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Novos formatos de graffiti em 3D testam os limites entre ilusão e realidade

Estefani Medeiros

Do UOL, em Berlim

05/03/2015 07h00

Para além da discussão do branco e dourado, artistas de rua têm se apropriado da ilusão de óptica para criar imagens que trapaceiam o olhar. Além de luz e sombra, preciosismo geométrico, formas anamórficas e efeitos tridimensionais ajudam a captar a atenção de quem passa pelas ruas. Na última década, a popularização dos celulares e das ferramentas digitais para criação e registro de imagens abriram um leque de possibilidades para experimentações interativas.

Quando o assunto é graffiti 3D, uma das mais antigas referências são as calçadas realistas pintadas pelo americano Kurt Wenner. Ex-ilustrador da NASA, Wenner se considera o inventor da pintura de rua no estilo, mas desde que levou suas inspirações renascentistas de quadros clássicos e tetos de igreja para o chão ordinário das calçadas no início dos anos 90, muito mudou. 

No Hemisfério Norte, grafiteiros integram o digital aos seus trabalhos de formas variadas. Existem artistas como o casal alemão Eva e Franco Mattes, o 1010 de Hamburgo, que estão desenvolvendo ‘performances digitais’, uma mistura de referências da cultura pop, como o jogo Counter-Strike, a vídeos e arte urbana. Nos muros, suas experimentações se estendem a portais geométricos hipnotizantes, um formato compartilhado pela jovem artista Fanette Guilloud, em Berlim.

Os franceses do Ella & Pytr, famosos por seus murais lúdicos de larga escala, nos últimos anos têm criado texturas e efeitos de profundidade em ambientes dúbios, que tem como foco provocar a imaginação do espectador. Mais tradicionais, o português Odeith e o alemão Daim exploram volume e sombras em pixações que saltam aos olhos.

Existem artistas como os espanhois ROA e Pejac, que não criam exclusivamente pensando em ilusão óptica, mas que se apropriam dela em algumas ocasiões. ROA aproveita as deficiências dos muros para criar uma impressão de vivo ou morto em seus animais asquerosos em preto e branco. Pejac, com paciência e um fino pincel, cria janelas discretas que se integram a paisagem e questionam os limites da realidade.

Ainda existem coletivos como o italiano Truly e artistas plásticos como o indiano Aakash Nihalani, que usam seus conhecimentos em design, arquitetura e perspectiva para transformar as ruas em playgrounds urbanos. Em um resumo da intenção, a dupla alemã Zebrating explica a ideia das ilusões: “qualquer um pode ver nossa arte enquanto está passando, mas a forma que desenhamos só as torna acessível para pessoas que enxergam com os olhos abertos.”