Em SP para abrir exposição de suas fotos, Jessica Lange diz odiar selfies
Jessica Lange está entre nós. A estrela de “American Horror Story”, vencedora de dois Oscar, três Emmy e cinco Globos de Ouro, veio a São Paulo para abrir uma exposição de fotos suas no MIS (Museu da Imagem e do Som), que começa na próxima quarta-feira (11).
Mas a atriz e fotógrafa, quem diria, tem horror que a fotografem. Isso tem lhe criado algumas situações constrangedoras, especialmente depois de ser transformada em ídolo adolescente por causa da série de terror, que no Brasil é exibida pelo canal pago FX.
“Eles me pedem para tirar selfies o tempo todo. E eu apenas digo: ‘Não, obrigada por pedir, mas eu nunca tiro fotos’”, comentou a atriz em uma conversa que teve com a reportagem do UOL no saguão do hotel onde está hospedada.
Originalmente intitulada "Unseen" (não visto, em tradução livre), a exposição "Jessica Lange: Fotógrafa" é composta por 135 fotografias e 12 folhas de contato, todas em preto e branco. Formada por imagens feitas nos últimos 20 anos com uma câmera Leica M6, que ela ganhou do ator, diretor e escritor Sam Shepard, as fotos são organizadas em duas séries: "Coisas que vejo" e "México".
“As fotografias de Jessica Lange não precisam ficar apinhadas de frases inúteis. Expressam o que é imperceptível”, diz Anne Morin, curadora da mostra.
Antes de a exposição ser aberta, no entanto, Jessica Lange participará de um debate com o público nesta terça, no MIS, a partir das 19h. Ao ser informada que muitos adolescentes fãs de “American Horror Story” tentaram se inscrever para o debate porque queriam ver “a suprema” (em referência à sua personagem Fiona, que é a bruxa suprema da terceira temporada), riu: “Que loucura!” Leia:
UOL – O que a distingue como fotógrafa?
Jessica Lange – Olha, não sei. Eu nunca sou muito boa ao falar de mim mesma desse jeito. Eu acho que eu me projeto para um outro tempo... O que acho fascinante sobre usar filmes para fotografar é capturar um momento etéreo e reduzi-lo a branco e preto, sombras e luz. Eu não estou interessada em manipular imagens. Não estou interessada em cores, em computação gráfica, nada disso. É um approach bem antiquado, na verdade...
Inclusive sua câmera...
Sim. Ainda fotografo com filmes...
Deve ser muito difícil para você fazer isso nos dias de hoje, em que tudo é eletrônico e digital...
Sim. E está ficando cada vez mais difícil, aflitivo até... Um dos filmes que gosto de usar, que é um filme de exposição rápida, para fotografar à noite, a Kodak não fabrica mais. Então eu tive que parar um trabalho, que ficaria descontínuo por causa disso. Alguns produtos químicos para revelação e alguns papéis de impressão não estão mais sendo feitos. Hoje em dia não é fácil de entrar em uma loja e pedir um filme. Ninguém mais tem isso.
Li que você adora fotografar o México, por quê? O que tem de especial naquele país que a inspira tanto?
O México é muito cinematográfico e teatral. Aquelas pequenas vilas. O jeito que as ruas são dispostas. As pessoas vivem nas ruas. Há uma vida a ser observada, bem diferente de Nova York, por exemplo. A coisa é que, em alguns lugares do mundo ainda existe essa vida sendo vivida em espaço aberto. Hoje a maior parte da vida acontece a portas fechadas. E você vai a um lugar desses e você observa famílias, namorados... Tudo está ali. E não é o mesmo em todos os lugares.
Você está aqui para uma exposição de fotos, mas você vetou a presença de fotógrafos aqui durante a entrevista...
Eu odeio ser fotografada... (risos)
Por quê?
Primeiro de tudo é porque agora tudo está muito facilmente disponível na internet. Facebook, Instagram. Agora tudo acontece em rede. Então quanto mais tudo isso se torna facilmente disponível, menos eu quero participar.
Mas agora você se tornou um ídolo adolescente por causa de “American Horror Story”. E eu suponho que muitos deles pedem para tirar selfies contigo o tempo todo, não?
Sempre!
O que você responde?
Eu digo: “Muito obrigado por pedir, mas eu nunca tiro fotos.” Algumas pessoas têm reações muito fortes sobre isso, mas o fato é que eu nunca me deixo fotografar.
Fora isso, esses jovens passaram a conhecer o trabalho de atrizes como você, Kathy Bates, Angela Bassett...
Sim, essas crianças não tinham ideia do que era meu trabalho...
O que mudou na sua relação com esse público desde então?
Me surpreende quando essas meninas chegam a mim e dizem: “Meu Deeeeeeeeusssss!” E eu fico pensando: “Quem elas pensam que eu sou?”
Que você é a bruxa suprema...
Sim! (risos) Eu acho muito fofo, na verdade. E algumas vezes elas dizem: “Eu acho que vou chorar!” E eu fico: “Oi?” Mas é um fenômeno! Porque para uma pessoa que veio do cinema como eu, o negócio funciona assim: você faz seu trabalho. Ele é bem recebido, ou não é bem recebido. As pessoas vão ao cinema, ou ao teatro, pagam um ingresso para ver. E acabou. Agora, a TV tem milhares de tentáculos. Ela penetra na casa das pessoas. Me pegou de surpresa.
É verdade que você não sabia o que eram índices de audiência?
Sim! Eles tiverem que me explicar! (risos)
Por que você acha que a série ficou tão popular?
Acho que é porque a série não é sobre horror somente. Definitivamente não é. Se você observa o trabalho do Ryan [Murphy, criador da série], você vê que ele gosta das subculturas, dos excluídos. Se você reparar cada uma das quatro temporadas que fizemos, ela é sobre um desses grupos marginalizados. Pessoas que não são aceitas. Por isso eu acho que a série conquista o público, que trata de grupos diferentes, mas que, de alguma forma, estão sob o mesmo tipo de opressão.
E o que despertou o seu interesse neste trabalho?
O que me interessou, desde o começo, foi quando Ryan Murphy me ligou, e eu nunca o tinha encontrado na vida. Eu não assisto TV e, portanto, não conhecia “Nip/Tuck” [série sobre dois cirurgiões plásticos que no Brasil foi exibida no SBT com o nome de “Estética”] nem “Glee”. E, quando ele começou a falar da série, ele foi muito sedutor. Ele começou a explicar a primeira personagem para mim, mas escondeu uma característica que sempre me interessou em uma personagem. E a primeira personagem... Na verdade, as quatro personagens têm essa linha que as une. Que é uma vida de decepção. E elas estão todas naquele ponto em que nada que você imaginou, nada que você planejou aconteceu. E todas elas estão lidando com isso. A base dessas personagens é essa. E você joga todas essas fragilidades para o público. Na verdade, todas essas personagens têm isso em comum com outra grande personagem que interpretei no palco, que é Blanche Dubois [da peça “Um Bonde Chamado Desejo”, que no cinema foi interpretada por Vivien Leigh]. Nunca ter tido a segurança de ser quem você quis ser. E cada uma dessas quatro personagens têm isso em certo grau. Esse desespero. E essa terrível solidão. E tem isso do Ryan. Ele me fez acreditar, quando conversou comigo. Ele me disse: “Vou escrever para você alguns dos melhores personagens que você já interpretou.” De alguma forma eu acreditei nisso...
E ele cumpriu?
Sim, ele cumpriu.
Muitas pessoas dizem que só assistem a série por sua causa...
Sério? Muito obrigada!
Você estará na quinta temporada ou a cena final de “Freak Show” foi sua despedida mesmo?
Foi minha despedida. Não posso. Já fiz o suficiente. (risos)
No México, você fotografou o Dia de los Muertos, e estamos a apenas alguns dias do Carnaval no Brasil. O que você gostaria de fotografar aqui?
Se eu pudesse ficar, eu definitivamente ficaria para fotografar o Carnaval. Eu não sou muito de fotografar cidades. Exceto pequenas comunidades ou bairros mais afastados. Eu gostaria de ir para o interior. Mas, quem sabe no ano que vem...
SERVIÇO
Exposição: "Jessica Lange: Fotógrafa"
Quando: de 11 de fevereiro a 5 de abril de 2015; de terças a sextas, das 12h às 21h; sábados, das 10h às 22h; domingos e feriados, das 11h às 20h
Onde: Av. Europa, 158, Jardim Europa, São Paulo (11) 2117 4777
Quanto: R$ 6,00 (inteira) e R$ 3,00 (meia)
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