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Entre a crise e os youtubers, humoristas de stand-up lutam para ficar de pé

O humorista de stand up Thiago Ventura em cena - Divulgação - Divulgação
Thiago Ventura faz rir com histórias das quebradas
Imagem: Divulgação

Felipe Branco Cruz

Do UOL, em São Paulo

05/05/2016 06h00

A carreira de comediante stand up já não é mais a mesma no Brasil como foi há dez anos, quando o estilo ganhou notoriedade com nomes como Rafinha Bastos, Danilo Gentili, Marcelo Mansfield, Oscar Filho, entre outros. Quem acompanha o cenário sabe que logo depois deles, outros artistas igualmente talentosos surgiram, mas não despontaram. Por quê?

Humoristas como Victor Camejo, Thiago Ventura, Afonso Padilha, Gigante Leo e Nigel Goodman lotam os bares que oferecem os shows de comédia stand up em São Paulo, além de apresentações solos no interior do país. Mas eles não têm a mesma influência nacional que youtubers como Kéfera Buchmann, Whindersson Nunes, Christian Figueiredo ou Felipe Castanhari.

Três fatores ajudam a entender a queda do interesse do público no stand up: dificuldade em se renovar, crise econômica e o surgimento de novos talentos do humor que produzem vídeos exclusivamente para a internet.

O humorista Gigante Leo, do Rio de Janeiro - Divulgação - Divulgação
O humorista Gigante Leo
Imagem: Divulgação
Rafinha Bastos e Marcelo Mansfield endossam o talento dos novos comediantes, mas lamentam o encolhimento do mercado da comédia em pé. “O Victor Camejo é um cara que domina a técnica do stand up e tem textos frescos”, diz Rafinha. “Já o Nigel Goodman tem um estilo tão próprio que os textos não funcionariam na boca de mais ninguém. Rápido, verborrágico e criativo”, elogia.

Para Mansfield, Goodman seria o nosso Groucho Marx. “Ele não fala para a plateia. Ele metralha. Gosto também do Igor Guimarães. Ele tem uma atitude performática em cena”, diz. “Acho que o stand up está muito fechado dentro de uma fórmula de dez anos atrás. Não se renovou como formato ou como show. Há novos comediantes bons e brilhantes, mas o público quer mais”, diz. “É difícil quebrar esse molde”.

Ítalo Gusso, empresário e sócio do bar Comedians, também percebeu uma mudança no mercado. “Quando os comediantes foram para o CQC, eles projetaram o stand up em todo o Brasil. Agora ele se estabilizou”, explica. Eu diria que o Comedians é o único bar com o formato de stand up no país. Existem outros lugares semelhantes, como em Curitiba, mas não é a mesma coisa”.

Para o empresário, é muito difícil um artista viver se manter no stand up atualmente. “Havia humoristas talentosos no passado que mudaram de rumo. Em São Paulo existe bares que oferecem comédia. Do tipo: quarta-feira tem futebol, quinta-feira tem stand up e sexta-feira tem sertanejo”.

Ítalo analisa que do mesmo modo que o stand up viveu um boom, os youtubers também estão vivendo e que a onda vai passar. “É verdade que o movimento no Comedians caiu. Além disso, o Brasil está em crise. As pessoas estão pensando duas vezes antes de sair de casa para gastar dinheiro”, explica. "Antes, eu organizava dez shows empresariais por mês de stand up. Agora não passam de quatro”.

O humorista Victor Camejo em cena - Divulgação - Divulgação
O humorista Victor Camejo foi elogiado por Rafinha Bastos
Imagem: Divulgação

Atropelados pela internet

O carioca Leonardo Reis, o Gigante Leo, 36, concorda que não está fácil viver do humor. Para ele, o cenário do stand up se restringiu em São Paulo, onde ainda existem bares dedicados ao estilo. Em outros lugares, o stand up é praticado esporadicamente em shows solos. “O boom ainda não aconteceu no Brasil”, analisa. “No Rio, temos que batalhar para conseguir espaço em teatros, já que a dinâmica daqui é diferente. Os bares tem o clima da praia e não do show de humor”.

Nigel Goodman, 30, elogiado por Rafinha e Mansfield, disse que o formato teve um boom há dez anos. “Bastava dizer que era stand up que a casa lotava. Agora o público está seletivo”, diz. “Muita gente entrou para o stand up porque achou que era o caminho mais rápido para a TV. Hoje em dia não é mais assim. Só ficou quem realmente gosta e tem talento”, explica.

Para Victor Camejo, 28, houve uma euforia no começo e agora se consolidou. “Sinto um amadurecimento grande na qualidade do texto. A velha piada de salão não funciona mais”, analisa.

No YouTube, a presença de Victor ainda é modesta. Ele tem quase 7 mil inscritos em seu canal e 461 mil visualizações. “O bom stand up é o sincero. O maior desafio continua sendo fazer rir”, diz. O comediante, no entanto, está frustrado e lamenta que o formato não tenha crescido mais. “A nossa geração foi pulada pela os youtubers. Tem muita gente boa, mas vai ser difícil alguém estourar”.

Na contramão, Thiago Ventura, 26, tem se destacado na internet. Embora se apresente como comediante de stand up, o número de assinantes de seu canal no YouTube está crescendo, já que suas apresentações parecem ser pensadas para viralizar. Ele tem 161 mil inscritos no seu canal com mais de 13 milhões de visualizações. Nascido em Taboão da Serra, ele divide apartamento em São Paulo com outras três promessas da comédia, o Afonso Padilha, o Nando Viana e o Renato Albani.

“Me apresento em média 5 vezes por semana. Viajo para shows no Espírito Santo, Paraná, Rio Grande do Sul”, conta. Ventura está otimista. “O stand up tem uma vantagem, porque só depende de você e de sua criatividade. Kéfera, Castanhari ou Christian não fazem sucesso só porque são youtubers. Eles fazem sucesso porque são talentosos. Acho que o mercado tem espaço para todo mundo”.