E se Harry Potter fosse brasileiro? Hugo Escarlate espalha magia pelo país
A escritora e jornalista brasileira Renata Ventura é tão apaixonada por Harry Potter que até criou uma saga inspirada na obra da britânica J.K. Rowling. "A Arma Escarlate" já teve dois volumes lançados e tem mais um previsto para chegar às livrarias até meados de 2017, totalizando cinco livros, e cada um ambientado numa das regiões do Brasil. "Pelo menos uma vez por mês eu realmente sonho que estou conhecendo J.K.", torce a escritora.
O romance que leva o nome da série, "A Arma Escarlate", foi lançado em novembro de 2011, depois de cinco anos de trabalho. Além de ganhar prêmios de literatura, a trama --que já chegou à quinta impressão-- conta a história de um menino carioca, Hugo Escarlate, morador do morro Santa Marta, que, durante um tiroteio, descobre ser bruxo e passa a se dedicar a aprender magias para derrotar os traficantes. O segundo volume, "A Comissão Chapeleira", foi lançado durante a 23ª Bienal do Livro de São Paulo, em 2014.
Agora, ela prepara o lançamento do terceiro livro, que se chamará "O Dono do Tempo" e será ambientado na Amazônia, tratando das dezenas de etnias locais, cada uma com suas próprias línguas e culturas, além de mitologia e folclore. Já o quarto volume será ambientado em Curitiba, mas Hugo deverá visitar os três estados da região Sul; e o quinto livro se passará em Brasília, estes ainda sem previsão de lançamento.
"Eu tinha vontade de falar do Brasil através da fantasia. Enquanto eu lia 'Harry Potter', ficava imaginando como seria a comunidade bruxa brasileira, caso alguém escrevesse a respeito, até que eu decidi colocá-la no papel. Vi uma entrevista com J.K. Rowling, em que ela dizia não ver problemas caso alguém quisesse escrever sobre escolas de magia em outros países. Imediatamente, fiquei animada", lembra.
Veio daí a ideia de misturar magia com temas como desigualdade social, abandono, racismo e corrupção. "Ao mesmo tempo, eu aproveitaria para falar também das belezas do Brasil, da diversidade cultural e religiosa, do folclore, dos regionalismos, da alegria. Mostrar o Brasil como um todo, com suas facetas boas e ruins", acrescenta.
Leitura nos orfanatos
Antes de começar a escrever, Renata Ventura era uma daquelas fãs que ficavam horas em filas para comprar os novos livros do bruxinho britânico assim que eram mundialmente lançados. Também era habitué das pré-estreias dos filmes. "Meu encantamento com Harry Potter começou pela insistência do meu irmão, Felipe Ventura [músico da banda Baleia]. Na época, nós ainda éramos adolescentes e ele ficou insistindo para que eu lesse", ela conta, lembrando que naquela período J.K. Rowling havia publicado apenas quatro livros da série.
"Eu demorei para começar a ler porque achava que livro de bruxo era coisa de criança. Quando finalmente dei uma chance para o primeiro livro, 'Harry Potter e a Pedra Filosofal', me apaixonei. Harry Potter não era apenas sobre um bruxinho. Era sobre política, filosofia, amizade, imprensa, dilemas da juventude e tantas outras coisas que eu fiquei fascinada", conta.
Ficou tão fascinada que, em setembro de 2012, criou "Potter em Orfanatos" com a ideia de fazer leituras encenadas e divertidas dos primeiros capítulos de "Harry Potter e a Pedra Filosofal", para crianças e jovens em orfanatos e casas de acolhimento. Assim, a coleção completa dos livros era doada para o local a fim de estimular os pequenos leitores a completarem a saga por conta própria. "O projeto ainda hoje é um sucesso, em estados como São Paulo, onde o grupo local continua reunindo uma vez por mês para planejar apresentações e fazer visitas a instituições".
Harry Potter e Hugo Escarlate
Para quem compara Harry Potter e Hugo Escarlate, Renata Ventura afirma que a criação dela é quase o oposto da britânica. "Harry era bonzinho e quase sempre conseguia fazer a coisa certa. Hugo é rebelde, impulsivo, egoísta, arrogante e muitas vezes agressivo. Quase um anti-herói. Ele, de vez em quando, até quer fazer o bem, mas muitas vezes é puxado para o lado errado, por sentimentos menos nobres", descreve.
O passado do personagem fez, por exemplo, com que ele não conseguisse confiar nas pessoas, diferente de Harry, que vive cercado pelos amigos, ouvindo conselhos e aceitando ajuda. "Por toda sua vida, Hugo foi obrigado a viver com o abandono do governo, a corrupção da polícia, a violência dos traficantes, tendo apenas sua mãe e sua avó para dar algum tipo de segurança e conforto moral. Uma das diferenças mais fortes entre Harry e Hugo é que, enquanto o bruxinho inglês via a varinha como uma ferramenta, Hugo, desde o início, viu a dele como uma arma".
Para quem já é fã dos dois bruxinhos, Renata manda um recado: "Divirtam-se com as histórias, se apaixonem, mas não deixem também de aprender com elas. Quando vejo um fã de Harry Potter sendo preconceituoso, ou julgando pessoas sem conhecerem, em alguma controvérsia, fico pensando se eles realmente prestaram atenção nos livros. Harry sofreu tanto com isso".
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