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Jogador mirim troca chuteiras no Palmeiras por sapatilhas de dança

João Vitor Palma apresenta solo de danças urbanas no Festival de Joinville de 2014 - Arquivo pessoal
João Vitor Palma apresenta solo de danças urbanas no Festival de Joinville de 2014 Imagem: Arquivo pessoal

Luna D'Alama

Colaboração para o UOL, em São Paulo

22/07/2016 06h00

Goleiro da categoria sub 11 do Palmeiras, o estudante João Vitor Palma, à época com 9 anos, tinha uma carreira promissora no futebol. Recebia ajuda de custo mensal do clube e ainda defendia a seleção da escola onde estudava. Até que conheceu as músicas e os passos de Michael Jackson, pelos quais se apaixonou. Decidiu mudar de carreira. A transição não foi fácil, mas hoje, aos 17 anos, coleciona diversos prêmios em festivais de dança. Uma história digna de Billy Elliot.

A influência de Michael Jackson foi essencial para as descobertas de João Vitor. "Eu não conhecia nada de música nem de dança, só curtia futebol. Então comecei a ver vídeos de shows e clipes, como 'Billie Jean', e a imitar alguns passos do Michael. Fiz tudo escondido porque meu pai jamais aceitaria. Eu era o orgulho dele, sempre íamos juntos aos treinos e jogos", conta.

João Vitor Palma solo de danças urbanas nos palcos abertos do Festival de Joinville em 2015 - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
João Vitor no Festival de Joinville em 2015
Imagem: Arquivo pessoal

Na época, a escola onde o jovem estudava fez uma homenagem a Michael Jackson e ele foi convidado pela professora de balé para participar do evento. "Aceitei na hora, mas sofri muito bullying. Além de jogador do Palmeiras, eu defendia a seleção do colégio. De repente, eu iria dançar? Achavam que era coisa de menina, perguntavam o que eu estava fazendo. Todo mundo levou um susto. Fui o único garoto a se apresentar. Meu pai nem apareceu, de vergonha. Mas minha mãe foi e até chorou de emoção ao me ver".

João Vitor conta que, depois da performance na escola, viu amigos se afastando dele. "Sofri muito, mas era o preço que eu teria que pagar pelo preconceito e pela falta de cultura de dança no país do futebol", conta. "Minha mãe foi quem me ajudou. No começo, ela dizia que aquilo não me levaria a nada, mas aí viu que eu tinha vontade de seguir carreira e me matriculou numa escola especializada. Hoje ela me leva para cima e para baixo, vai em todos os festivais comigo".

Ao abandonar o Palmeiras, ganhou uma bolsa integral da escola de dança e passou a participar de festivais. "Já tenho quase 20 troféus e medalhas", enumera. Em um torneio em Florianópolis em 2015, ele recebeu nota dez de todos os jurados por sua apresentação de danças urbanas. E no Festival de Dança de Joinville, do qual participa desde 2013, foi indicado a Bailarino Revelação em 2014, quando também conquistou o segundo lugar por um solo de danças urbanas. No ano passado ficou com a segunda colocação por um duo de balé neoclássico, no qual fez par com a melhor bailarina do evento naquele ano, Isabella Rodrigues.

Este ano, no Festival de Joinville, o bailarino sobe ao palco do Centreventos Cau Hansen no dia 28, com o conjunto sênior de jazz Grupo Roseli Rodrigues, do Raça Centro de Artes, de São Paulo. Ele também apresentará, entre os dias 22 e 26, um solo de dança de rua na Feira da Sapatilha e no Shopping Mueller de Joinville.

O coreógrafo - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
O coreógrafo Jhean Alex, do Raça Centro de Artes, e o bailarino João Vitor Palma
Imagem: Arquivo pessoal

Maior presença masculina

Ao pensar nas dificuldades que enfrentou desde que largou o futebol, o jovem paulistano diz que vê que seu amor pela dança sempre foi maior que os preconceitos. "Até os colegas que se afastaram de mim hoje vão me ver e aplaudir. Eles começaram a me respeitar e admirar quando perceberam que estou fazendo o que gosto e ainda ganhando dinheiro", diz ele, que é preparado pelo coreógrafo Jhean Alex.

Torcedor do São Paulo, João Vitor diz que ainda assiste a jogos de futebol, mas perdeu contato com os antigos companheiros de clube. "Cada um seguiu seu caminho. Mas fiz novos amigos, o pessoal da dança, que sempre me ajuda a crescer e a não desanimar nunca", completa ele, que pretende fazer faculdade de fisioterapia. "Mas não sei se neste momento. Ou eu danço agora, ou não danço mais [profissionalmente]", conta, acrescentando que seu sonho é estudar em Nova York ou em Los Angeles.

João Vitor acredita que a participação dos homens na dança está crescendo a cada ano. "Há muitos menininhos entrando, e cada vez mais cedo, isso é bem legal. Também acho que o preconceito, aos poucos, está diminuindo. Espero que, daqui a algum tempo, as pessoas entendam que a dança é como o futebol, uma atividade como qualquer outra. O mais importante é saber quem você é o que quer ser". 

João Vitor Palma - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
João Vitor Palma como goleiro do Palmeiras na categoria sub 11 em março de 2009
Imagem: Arquivo pessoal