Há 50 anos nos palcos, Baryshnikov diz que não fica 100% seguro em A Velha
O ator Willem Dafoe completa 59 anos nesta terça-feira (22) em solo brasileiro, mas, com uma temporada de 11 apresentações marcadas em São Paulo, diz que não terá tempo para celebrar o aniversário como deveria. "Estarei trabalhando e ensaiando o tempo todo", diz. "Quem sabe só um pouco de caipirinha hoje à noite", brinca o bailarino russo e colega Mikhail Baryshnikov, sentado ao seu lado durante uma entrevista coletiva nesta terça-feira (22) no Sesc Pinheiros, em São Paulo.
A dupla está no país para a turnê do espetáculo teatral "The Old Woman - A Velha", que tem direção do vanguardista Bob Wilson --ele, porém, não os acompanha na temporada em razão de compromissos em Nova York. Cenógrafo, coreógrafo, dramaturgo, Wilson é um dos maiores nomes do teatro experimental desde a década de 1960.
A peça de Wilson, com elementos do surrealismo e do teatro do absurdo, é uma adaptação da homônima da obra obscura do escritor russo Daniil Kharms (1905-1942), morto durante o regime stalinista. A narrativa aborda o dia a dia de um escritor que é assombrado pelo espírito de uma velha mulher.
De um lado está Baryshnikov que, aos 66 anos, figura como lenda da dança, tendo também atuado em alguns projetos televisivos nos últimos anos. De outro, o norte-americano Dafoe, com extenso currículo de atuações célebres em filmes de Oliver Stone, Lars Von Trier e Wes Anderson, e conhecido pelo grande público como vilão na trilogia do Homem-Aranha, na qual vive o Duende Verde.
Baryshnikov brincou que todo o acúmulo de experiências que carrega na bagagem, atuando artisticamente há mais de cinco décadas, não foi suficiente para ele se sentir 100% seguro em relação a "A Velha". "Eu canto por 30 segundos, então vocês conseguem imaginar quão assustador isso é para mim [risos]", diz. "Bob consegue extrair de nós o que há de mais profundo. Inclusive, em situações nas quais você não se sente nem um pouco confortável".
Obscuridade e humor
Esta é a segunda vez que Dafoe sobe ao palco sob o comando de Wilson. A primeira foi no espetáculo sobre a trajetória da artista Marina Abramovic, em que ela também atuava, intitulado "The Life and Death of Marina Abramovic" (2012). "A Marina se emocionava nos ensaios e o Bob falava: 'Marina, pare. Deixe que a plateia se emocione e não você!' [risos]. É o jeito que ele [Bob] tem de trabalhar. Ele não quer que o ator incorpore o que a plateia vai sentir".
A questão se relaciona ao fato de que, embora obscura, "The Old Woman - A Velha" conta com diversos elementos de humor em contraponto --ambos atores vivem dois palhaços. "Essa peça tem obscuridade e humor e é o público que interpretará o quanto de cada elemento há ali. São aspectos que se constroem com a plateia", acrescenta Baryshnikov.
Foi o bailarino, inclusive, que apresentou a obra de Kharms ao diretor, de quem é amigo há quase 20 anos. A dupla de tempos em tempos conversava sobre a possibilidade de um trabalho conjunto, porém as ideias nunca iam além de jantares para papear. "Enviei esse material a ele e aconteceu que ele adorou a obra. Começamos a trabalhar por uma semana com estudantes quase que num workshop. Fizemos algumas improvisações com o próprio Bob no papel e começamos a pensar no outro ator. E aí ele imediatamente mencionou o Willem".
Willem conta que não há necessidade de uma preparação para o início dos ensaios por conta da particularidade de Wilson na direção. "Ficamos no palco e o Bob nos entrega os materiais. Recebemos o texto, que tem um esboço de cenas e os personagens A e B. Perguntei a ele quem eu era, e ele disse que não sabia. Ele basicamente joga aquelas páginas e fala: 'Você, leia isso. E você, aquilo'. Ele é formal em suas estruturas. Só que, se por esse lado é bastante preciso, por outro somos nós atores que temos que encontrar as soluções para fazer a história funcionar", detalha Dafoe.
Com ingressos esgotados, "The Old Woman - A Velha" estreia na quinta-feira (24) e tem ainda sessões marcadas na capital paulista nos dias 25, 26, 27, 30 e 31 de julho e 1, 2, 3 e 4 de agosto. Depois de São Paulo, a turnê latino-americana chega ao Rio de Janeiro nos dias 8, 9 e 10 de agosto na Cidade das Artes.
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