves.

O presidente da Riotur aponta, como grande novidade do Carnaval 2018, a Arena Blocos, que será construída no Parque dos Atletas, na Barra da Tijuca. “Vamos tirar os blocos que ficam na praia do Pepê e têm grande movimento. Aquele ponto da praia não comporta tantos blocos. Levaremos para a Arena, um lugar todo preparado, onde o folião chegará de BRT com tranquilidade, com toda a estrutura de banheiro, alimentação, posto médico. O que não tem na rua, teremos lá”, explica. Por outro lado, a Riotur afirma que não mexerá nos blocos de outras regiões da cidade, especialmente, os mais tradicionais do centro, que desfilarão na Avenida Primeiro de Março. 

A presidente da Sebastiana vê com muita preocupação o surgimento da Arena Blocos e teme que seja o início de um processo de assepsia do Carnaval de rua carioca. “A arena é uma temeridade e caminha para uma coisa que nada tem a ver com o Rio de Janeiro. Bloco não é Rock In Rio, não é evento. É uma temeridade criar um circuito. É impor uma cultura que nada tem a ver com o Rio de Janeiro. Quando começarmos a deixar isso acontecer, é o fim. O Carnaval tem que ser livre. Compreendemos que existe um impacto na vida das pessoas e que a logística tem que ser vista. Mas falamos do direito à cidade. O modelo atual de Carnaval de rua já está dando certo. Basta fazer pequenos ajustes”, afirma Rita Fernandes.