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Artista francês "liberta" obras clássicas dos museus para as ruas

Tiago Dias

Do UOL, em São Paulo

22/11/2016 16h36

Entre concreto e janelas, uma imagem insólita salta aos olhos no centro de Paris. Uma mulher nua, que brinca com um pequeno anjo em seus ombros, é exibida na parede de uma rua movimentada na capital francesa.

Com 138 anos, o quadro de William-Adolphe Bouguereau é apenas uma de muitas pinturas clássicas que têm se libertado das frias galerias e museus para tomarem às ruas ao redor do mundo, graças ao projeto Outings [Passeios, em tradução livre].

A ideia, pilotada pelo artista visual e cineasta francês Julien de Casabianca, 45, surgiu durante uma visita ao Museu do Louvre, há pouco mais de dois anos. “Tive um impulso para libertar uma moça de uma moldura para mostrá-la, lá fora, o novo mundo que ela não conhecia”, disse, por e-mail, ao UOL. “Começou como um desejo, uma empatia.”

O “regaste” não poderia ter sido mais simples. Ele sacou seu iPhone 5C e tirou uma foto da donzela. Correu para imprimir em uma impressora simples e colou a figura na parede do “mundo real”, usando a técnica simples do lambe-lambe – popular por aqui para anúncios de shows e ofertas esotéricas em postes.

No caso de Casabianca, o que ele vende é a ideia de aproximar a arte das pessoas e repensar espaços degradados da cidade. “É o ato de tomar o espaço público e dar beleza e nostalgia”, ele explica. “Museus não significam nada perto da realidade".

Julien de Casabianca no início do mês em Bordeaux, na França. Lambe-lambe em tamanho monumental no Museu de Belas Artes - Reprodução/Facebook/Julien de Casabianca - Reprodução/Facebook/Julien de Casabianca
Julien de Casabianca no início do mês em Bordeaux, na França. Lambe-lambe em tamanho monumental no Museu de Belas Artes
Imagem: Reprodução/Facebook/Julien de Casabianca

Mudando paisagens

Desde então, Casabianca tem viajado o mundo a convite de museus para “libertar” outros personagens em lugares como Medellín, na Colômbia, e Hamburgo, na Alemanha.

O mais difícil foi em Hong Kong, na China. “A cidade não tem paredes”, reclama. “São apenas vitrines e janelas por quilômetros e quilômetros. O mais fácil foi talvez Ramallah, na Palestina, porque as pessoas ficaram muito felizes de ver um estrangeiro na cidade”.

Em Los Angeles, chegou a ser detido pela polícia, que interpretou a intervenção como vandalismo. “Mas depois das súplicas dos vizinhos ao redor do carro da polícia, eles decidiram me liberar”, relembra. Acabou com os próprios policiais fotografando a obra no Instagram.

Em pouco tempo, as colaborações se multiplicaram e os lambe-lambe, inclusive, começam a tomar as ruas do Brasil de forma autônoma – algo que ele incentiva. “Qualquer pessoa pode fazê-lo."

O artista se anima ao imaginar o Brasil oficialmente na rota do projeto e disse que não vê a hora de conhecer São Paulo. “O Masp [Museu de Arte de São Paulo] seria um ótimo destino”, torce.

Em nota, o Masp agradeceu o interesse do artista. “Ele é bem-vindo a visitar o espaço do acervo, onde o museu exibe obras em domínio público, que podem ser fotografadas - desde que sem flash e sem tripé - e reproduzidas em seu projeto”.