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Doze horas sob o sol: filas gigantes são atração indispensável da Comic-Con

Pufes infláveis são a tendência de 2017 nas filas da San Diego Comic-Con - Renata Nogueira/UOL
Pufes infláveis são a tendência de 2017 nas filas da San Diego Comic-Con Imagem: Renata Nogueira/UOL

Renata Nogueira

Do UOL, em San Diego

22/07/2017 04h00

O privilégio de respirar o mesmo ar das estrelas e saber antes as novidades dos seus filmes e séries favoritos na San Diego Comic-Con tem um preço bem alto... e longo. Depois de vencer uma verdadeira disputa online para conseguir um ingresso (os deste ano se esgotaram em cerca de uma hora e meia), chega a hora de enfrentar as gigantescas filas que deixam no chinelo qualquer espera para andar na montanha-russa mais disputada de um parque.

Diferente da Comic-Con Experience --a versão brasileira da feira de cultura pop-- na californiana não há ingressos mais caros que garantem privilégios e experiências VIP. Todo mundo tem basicamente o mesmo ingresso e precisa enfrentar a temida fila. Inclusive jornalistas e voluntários, que estão ali para trabalhar.

"Há dez anos era muito tranquilo, você entrava no Hall H (o maior e mais disputado espaço) como em qualquer outro lugar. As filas começaram há uns três, quatro anos", explicou Paulina De'Artola, que mora a duas horas de San Diego e frequenta a Comic-Con há muitos anos acompanhada da filha e de amigos do Estado do Missouri.

Neste ano, além da fila do Hall H ter aumentado consideravelmente, conforme observaram frequentadores da feira, outros espaços principais como o Ballroom 20 e o Indigo disputavam espaço com a fila em caracol do salão principal.

"Quando você entra tudo passa e vale a pena. Até esquecemos do perrengue das 24 horas anteriores. Lembro perfeitamente da emoção de quando anunciaram 'Star Wars: O Despertar da Força' há dois anos", diz Joyce Eclarino, que mora a 15 minutos do centro de convenções mas iria passar a noite na fila para garantir um lugar no dia mais disputado.

Com a notável inflação das filas, uma prática que no Brasil já teria surgido há muito tempo acabou inevitável também em território norte-americano. Algumas pessoas passaram a cobrar para guardar lugar na fila. Por US$ 30 a hora, alguém segura o seu lugar enquanto você curte a infinidade de atrações do dia. Um serviço divulgado via #linebuddies, hashtag criada somente para discutir as questões da fila com quem não está ao seu lado.

Tudo pela Mulher-Maravilha

Barraca de acampamento na fila do Hall H na San Diego Comic-Con - Renata Nogueira/UOL - Renata Nogueira/UOL
Imagem: Renata Nogueira/UOL

Já que é impossível evitá-la, os frequentadores fazem de tudo para tornar a experiência da fila a melhor possível. Cadeiras dobráveis e cooler com água e comida são os itens básicos. Os mais dedicados levam barracas, colchões infláveis e travesseiros. Sim, uma fila da Comic-Con pode levar mais de 24 horas e é bom estar preparado para tirar uma soneca em espaço público. Uma espécie de pufe que se infla com uma chacoalhada é a tendência da aglomeração.

Os volumosos pertences são recolhidos entre 4 e 5 da manhã, quando um monitor passa avisando que a fila vai começar a andar. É hora de pedir para o amigo levar as coisas para o carro ou para vans que já estão a postos para levar barracas e colchões para os hotéis.

As filas também são um ótimo laboratório de cacarecos que você achava que nunca iria usar. Ventiladores portáteis, jatos d'água individuais e carregadores de gadgets com pequenos painéis de energia solar são tesouro nas mãos de quem tem de enfrentar o sol do verão da Califórnia das 8h às 20h. No alto verão de julho, época em que rola anualmente a Comic-Con, é o período em que o astro costuma esquentar e se pôr.

Mas nem só de perrengue se vive na longa fila da Comic-Con. Boas almas passam distribuindo amostras de comidas e até mesmo brindes como HQ's que só os sortudos que estão no ar condicionado do pavilhão principal conseguiriam. Uma boa forma de passar o tempo.

A fila é também o momento de desencanar de encarar a tela escurecida do celular exposto ao sol e botar em prática seu inglês. Fazer amizades ali não é só um passatempo. Pode ser uma questão de sobrevivência. As pessoas estão abertas a falar de seus personagens favoritos, emprestar um carregador portátil ou compartilhar uma disputada sombra. Estão todos exaustos, mas ansiosos pelo o que está por vir. Geralmente a progr aamação do Hall H, a casa oficial dos grandes filmes e séries.

E de longe a estrela mais esperada deste ano é a "Mulher-Maravilha". Gal Gadot volta à Comic-Con fortalecida pelo estrondoso sucesso do filme da DC. É principalmente por ela que desde sexta-feira (21) de manhã a fila para o painel que aconteceria só no sábado já dava voltas e mais voltas no entorno do Centro de Convenções de San Diego, que tem cerca de 1 km de extensão. O mar de pessoas invadia até mesmo as pequenas ilhas da marina que fica no fundo do pavilhão.

A Mulher-Maravilha estará com os seus companheiros da "Liga da Justiça" Batman (Ben Affleck), Aquaman (Jason Momoa), The Flash (Ezra Miller) e Ray Fisher (Ciborgue) neste sábado (22) no espaço mais disputado da Comic-Con. Haverá ainda o também aguardadíssimo painel da rival, Marvel, encerrando o dia.