Topo

Coreógrafo das estrelas ensaia até no camarim com elenco de "Êta Mundo Bom"

O diretor Daniel Filho com o elenco do filme "É Fada" - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
O diretor Daniel Filho com o elenco do filme "É Fada"
Imagem: Reprodução/Instagram

Luna D'Alama

Colaboração para o UOL

28/07/2016 17h14

Quem vê o núcleo da boate Dancing em “Êta Mundo Bom!” não sabe que, antes de se "transformarem" em dançarinos desenvoltos, os atores tiveram que passar por um workshop de três meses para treinar passos de tango, bolero, maxixe, mambo e outros ritmos, antes do início das gravações. Quem comandou o laboratório – três vezes por semana, quatro horas por dia – foi o “coreógrafo das estrelas” Caio Nunes, há 30 anos na TV Globo, que passou seus conhecimentos aos atores Eriberto Leão, Débora Nascimento, Klebber Toledo, Rômulo Neto, Priscila Fantin, Rainer Cadete, Tarcísio Filho, Juliane Araújo, Maria Carol Rebello e a mais oito atores-bailarinos.

“Quando o elenco realmente começou a atuar, já tinha uma química enorme, um olho no olho, e isso ajudou muito nas cenas de dramaturgia. O workshop contribuiu para criar intimidade, contato físico. A condução da dança aproxima demais as pessoas”, explica Nunes.

Segundo ele, Débora Nascimento – que interpreta Filó – chegou com pouquíssimo conhecimento sobre dança, mas apresentou um “crescimento incrível, por seu alto nível de concentração”. “Já a Priscila Fantin teve mais facilidade porque, quando criança, ela era ginasta olímpica [também fez vários outros esportes e balé], então já tem uma musculatura mais forte e sólida”, avalia.

Êta Mundo Bom! - Artur Meninea/Divulgação/TV Globo - Artur Meninea/Divulgação/TV Globo
Priscila Fantin e Romulo Neto são dois dos atores de "Êta Mundo Bom!" que ensaiaram com Caio Nunes
Imagem: Artur Meninea/Divulgação/TV Globo

O coreógrafo ainda rasga elogios a Rainer Cadete, por sua “coordenação motora incrível”, e diz que Eriberto Leão teve um pouco mais de dificuldade durante o curso, mas conseguiu dançar tango muito bem com Débora em cena. “Ele fez divinamente uma coreografia num colégio, há alguns meses”, lembra.

Apesar de ser “acusado” por Klebber Toleto de tê-lo eliminado (com nota 8) na semifinal da “Dança dos Famosos”, no “Domingão do Faustão”, em 2013, Nunes pondera que o ator leva muito jeito para a dança.

A rotina do workshop de “Êta Mundo Bom!”, conta o coreógrafo, começava sempre com um aquecimento e alongamento, quando uns sofriam mais que os outros – “mas ninguém se queixava”. Em seguida, o foco era a prática dos estilos. “Convidei vários professores para passar técnicas específicas de cada dança, a maioria já eram profissionais que atuavam com o elenco de apoio. Aprendida a técnica, misturávamos os casais, todo mundo dançava entre si, pois, por ser um dancing, esse entrosamento era importante”, destaca Nunes, que contou com a colaboração dos coreógrafos Carla Martins, Rodrigo Ramalho e Leandro Azevedo no laboratório.

Durante a novela, Nunes continua encontrando os atores no set para coordenar cenas pontuais de dança. “Às vezes, tenho um dia ou dois para preparar os atores e dançarinos. Se a cena for muito curta, coreografamos no camarim mesmo, no dia da gravação. Já fiz isso com o Rainer e a Priscila. Também ensaiamos antes da caracterização, no intervalo pré-almoço, fazemos o que dá. Na semana passada, rodamos um tango da Juliane com o Klebber, foi muito bacana”, afirma Nunes, que continua seu trabalho com o elenco da novela das seis até o fim dela, no dia 26 de agosto.

O coreógrafo também transita por outros núcleos e cenários de “Êta Mundo Bom!”, como o da fazenda e o dos personagens de Giovanna Grigio e Arthur Aguiar. “Já preparei duas valsas para o casal e agora estou produzindo mais uma. O Arthur tem muita facilidade, aí consigo incluir elementos e ter um acabamento melhor”, conta.

E será que dá para avaliar os atores como ele faz como jurado da “Dança dos Famosos” e do Festival de Dança de Joinville? “Os parâmetros de julgamento são muito diferentes. No quadro do Faustão, por exemplo, analisamos uma dança específica a cada domingo, então seria injusto compará-los. Mas ser um bom profissional inclui disciplina, coordenação, musicalidade, estudo e humildade”, enumera.

Três danças em “É Fada”

Caio Nunes não coreografa só novelas (trabalhou também na primeira fase de “Velho Chico”): ele atua em séries e especiais da Globo, musicais, escolas de samba e filmes, como os sucessos de bilheteria “Se Eu Fosse Você” e “Os Normais".

Seu mais recente projeto no cinema é a comédia adolescente “É Fada”, adaptação do livro “Uma Fada Veio Me Visitar”, de Thalita Rebouças. Com produção de Daniel Filho e Kéfera Buchmann no papel principal, o longa tem estreia prevista para 6 de outubro.

Apesar de Kéfera ser a protagonista, Nunes não montou nenhuma coreografia com ela, mas com quatro amigas interpretadas por Klara Castanho, Bruna Griphao, Clara Tiezzi e Isabella Moreira – que já fez musicais como “Nine” e “A Noviça Rebelde”.

“A Klara é superesforçada, aplicada, tem muito talento e disciplina. Já a Bruna tem conhecimento sobre dança orgânica, coordenação, musicalidade. Com a Isabella também foi fácil, só para a Clara que ficou um pouco mais complicado”, revela Nunes.

Na coreografia de um concurso de dança, acabou usando no lugar das atrizes bailarinas profissionais, que agradaram mais ao diretor Daniel Filho. “Ele chegou a assistir a um ensaio das atrizes numa academia e aprovou o material. Mas, quando a gente foi rodar, ele achou que elas não estavam bem, não era aquilo que ele queria. Aí mudei toda a estrutura, produzi uma nova coreografia, ficamos ensaiando até de madrugada. No dia seguinte, na gravação, ele avaliou que ainda não estava bom. Aí usamos dublês e ele adorou”, conta Nunes.

“Não teve estresse. No fundo, é claro que as atrizes gostariam de mostrar aquilo que tinham ensaiado, mas entenderam que essa solução seria melhor para o produto. Os atores, em geral, não gostam de usar dublês, a maioria prefere fazer todas as cenas, mas acho que as quatro meninas não ficaram chateadas, foi bem tranquilo”, acredita.

De acordo com Nunes, quando se trabalha com um grande produtor e diretor como Daniel Filho, é preciso ter várias cartas na manga para o que ele pedir. “Não vi a edição final de ‘É Fada’, mas acredito que o espaço vai ser bom e que ele vá mesclar imagens das atrizes com as das dublês, pois gravou de vários ângulos diferentes. O público nem vai perceber essa ‘maquiagem’”, aposta.

Nas outras duas cenas de dança do longa, ele garante que as atrizes bailam de verdade. Para chegar ao resultado, o coreógrafo teve cerca de dez encontros com elas. “Eram aulas e laboratórios nos quais eu criava sequências para que, quando o filme começasse a rodar [de dezembro de 2015 a fevereiro], elas já estivessem bem”, conta Nunes.

35 anos em DVD

Para comemorar seus 35 anos de carreira, o coreógrafo lançou o DVD “Caio Nunes 35 In Rio” no Festival de Dança de Joinville (SC), no qual relembra os momentos mais memoráveis de sua trajetória e recebe depoimentos de amigos, parceiros de dança e artistas como Cláudia Raia, Carlinhos de Jesus, Jorge Fernando e Angélica (com quem trabalhou por mais de 15 anos na Manchete, no SBT e na Globo). Carlinhos de Jesus diz que, com ele, vai “até debaixo d'água”.

“Recolhi mais de 80 depoimentos e, infelizmente, não consegui colocar tudo no DVD. Mas estou reunindo todo o material no meu canal no YouTube”, conta. Nunes participa do festival em Joinville há 16 anos, como professor e jurado. Este ano, além de avaliar competidores, ministra cursos de modern jazz e jazz musical.