Com Dragon Ball, revista "Shonen Jump" reinou absoluta nos anos 90
Com batalhas grandiosas e uma dose de humor, o anime japonês "Dragon Ball Z" virou febre mundial nos anos 1990 e agora volta às salas de cinema do Brasil. "Dragon Ball Z - O renascimento de Freeza" conta a história do guerreiro Son Goku, sua família e aliados na luta contra perigosas criaturas interessadas em invocar o poder ilimitado que resulta da união das misteriosas Esferas do Dragão.
Representando o maior centro produtor de quadrinhos no mundo, o Japão tem uma grande segmentação de mercado. Há quadrinhos para o público masculino e o feminino de diversas idades, segmentos escolares e profissionais, com os mais variados focos de interesse. Grandes almanaques apresentam séries que depois são compiladas posteriormente em edições de colecionador, predominantemente em preto e branco e com tiragens de centenas de milhares de exemplares em publicações mensais, quinzenais e até semanais.
Dentro desse vasto cenário, "Dragon Ball" se destacou e foi publicado na mais importante e mais vendida de todas as revistas: a "Shuukan Shonen Jump", basicamente uma leitura para garotos entre 12 a 16 anos. O termo "shuukan" quer dizer revista semanal, e "Shonen" (que significa "rapaz adolescente") indica a faixa etária para a qual é destinada. Mas há também muitas leitoras e adultos que acompanham suas séries favoritas por anos a fio.
Toda segunda-feira, milhões de japoneses vão comprar seu exemplar de "Shonen Jump" em revistarias e lojas de conveniência. O preço é bem convidativo: apenas 200 ienes, o equivalente a cerca de R$ 5 por um tijolão de mais de 400 páginas. A revista circula mais de 2,4 milhões de exemplares semanais mas, na primeira metade dos anos 1990 (época do auge de "Dragon Ball"), chegava a picos de mais de 6 milhões de exemplares vendidos de uma única edição. Com a internet, que abalou muito o mercado editorial, a publicação tem se modernizado, com um site oficial que disponibiliza HQs online e permite acompanhar títulos de qualquer parte do mundo.
A "Jump" é publicada pela editora Shueisha e existe desde 1968. O título possui uma filosofia editorial montada a partir de pesquisas entre os leitores e leva essa política muito a sério. Na Jump, as histórias devem normalmente destacar três elementos-chave: a amizade, o esforço e a vitória. Ou seja, os heróis devem valorizar seus amigos e lutar muito (geralmente sofrendo muito também) para conseguir seus objetivos, o que nem sempre inclui um final feliz. Atualmente, 21 séries estão sendo publicadas e existem regularmente concursos para novos talentos. Além disso, as séries menos populares em votações acabam sendo abreviadas para dar espaço para novos projetos.
Nos EUA, a "Shonen Jump" começou a sair como revista mensal no final de 2002 pela Viz Comics, causando grande alvoroço. Mesmo vendendo mais de 100 mil exemplares --mais do que a maioria dos gibis de super-heróis da Marvel e DC, foi reformulada em 2012 numa ousada aposta. Sua editora transformou a publicação mensal impressa em uma versão digital semanal, com agilidade para acompanhar a publicação de séries simultaneamente ao Japão. Depois essas séries são compiladas em volumes impressos, uma prática que já está consagrada por lá.
A "Shonen Jump" foi a publicação que lançou diversos personagens que acabaram também sendo lançados no Brasil ou tendo exibida por aqui sua versão em anime. Além do próprio "Dragon Ball", a lista de títulos oriundos da "Jump" lançados no Brasil inclui "Os Cavaleiros do Zodíaco", "Yu Yu Hakusho", "One Piece", "Samurai X", "Yu-Gi-Oh", "Naruto", "Gen Pés Descalços", "Death Note", "Video Girl Ai", "Hunter x Hunter", "Bakuman", "Bastard!!", "Enigma" e outros.
Produção incessante
As séries de baixa popularidade são abreviadas e canceladas, mas o inverso também ocorre. Autores de sucesso acabam sendo pressionados pelos editores para prolongar suas sagas por muito mais tempo do que gostariam. Com milhões de leitores, a revista tornou-se uma mídia poderosa e seus autores de maior renome são tratados como celebridades. Mas como o volume de trabalho é colossal, mesmo com assistentes auxiliando etapas da produção, o estresse dos autores é notório. Quando concluiu o mangá de "Dragon Ball" após ter trabalhado nela entre 1984 e 1995, o autor Akira Toriyama declarou: "Estou de volta ao mundo dos vivos". Naquele período, ele praticamente viveu apenas para produzir incessantemente os episódios semanais junto com seus assistentes do Bird Studio.
Na semana passada, um outro título famoso da "Jump", o mangá de aventura "One Piece", entrou para o "Guiness Book", o Livro dos Recordes Mundiais, como a série de quadrinhos mais vendida no mundo. Foram mais de 320 milhões de exemplares, em uma série que já foi compilada em 77 volumes e ainda não terminou. E se houvesse uma contagem específica para editoras de quadrinhos, dificilmente haveria competição, mesmo no Japão, tamanho o sucesso dos principais títulos da "Shonen Jump". A revista ainda tem edições especiais e títulos derivados, como a "V-Jump", que além de histórias, apresenta matérias sobre games ligados às franquias da empresa.
É verdade que mercado de quadrinhos no Japão já atravessou épocas melhores no aspecto criativo. E também existem muitos problemas decorrentes de quedas em vendas e licenciamento mas, com um megassucesso após o outro, a "Jump" tem se mantido firme em uma posição de liderança. Com suas tiragens milionárias e rígida pressão editorial, a "Shonen Jump" é um termômetro do mercado editorial e dita tendências.
Ela pode até depender de blockbusters e modismos pra se manter no topo, mas tem conseguido isso com temáticas e autores diferentes há vários anos. Por isso, o sucesso não é por acaso e há muitas obras de qualidade que resistem ao teste do tempo, como é o caso de "Dragon Ball", já um clássico daqueles que estão sempre se renovando.
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