Topo

Sotheby's é acusada de fraude após vender obra perdida de Da Vinci

"Salvator Mundi", de Leonardo da Vinci - Divulgação
"Salvator Mundi", de Leonardo da Vinci Imagem: Divulgação

Keri Geiger

Da Bloomberg

30/11/2016 16h08

Em março de 2013, uma encomenda chegou à cobertura de um edifício em Manhattan de propriedade da família do bilionário russo Dmitry Rybolovlev. Dentro estava uma descoberta avaliada em mais de US$ 100 milhões: o "Leonardo perdido".

Sua história era conhecida em todo o mundo da arte. A tela "Salvator Mundi", que apareceu na venda de um espólio no Estado americano de Louisiana, foi pintada por Leonardo da Vinci.

Era o objeto de desejo de Rybolovlev. Naquele dia em março, a pintura do Cristo migrou discretamente do escritório da Sotheby's, no Upper East Side, para o apartamento do magnata, perto do Central Park. E assim surgiu um dos maiores escândalos em décadas no mercado de arte, que movimenta quase US$ 60 bilhões por ano.

A Sotheby's atuou como corretora da venda do "Salvator Mundi", mas não para Rybolovlev. A obra-prima foi parar nas mãos de Yves Bouvier, o marchand de longa data do bilionário e também um dos clientes mais importantes da Sotheby's. O preço foi US$ 80 milhões, bem menos do que muitos esperavam.

Mas a história não terminou por aí. Dias depois, Bouvier vendeu o quadro para o cliente russo por US$ 47,5 milhões a mais.

Lealdade dividida?

Três anos se passaram e Rybolovlev e os colecionadores que venderam o "Salvator Mundi" se perguntam se foram enganados e por quem.

O grupo que descobriu, restaurou e vendeu a obra perdida --que inclui o especialista em grandes mestres da pintura Robert Simon-- avisou que pretende processar a Sotheby's pela perda de milhões. Em documentos apresentados na semana passada a um tribunal federal de Manhattan para bloquear um processo, a casa de leilão afirma que cumpriu suas obrigações.

No cerne da discussão está uma das questões mais delicadas do mercado de arte: O que casas de leilão como a Sotheby's realmente devem a quem compra e vende arte? A resposta não é nada clara.

"Um dos maiores conflitos do mundo das artes é que as casas de leilão representam ambas as partes na venda e as partes nunca sabem se seus interesses estão sendo protegidos", disse o marchand londrino Julian Agnew.

Sede da Sotheby's, uma das maiores operadoras de leilão do mundo, em Nova York - Corbis via Getty Images - Corbis via Getty Images
Sede da Sotheby's, uma das maiores operadoras de leilão do mundo, em Nova York
Imagem: Corbis via Getty Images

Obrigações cumpridas

Em documentos apresentados ao judiciário, a Sotheby's afirma que não sabia das intenções de Bouvier, que cumpriu suas obrigações e que o grupo de Simon sofre é de arrependimento.

Simon e seus parceiros se declaram estupefatos diante das afirmações da casa sediada em Nova York. "Claramente, a Sotheby's apresentou os documentos para deturpar seu comportamento extremo diante do escrutínio da mídia e não para qualquer propósito legal", afirmou o grupo em comunicado.

"Estávamos participando em esforços de boa-fé para resolver nossas queixas contra a Sotheby's de maneira privada e confidencial. Agora que a Sotheby's escolheu levar a disputa a público, vamos corrigir essas distorções e descrever os fatos verdadeiros em medidas judiciais apropriadas."

A resposta ainda não foi apresentada e o grupo se recusou a responder a perguntas específicas. Brian Cattell, um porta-voz de Rybolovlev, se recusou a comentar. Este artigo foi elaborado a partir de informações apresentadas pela Sotheby's à Justiça, outros documentos judiciais e informações passadas por pessoas com conhecimento da transação e do mercado de arte.