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Françoise Forton volta ao teatro com personagem que a lançou na TV em 1976

Miguel Arcanjo Prado

Colaboração para o UOL, em São Paulo

25/02/2016 07h01

Françoise Forton, 58, ainda era menina quando pisou no palco pela primeira vez. Começou com pé direito, 50 anos atrás, ao lado de Paulo Autran (1922-2007). A carioca de nascimento, na época morava, em Brasília, onde o ator estava em cartaz com sua peça e havia selecionado duas crianças para o elenco. "Sempre que me encontrava com o Paulo, ele se lembrava de meu começo ainda menininha ao lado dele em 'Édipo Rei'", conta atriz, com orgulho.

Foi deste modo que Françoise inaugurou uma trajetória de cinco décadas nos palcos, cinema e televisão, que é celebrada no musical "Estúpido Cupido", que estreia neste sábado (27), às 21h, no Teatro Gazeta, em São Paulo, após temporada carioca no ano passado.

O espetáculo, idealizado pela atriz, remete à primeira protagonista dela na TV. Foi na adolescência, incentivada por Glauce Rocha (1930-1971), atriz, professora de teatro e sua madrinha nas artes, que Françoise deixou a Brasília rumo ao Rio. "Queria viver de teatro", conta.

Mas logo foi descoberta pela televisão. "Foi só 'Estúpido Cupido' estrear que não consegui mais andar na rua", lembra-se sobre a repercussão do folhetim escrito por Mário Prata que estreou em 1976, há exatos 40 anos, sendo a última novela em preto e branco. A produção marcou época. "Até hoje as pessoas vêm falar de 'Estúpido Cupido' comigo nas ruas. E, nas festas, sempre tocam 'Estúpido Cupido' para eu dançar. Não me incomodo. É uma grande referência na minha vida".

Françoise Forton - Reprodução - Reprodução
Françoise Forton como Maria Tereza, a Tetê, em "Estúpido Cupido" (1976)
Imagem: Reprodução

Explosão de juventude

No musical, Françoise é Maria Tereza, a Tetê, mesmo nome da personagem que viveu na novela. Mas as semelhanças com o folhetim ficam por aí. O autor Flávio Marinho apenas tomou o nome da personagem e da trama como ponto de partida para criar uma nova história, na qual Tetê já é uma senhora que tem a chance de reviver a juventude passada na década de 1960, além de reencontrar um antigo amor, no caso interpretado por Luciano Szafir, agora com uma jovem namorada, papel de Carla Diaz.

"Gosto muito desta época, sobre a qual escrevo desde minha primeira peça, 'Splish Splash'. É uma época ingênua, anterior à ditadura militar, onde todos perdemos a inocência", diz Marinho, que reforça o distanciamento do enredo da novela de Mário Prata. "A única coincidência é o título, que é de uma música de 1958, e o nome da protagonista", diz.

Françoise conta que "a ideia da peça surgiu em uma roda de conversa com amigos". "Queria comemorar minha carreira, fazer algo que representasse de uma maneira tudo o que fiz". No começo, ficou receosa em fazer um musical tão dançante. "Não tenho idade para isso", foi o que pensou. Mas foi convencida a fazer um rabo de cavalo, a vestir uma saia rodada e a embarcar na ingenuidade adolescente da década que foi marcada por uma explosão de juventude. "Foi um desejo meu que o espetáculo fosse uma coisa alegre, brasileira. A peça fala de algo muito importante, que é a amizade".

Família e amigos ao redor

Mesmo com a experiência, Françoise confessa ficar tensa por conta da estreia paulistana, onde diz que o público é exigente. "O ator sempre fica temeroso. No dia em que falar que está tranquilo e tira de letra é porque algo está errado". Para diminuir a tensão, rodeou-se de pessoas nas quais confia, como o produtor teatral Eduardo Barata, com quem se casou. Para a direção, convocou Gilberto Grawronski, seu amigo desde 1992.

O diretor revela que foi uma oportunidade de se reencontrar com suas origens. "Venho do musical brasileiro do Luiz Antônio Martinez Corrêa (1950-1987), de quem fui assistente. Depois que ele morreu, me afastei dos musicais. Esta é uma volta aos musicais, com um olhar nosso e não importado da Broadway. Como minha formação foi nos Estados Unidos e aos 16 anos estava na entrega do Oscar, posso dizer sem sombras de dúvidas: a gente não precisa disso", alfineta.

Na bateria da banda do espetáculo está o filho de Françoise, Guilherme Forton Viotti. Ele afirma que é "filho de coxia", já que sempre acompanhou a mãe em suas peças desde pequenino. "Aprendi a operar luz e som ainda criança", diz. E elogia a mãe. "Ela é uma artista bem CDF, é sempre a primeira a chegar e a última a sair. Minha mãe é muito autocrítica, é uma trabalhadora. Ela está metendo as caras e está mandando muito bem".

Françoise admite ser perfeccionista. "Gostaria que o dia tivesse 48 horas para dar conta de tudo. Realmente, eu gosto muito de estudar, de fazer sempre o melhor", afirma.

Para a comemoração dos 50 anos de carreira ser completa, o saguão do Teatro Gazeta recebe a exposição gratuita "Françoise Forton - A Incansável Guerreira da Arte", que conta a trajetória artística da artista, com textos e fotos de seus principais trabalhos. "Estamos utilizando todas as mídias possíveis para contar a minha carreira. Estou muito feliz com tudo isso".

Serviço
"Estúpido Cupido"
Quando:
Sábado, 21h, domingo, 18h. Estreia dia 27 de fevereiro; até 20 de março
Onde: Teatro Gazeta (av. Paulista, 900, São Paulo)
Quanto: R$ 100
Classificação etária: 12 anos
Duração: 90 minutos
Informações: (11) 3253-4102