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De Beatles à Branca de Neve, zumbis invadem livros em histórias originais

Capa do livro "Zumbeatles - Paul Está Morto-vivo", de Alan Goldsher - Reprodução
Capa do livro "Zumbeatles - Paul Está Morto-vivo", de Alan Goldsher Imagem: Reprodução

Rodrigo Casarin

Colaboração para o UOL, em São Paulo

18/02/2016 07h00

Ainda criança, John Lennon tornou-se vítima do chamado Processo Liverpool, que transforma humanos em zumbis rápidos, inteligentes, atraentes e com poderes de hipnose. Resolveu que tentaria dominar o mundo por meio da música e transformou seus colegas Paul McCartney e George Harrison em mortos-vivos. Ringo Starr só escapou por ser um ninja de habilidades avançadas. E, juntos, formaram Os Beatles.

É baseado na história do quarteto de Liverpool que o escritor, jornalista e músico Alan Goldsher criou o livro "Zumbeatles - Paul Está Morto-vivo", que transforma a real trajetória da banda em uma aventura protagonizada por célebres monstros. Na história, outros nomes famosos surgem com poderes especiais, como o caçador de zumbis Mick Jagger e a poderosa ninja Yoko Ono. Também ajudam a construir a narrativa personagens como o jornalista Hunter Thompson, a rainha Elizabeth 2º e o cineasta Steven Spielberg.

"Orgulho e Preconceito e Zumbis" - Reprodução - Reprodução
"Orgulho e Preconceito e Zumbis": adaptação de Seth Grahame-Smith
Imagem: Reprodução

"Zumbeatles" é mais um título que com a temática de zumbis em um momento favorável aos mortos-vivos, indiscutivelmente. Na lista dos mais vendidos, por exemplo, "Diário de um Zumbi do Minecraft", de Herobrine Books, aparece em boas colocações. "Orgulho e Preconceito e Zumbis", um dos livros mais famosos dentre os que contam com as espécies, no qual Seth Grahame-Smith constrói uma paródia do clássico de Jane Austen, está prestes a estrear no cinema.

E é justamente o livro de Seth que serviu de inspiração para que Goldsher zumbificasse a história dos Beatles. "Foi uma daquelas ideias que temos às quatro da manhã. Eu tinha acabado de ler 'Orgulho e Preconceito e Zumbis' e adorei, e tudo ficou de alguma forma flutuando pela minha cabeça. Não diria que a ideia veio para mim em forma de sonho, mas também não quero dizer que não veio em forma de sonho", explica o escritor ao UOL.

O autor conta que todas as cenas presentes no livro foram baseadas na história real do grupo de Liverpool, ainda que em muitos casos tenha abusado da liberdade criativa. "A cena do aeroporto JFK [em Nova Iorque], onde testículos se separam dos zumbis e rolam pelo corredor, não reflete exatamente a primeira vez que eles estiveram nos Estados Unidos", brinca.

Para Goldsher, inserir zumbis na história contribui para que a criatividade seja colocada em prática. "Eles são uma tela em branco para o escritor. Vampiros e lobisomens, por exemplo, têm um perfil mitológico que precisa ser seguido, diferente dos zumbis, que não estão presos a nada". Como referência cita "Patient Zero", de Jonathan Maberry, seu livro de morto-vivo favorito. "É um perfeito exemplo de como utilizar os zumbis de maneira original. Os zumbis de Jonathan não são iguais a nenhum outro zumbi na literatura".

Histórias originais

Mas os zumbis carregam, sim, um rastro histórico. Surgiram como criaturas mitológicas provavelmente no Haiti, nos rituais de vodu, e são humanos que retornam a uma espécia de semi-vida depois de mortos. Já apareceram em inúmeras representações artísticas e, recentemente, voltaram a atrair a atenção das pessoas graças a produções de sucesso, como a série "The Walking Dead".

Na literatura, são exponentes livros com histórias de mortos-vivos como "Celular", de Stephen King, lançado em 2006, e "World War Z", de Max Brooks, lançado em 2003, que apresenta relatos de embates entre humanos e monstros escritos por um agente da Comissão Pós-Guerra --a obra recebeu uma bem-sucedida adaptação cinematográfica.

Mas nas prateleiras chamam mesmo atenção as abordagens criativas para as histórias das criaturas. É o caso, por exemplo, de "Zumbis Versus Unicórnios", antologia organizada por Holly Black e Justine Larbalestir com contos que confrontam os dois seres fantásticos assinados por autores de renome, como Cassandra Clare ("Os Instrumentos Mortais") e Meg Cabot ("A Noiva é Tamanho 42"). Outro com apelo original é o "O Guia de Sobrevivência a Ataque Zumbi", também de Max Brooks, que imagina avanços de mortos-vivos contra pessoas em diversos momentos da história da humanidade.

Fábio Yabu - Reprodução - Reprodução
Capa do livro "Branca dos Mortos e os Sete Zumbis", de Fábio Yabu
Imagem: Reprodução

Seguindo uma linha semelhante à de "Orgulho e Preconceito e Zumbis", o brasileiro Fábio Yabu recontou histórias clássicas em "Branca dos Mortos e os Sete Zumbis". Composta por 12 textos breves, a obra apresenta versões sombrias para clássicos dos contos de fadas, como Rapunzel, Cinderela e, evidentemente, Branca de Neve.

Os zumbis de Érico Veríssimo

Na literatura nacional eles também estão presentes em outras obras. Em "Incidente em Antares", Érico Veríssimo criou a história de uma cidade na qual, por conta de uma greve geral, os defuntos não são sepultados e então, sem estarem devidamente enterrados e longe de todos, retornam às ruas como mortos-vivos.

Outras histórias de zumbis criadas por autores nacionais são "As Crônicas dos Mortos", de Rodrigo de Oliveira, e "Terra Morta", de Tiago Toy. Nas obras, os monstros assolam não somente capitais como São Paulo, Porto Alegre, Florianópolis e Curitiba, mas também lugares do interior, como Jaboticabal, São José dos Campos e Canela. Quem sabe em um livro próximo os Beatles em forma de zumbis não façam uma turnê assustando os rincões do Brasil.