Escondida num canto, estátua de Dilma é exposta em museu de cera de Gramado
Meio escondida em um canto, atrás de um carro antigo de luxo e ao lado da bandeira do Brasil, a ex-presidente Dilma Rousseff observa o movimento. Não, não é uma cena da nova vida da ex-presidente após o impeachment, mas, sim, a "rotina" de sua estátua de cera no Dreamland - Museu de Cera, em Gramado (RS). Ela chegou ao local em 2014, após a reeleição, e por enquanto não deve sair de lá. “Esta é uma boa pergunta: ‘O que vamos fazer com a Dilma?’ Colocar uma grade nela? Não sabemos ainda, nem temos previsão de retirá-la, só se o pessoal começar a reclamar muito”, afirma o gerente geral do local, Elodir Corrêa.
Ele conta que a escultura da petista chegou a ser removida por 15 dias no ano passado, em meio aos protestos contra o governo, que começaram em março. “Levamos a Dilma para o nosso ateliê, mas isso teve uma repercussão muito negativa nas redes sociais, tacharam o museu de partidário. Aí ela voltou, mas está lá no canto”, diz Corrêa. Exibida em seu auge na réplica do Salão Oval da Casa Branca, ao lado de Lula, Barack Obama e importantes ex-presidentes norte-americanos, Dilma agora fica no final da exposição, já quase na saída.
Além desse exemplar na serra gaúcha, há outro da petista na unidade do Dreamland em Foz do Iguaçu (PR). Mas nem sinal da estátua do ex-presidente Lula. “Decidimos tirá-lo porque ele não era mais presidente. Agora está lá no ateliê ‘descansando’, ficou aqui por quase dois anos. E não pretendemos trazer uma estátua do Temer, custa caro ficar fazendo tanto presidente”, avalia Corrêa. Cada escultura custa, em média, R$ 150 mil —R$ 100 mil só a cabeça, que vem da Europa, e mais R$ 50 mil o corpo, feito em Gramado.
Direto do Madame Tussauds
O Museu de Cera de Gramado começou com 36 estátuas, que foram arrematadas em leilão no próprio Madame Tussauds —famosa casa de esculturas de cera em Londres, com filiais pelo mundo—, e hoje reúne mais de cem peças. Nenhuma das originais continua exposta, pois já tinham vários anos de vida e a cera se deteriora com o tempo. “Ela escurece, enruga, vai se quebrando. Aí tem que trocar [o boneco], não dá para fazer manutenção nesse estágio. As peças já chegaram aqui não tão boas. Em geral, uma escultura de cera dura de 10 a 15 anos. Não tem como recuperá-las, isso não existe”, explica o gerente.
As novas cabeças ainda são feitas manualmente no mesmo ateliê que atende o Madame Tussauds. Levam de seis a oito meses para ficar prontas e chegar ao Brasil de avião. “Aí são mais dois meses para montar. O restante da peça —braços, mãos, roupas e acessórios— nós fazemos aqui. Mas todo o material é importado, como silicone e a cera que usamos nas mãos das estátuas. Já fizemos algumas inteiras aqui, como o Avatar, o Mr. Bean e o Bob Marley, mas foi apenas uma tentativa”, conta Côrrea. No ateliê, trabalham seis artistas.
Entre as figuras famosas que já foram embora estão Batman, Humphrey Bogart em “Casablanca”, professor Raimundo (personagem de Chico Anysio) e Lady Di. Algumas das peças que são retiradas do museu gaúcho e ainda estão em bom estado vão para Foz, revela o gerente. “De novidades este ano, temos Rihanna, Michael Jackson, [Sylvester] Stallone, 007 [Daniel Craig], [David] Beckham, Steve Jobs, Muhammad Ali, Scarlett Johansson, Nicole Kidman e Tom Cruise, entre outros”, enumera Corrêa. Já a cantora Amy Winehouse e a rainha Elizabeth foram repaginadas —esta última ganhou penteado, “joias” e uma estola de pele novos.
Para que a réplica da celebridade ou do personagem fique o mais próximo possível do original, o gerente diz que o museu envia fotos ao ateliê na Europa.
“Mas nem sempre fica perfeito, pois é um trabalho artesanal, às vezes dá certo e outras, não. É uma loteria, e não tem devolução. O Tom Cruise e o Elton John, por exemplo, não ficaram bons, mas o que a gente vai fazer? Não vamos jogar fora, é muito caro”, analisa.
Já a rainha e Steve Jobs são as esculturas de cera mais perfeitas do museu, na opinião do gerente. “Essas técnicas estão sendo aprimoradas, e a tendência é que as novas cabeças fiquem cada vez melhores e mais reais”, completa.
Neymar “estranho” e Snoop Dogg “perfeito”
Um grupo de quatro amigas que visitavam o museu quando a reportagem do UOL esteve lá parou para tirar foto em frente às estátuas dos jogadores de futebol (Pelé, Neymar Jr., Messi e Cristiano Ronaldo), imitando a pose do raio de Usain Bolt, que Neymar repetiu na final das Olimpíadas do Rio. “O Neymar está muito diferente, estranho. Já do Snoop Dogg eu gostei bastante, achei o olhar, o jeito dele muito parecidos. Também curti o Steve Jobs e o Elvis”, diz a fisioterapeuta carioca Nathália Nóbrega, 31, apoiada pela amiga Juliana Maia, 30.
Pelé foi chamado de “orelhudo” por um visitante, Robert Pattinson foi considerado “gordo” e Elton John, magro demais. Tom Cruise foi confundido com Steve Carell, mas a plaquinha com a identificação o salvou. E por que o colocaram ao lado da ex-mulher, Nicole Kidman, assim como Putin junto com os norte-americanos no Salão Oval? “Foi uma escolha. O Putin é um presidente a mais. O Mandela também já esteve ao lado dos americanos”, responde o gerente.
Outras estátuas não representam mais o atual momento de seus donos: alguns aparecem bem mais jovens, como Barack Obama, Madonna, Paul McCartney, Willie Nelson, Silvio Santos e Roberto Justus. Muhammad Ali, que morreu em junho, também está retratado em seu auge no boxe. Em alguns casos, como os de Madonna, Sean Connery, Harrison Ford, Mel Gibson e Jodie Foster, essa diferença de idade ocorre porque foram escolhidos determinados personagens que eles interpretaram ao longo da carreira. “O Mel Gibson já é o segundo, o primeiro era ele em ‘Coração Valente’. O Silvio mais jovem foi uma opção nossa, faz uns três anos que ele chegou”, conta Corrêa.
Primeiro da América Latina
Inaugurado no fim de 2009, o Museu de Cera de Gramado é considerado o primeiro do gênero na América Latina. Em 2013, foi criada a filial de Foz do Iguaçu, e outras duas abriram este ano: em Aparecida (SP), dedicada principalmente a figuras religiosas, e em Cancún, no México, com a Vila do Chaves. Para outubro, está previsto o lançamento da primeira unidade do grupo —administrado por empresários catarinenses— nos Estados Unidos, com um espaço em Boston destinado a todos os ex-presidentes americanos. Além disso, há um museu itinerante com cerca de 50 peças que percorrem vários shoppings pelo Brasil.
Junto dos exemplares de cera, existem outros feitos em fibra de vidro, como o robô R2-D2, de “Star Wars”, Homem de Ferro e Bob Esponja. Os clientes também podem dar opinião sobre o que querem ver no futuro, por meio de uma enquete na saída do museu. A entrada no Dreamland, que fica aberto diariamente, das 8h às 18h, custa R$ 50. Se o visitante preferir comprar um passaporte que dá direito a conhecer outros quatro museus da região, o valor total do pacote sai por R$ 140.
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