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Sob lona de circo, 1ª Festa do Peão de Barretos encheu saco de dinheiro

Jotabê Medeiros

Do UOL, em São Paulo

19/08/2015 07h00

Em 1955, vinte jovens da região de Barretos, no interior de SP, se reuniram em um bar com a intenção de criar uma festa do peão. Eles gostavam da agitação dos rodeios que existiam então, mas achavam que eram muito desorganizados, ligados principalmente às exposições de gado e sem critérios competitivos. Para participar da sua confraria, fixaram principalmente três critérios: tinha de ser maior de 21 anos, solteiro e "independente financeiramente".

Hoje, 60 anos depois, estão vivos apenas seis daqueles fundadores: Antônio Renato Prata, Horácio Tavares de Azevedo, Hosny “Nenê” Daher, José Brandão Tupynambá, Orlando Araújo, Paulo Pereira e Rubens Bernardo de Oliveira. Todos octogenários, estiveram juntos recentemente em uma festa para comemorar os 60 anos da festa.

Aos 86 anos, o agrônomo Antônio Renato Prata, que foi o primeiro presidente da associação, ainda se espanta com o tamanho do evento que criou, hoje o maior do gênero na América Latina. “Na primeira festa, a gente tinha muito medo de não emplacar. Compramos a lona do circo mas tava todo mundo receoso de não dar o resultado que a gente esperava”, conta.

O prêmio para o primeiro colocado no rodeio era um arreio com baldrana e pelego, cabeçada e capa de lã – na época, a capa de lã era um item obrigatório nas lides com o gado.

Prata, criador de gado de elite na região de Presidente Prudente, lembra que um dos fundadores, Abdo El Karim Gehma, ficou encarregado da bilheteria. Os restantes estavam envolvidos em outros afazeres e não tinham contato com ele, então não sabiam se havia sido proveitosa ou não a arrecadação. “Foi quando ele apareceu com um saco de sal nas costas, cheio de dinheiro. A gente gritou: Viva! Vamos em frente então, vamos fazer o próximo!”.

"Nós éramos independentes em todos os sentidos. Começamos esta festa para ajudar as instituições e hoje estamos emocionados com o tamanho que ela ficou. Meu recado é que as novas gerações continuem independentes e inovadoras, é isto que fará a festa durar mais 60 anos com este sucesso", lembra Rubens Bernardo de Oliveira, outro remanescente daquele grupo histórico.

Os Independentes - seis integrantes dos fundadores da Festa do Peão de Barretos - Diego Rodrigues/Divulgação - Diego Rodrigues/Divulgação
Os sobreviventes: Antônio Renato Prata, Horácio Tavares de Azevedo, Hosny "Nenê" Daher, José Brandão Tupynambá, Orlando Araújo, Paulo Pereira e Rubens Bernardo de Oliveira, integrantes da geração de fundadores do clube Os Independentes, que criou a Festa do Peão de Barretos
Imagem: Diego Rodrigues/Divulgação

Eles criaram a montaria com o arreio cutiano, hoje uma categoria dos rodeios, e também trouxeram a música e os rituais, como a queima do alho. “No começo, era só a música catira na praça da Cidade, naquele tempo. A gente leva uns violeiros: Tião Carreiro e Pardinho, Tonico e Tinoco”, conta Prata.

Outro fato que recordam é que não fizeram, na primeira edição da Festa do Peão, a montaria de touro. Era então algo incomum e difícil para os peões brasileiros. Mas, em 1960, entraram na corrida e hoje em dia estão exportando peões para montar nas competições americanas.

O atual presidente de Os Independentes, Jerônimo Muzetti, é do ramo de locação de veículos. Criança, já viva na região do Parque do Peão e sonhava com a festa. Hoje, administra uma estrutura que, mesmo quando não tem rodeio, demanda uma centena de pessoas para cuidar. “Toma o ano todo de trabalho. Hoje meu almoço foi pão com salame, o tempo fica curto para cuidar de tudo.”