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Nicette sobre Abujamra: "Meus filhos todos iniciaram a carreira com ele"

Fabíola Ortiz

Do UOL, em São Paulo

29/04/2015 13h22

Amiga de Antônio Abujamra há mais de 50 anos, a atriz Nicette Bruno relembrou a relação com ator e diretor durante seu velório. "Vimos as crianças crescerem, fizemos 14 peças juntos sendo dirigidas por ele. Vi meus filhos todos iniciarem a carreira com ele --a Beth, a Bárbara, o Paulinho", disse.

"O Abu é parte da nossa família. Paulo e eu lidávamos com Abu há mais de 50 anos, não só profissionalmente. As nossas famílias eram muito amigas. Temos uma forte ligação, ele jamais deixará de estar em nosso coração, estará sempre junto conosco através das lembranças boas que deixou. Tivemos momentos curiosos, divertidos e saudáveis que ele deixou", contou ela, acompanhada da filha, Beth Goulart.

Abujamra começou a relação profissional com Nicette Bruno e Paulo Goulart no fim dos anos 1960, quando dedicou-se ao Teatro Livre, empresa do casal onde realizou montagens consideradas ambiciosas, como "Os Últimos", de Máximo Gorki (1968), e "As Criada"s, de Jean Genet (1968). Os amigos retomam a parceria em 1980, com "Dona Rosita, a Solteira", de Federico García Lorca.

Nicette lembra que falou com o amigo pela última vez, há cerca de uma semana. "Eu disse pra ele que assim que eu tivesse oportunidade, viria para vê-lo. E agora consegui vir. Faz alguns meses que eu não vinha a São Paulo".

A atriz conta que Abujamra ficou muito abalado com a morte da mulher, Cibelia, a Belinha, há dois anos. "Depois que a Belinha morreu, ele foi dia a dia se entregando. Ele morreu sem sofrimento momentâneo, mas já vinha sofrendo desde a partida dela". E completou: "Deve estar uma festa lá em cima. Paulo e ele vão se encontrar com todos os outros diretores e atores que estão lá. A mensagem que ele deixa é a possibilidade de entender a vida".

Paulo Goulart Filho, o Paulinho, também lembrou com carinho do ator e diretor. "Para mim, ele era praticamente da família. Ele nos chamava de abominável família contente", contou, sorrindo. "O teatro e a televisão devem muito a ele. Esse é o legado que ele deixa".

Já Beth lembrou algumas das frases de efeito do ator e diretor, que era conhecido por suas "pérolas". "Ele tinha uma coleção de frases: a vida é uma causa perdida,  Abu!".

Para a atriz, Abujamra "fará muita falta como realizador e formador". "Ele influenciava muito jovens profissionais. Sempre havia jovens em volta dele por essa atitude contestadora e de ousadia. Sempre atraiu muitos jovens que queriam aprender com ele. Ele dava oportunidades, passava o compromisso com o prazer,  a responsabilidade de fazer o que você acredita."

Despedida

O ator e diretor Antônio Abujamra morreu em casa, nesta terça-feira (28), aos 82 anos, de infarto do miocárdio.

Amigos, familiares e colegas artistas prestaram suas últimas homenagens na noite de terça e manhã de quarta, no velório realizado no Teatro Sérgio Cardoso, em São Paulo. Entre eles, a atriz Guta Stresser e o diretor João Fonseca, da companhia Os Fodidos Privilegiados, fundada por Abujamra nos anos 1990, que fretaram uma van para vir do rio de Janeiro.

O músico André Abujamra, filho do ator e diretor, também falou sobre suas memórias do pai: "A vida é sua, estrague-a como quiser. Esta é a primeira coisa que lembro meu pai dizendo quando eu era pequeno. É a liberdade de ser quem você quiser ser da vida", disse.

Em uma cerimônia reservada, restrita a amigos e familiares, Antônio Abujamra foi cremado às 15h desta quarta (29) no Crematório Vila Alpina, zona leste de São Paulo.